O Conselho de Ministros aprovou na semana passada o plano de renovação da frota da empresa de transporte fluvial, que inclui a compra de dez novos barcos, devendo o primeiro catamarã entrar em circulação a partir do final do próximo ano.

A Transtejo assegura as ligações fluviais entre o Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão e Lisboa, enquanto a Soflusa é responsável por ligar o Barreiro à capital.

Em declarações à agência Lusa, Rui Garcia saudou a abertura do concurso, lembrando que “era mais do que tempo de se recuperar o enorme atraso e os anos de abandono” a que foram voltados os transportes fluviais na região de Lisboa, mas lamentou a demora do processo.

“É um investimento que é anunciado agora, mas que se vai estender ao longo de vários anos. Vai demorar bastante tempo até que sejam repostas condições aceitáveis da operação da Transtejo”, afirmou.

Segundo Rui Garcia, os problemas a curto prazo não ficam resolvidos, já que “a perspetiva que o Governo aponta é para uma entrega de barcos que se vai prolongar ao longo de cinco, seis anos”.

Apesar de considerar que se trata de “um passo na direção certa”, há a necessidade de “rapidamente se tomar medidas, quer de aquisição de barcos, quer na sua entrega, para que seja [feita] o mais rápido possível”.

O presidente da Associação de Municípios de Setúbal lembrou ainda que os 33 milhões de euros programados para a reparação e manutenção são também fundamentais para que “ocorram menos paragens, que têm sido tão frequentes”.

Apesar “da boa notícia”, Rui Garcia lembrou que o anúncio agora feito ainda significa que “a empresa continuará a enfrentar graves dificuldades por um longo período” e desejou que o investimento “se concretizasse mais rapidamente”.

Em abril do ano passado, o ministro do Ambiente e da Transição Energética, Matos Fernandes, que tutela os transportes urbanos, anunciava que iria ser lançado até ao final do verão o concurso para aquisição dos navios, que deveriam estar disponíveis até 2022.

Na semana passada, o secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Mendes, disse à Lusa que o Governo está a projetar a entrega do primeiro navio “no final de 2020 ou no início de 2021, em princípio no final de 2020”.

“Em 2021 a entrega de três navios e, depois, os seis seguintes serão ao ritmo de dois a cada ano. Significa que, em 2024, teremos os dez navios entregues”, referiu.

O concurso será lançado nas próximas semanas, acrescentou José Mendes, apontando para um investimento de 57 milhões de euros para a aquisição dos barcos e mais de cerca de 33 milhões para a “grande manutenção”, sendo um “investimento global que será da ordem dos 90 milhões de euros”.

Os novos catamarãs, com capacidade para transportar entre 400 e 450 passageiros, serão movidos a gás natural, estimando-se uma diminuição para metade das emissões de dióxido de carbono, uma descida de mais de 5 mil toneladas de dióxido de carbono por ano.

A compra das novas embarcações será acompanhada pelas “grandes reparações” de manutenção até 2035, permitindo “que um novo ciclo de serviço público de mobilidade na travessia do Tejo seja um ciclo de qualidade e de eficiência”, assinalou o secretário de Estado.

Em protesto contra a constante supressão de carreiras, em dezembro, dezenas de pessoas invadiram o único navio que estava disponível no cais do Seixal (distrito de Setúbal), estando avariado o outro que faz a ligação a Lisboa.

José Mendes assumiu os problemas que existem atualmente na travessia do Tejo, sublinhando que “resultam essencialmente de se tratar de uma frota muito velha”, com navios entre 20 e 40 anos.

“Esta é uma decisão histórica porque, se excluirmos dois ‘ferry-boats’, há cerca de 20 anos que não se compravam navios. A retoma deste investimento é histórica”, declarou.