“As necessidades são muitas e para nós é frustrante ir a uma casa e ver a realidade, que a nossa comunidade na Venezuela está a passar muito mal”, disse.
Francisco Soares falava à agência Lusa em Caracas, durante a inauguração do primeiro “Hogar de los Ángeles Lusitanos” (Lar dos Anjos Lusitanos), um programa da ONG, que conta com o apoio da comunidade portuguesa local e de Lisboa.
“A comunidade