O presidente do PSD afirmou hoje que o partido está a trabalhar para “ganhar as próximas eleições europeias” e defendeu ser preciso “acordar Portugal para a falta de competência” da liderança de António Costa.

Na fase final da sua intervenção, o líder do PSD fez questão de responder ao repto deixado no sábado pelo antigo presidente social-democrata Durão Barroso sobre a importância de vencer as europeias do próximo ano para voltar à governação.

Montenegro começou por se referir às regionais da Madeira de 24 de setembro, fixando a meta de vencer com maioria absoluta.

“E o dr. Durão Barroso também disse e muito bem que o próximo grande desafio são as eleições europeias. Sim, estamos aqui para ganhar as próximas eleições europeias”, afirmou, no primeiro grande aplauso da sala, com gritos ‘PSD, PSD’.

O líder do PSD frisou que o PSD quer vencer essas eleições, pelos seus candidatos e projetos, mas também “em contraponto com os outros” partidos.

“Estes oito anos valeram a pena? Qual foi a evolução de Portugal? (…) Tivemos dois anos de pandemia a que se seguiram dois anos de pandemónio”, disse.

Montenegro lembrou as 13 demissões no Governo e imaginou o que se diria na comunicação social se ele próprio tivesse tido apenas três demissões na direção do PSD.

“É preciso acordar Portugal para a falta de competência de liderança do dr. António Costa como primeiro-ministro. Nós estamos a dar provas de que somos capazes de liderar um Governo com mais competência e mais resultados do que o PS”, afirmou.

Na sua intervenção, Montenegro deixou rasgados elogios a Durão Barroso e recordou o seu percurso político, lembrando que não venceu quando pela primeira vez foi candidato à liderança do PSD, nem venceu as primeiras eleições que disputou (em 1999), mas insistiu, manteve-se como líder da oposição e foi primeiro-ministro.

E mesmo sobre a sua decisão de deixar o cargo para presidir à Comissão Europeia, o líder do PSD considerou que “foi um grande embaixador de Portugal”.

“Nós no PSD temos orgulho daquilo que ele foi cá e também do que ele foi na Europa”, salientou.

Sobre o estilo de oposição que tem feito – de “causas e projetos e não de barulho” - Montenegro notou uma novidade nos últimos tempos que considera provar que “o PSD é a última alternativa” ao Governo do PS.

“Não se fala de outra coisa na política portuguesa que não seja do PSD. Verifiquem, dos partidos da esquerda à extrema-esquerda, aos partidos da direita e da extrema-direita e ao partido do Governo, quase todas as suas intervenções nos últimos dias foram não para propor o que defendem mas para comentarem o que defende o PSD”, apontou.

Montenegro ironizou que também no PSD existe um Plano de Recuperação e Resiliência, mas, “ao contrário do do Governo”, terá frutos “na recuperação do partido e na sua abertura à sociedade”.

“É de recuperação e de resiliência, para os que têm dúvidas quero deixar aqui uma garantia: somos daqueles que têm resiliência, porque a recuperação não se faz de um dia para o outro”, avisou.

"Castigar ainda mais a classe média"

No encerramento da 19.ª edição da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide (Portalegre), Luís Montenegro voltou ao tema que marcou a Festa do Pontal do partido, a meio de agosto, e na qual apresentou cinco propostas ao nível do IRS, incluindo uma redução ainda este ano das taxas do IRS em todos os escalões, à exceção do último, que seria financiada pelo excedente da receita fiscal.

“Ainda esta semana, até 31 de julho, o Estado cobrou a mais 4.500 milhões de euros de impostos do que no ano passado. A previsão era de 2.300 milhões de euros, há uma almofada, há um excedente à volta dos 2.200 milhões de euros”, afirmou.

Como o PSD calculou que a baixa de IRS que defende tem um custo de 1.200 milhões de euros, Montenegro deixou um aviso.

“Se o dr. António Costa e o PS não aprovarem esta proposta, o dr. António Costa e o PS estão simplesmente a castigar ainda mais a classe média portuguesa”, disse.

O líder do PSD antecipou até como será feita essa recusa: “Vão dizer que vão descer mais os impostos do que o PSD queria para o ano, no qual até há eleições europeias”.

“Mas isso é conversa fiada, porque a folga de que falamos é de 2023, os impostos que queremos baixar são em 2023 e há condições para o fazer de forma imediata”, disse.

Nesta matéria, apelidou ainda o primeiro-ministro de habilidoso, lamentando que, muitas vezes, esta característica seja confundida com ser “um político hábil”.

“É de um habilidoso o que ele vai fazer: não vai aceitar a proposta do PSD e vai dizer ao país que para o ano vai fazer uma ainda maior. Mas o PSD está a propor para este ano e para o ano proporá para 2024”, disse.

Além dos impostos, Montenegro dedicou também parte da sua intervenção à habitação, defendendo que o pacote do Governo - “vetado e muito bem pelo Presidente da República” – “não tem um único apoiante de relevo na sociedade portuguesa”.

“Digam-me um, digam-me um português com intervenção de relevo na área que diga que está aqui um programa como deve ser”, criticou.

O líder do PSD considerou que o veto do Presidente da República foi até “uma oportunidade” para o Governo corrigir o diploma, lembrando que, nesse mesmo dia, se disponibilizou a colocar a equipa que fez as propostas sociais-democratas para o setor a trabalhar com o executivo e a “construir uma reforma do mercado da habitação para década e meia”.

“Qual foi a resposta do PS? Vamos confirmar no parlamento o que o Presidente da República rejeitou. Isto tem dois nomes: arrogância e um que é ainda pior, é mesmo perder o futuro”, criticou.

Antes, o líder da JSD, Alexandre Poço, tinha desafiado o primeiro-ministro a demitir a ministra da Habitação.

“Se a sua ministra não consegue garantir mais casas, então comece a pensar que é hora de desalojar Marina Gonçalves do Ministério da Habitação”, desafiou.

O líder da JSD vai também propor ao partido que adote uma proposta de oferecer ‘cheques-bebés’ de oito mil euros, metade pagos na altura do nascimento e outra metade aos 18 anos.

A Universidade de Verão

A Universidade de Verão decorre desde segunda-feira, um dia depois do antigo presidente do PSD Luís Marques Mendes ter admitido a sua disponibilidade para uma candidatura presidencial, palavras que acabaram por ter ecos ao longo de toda a semana.

O ex-líder do CDS-PP Paulo Portas foi um dos oradores convidados e, questionado sobre o tema, defendeu que a prioridade do espaço não socialista deve ser construir uma alternativa para suceder ao primeiro-ministro António Costa e não procurar um sucessor para o Presidente da República.

O próprio Marcelo Rebelo de Sousa participou na Universidade de Verão do PSD – a primeira vez em formato presencial desde que foi eleito para Belém – e acabou por resumir o seu legado e dizer o que espera de um futuro sucessor.

“O que eu gostaria de deixar, eu acho que provavelmente aquilo que talvez deixe, é ter sido um presidente de proximidade (…) Espero que os meus sucessores não o percam e, naquilo que eu falhei, façam muito melhor do que eu”, desejou.

Luís Montenegro deslocou-se também na quarta-feira a Castelo de Vide para ouvir a conferência do Presidente da República dedicada à Ucrânia, e não escapou a perguntas sobre o tema.

“Não é nem o tempo nem o lugar para falar das eleições presidenciais. Conto falar disso mais ou menos daqui a dois anos”, afirmou, contrapondo que o partido está “empenhadíssimo” em ser oposição ao Governo e “vencer as próximas eleições legislativas”

A fechar a semana, o antigo primeiro-ministro Durão Barroso passou também pela Universidade de Verão do PSD e, voltando a afastar uma candidatura presidencial em 2026, preferiu deixar metas paras as eleições europeias já do próximo ano, que definiu como “prioridade imediata” do partido.

* Com Lusa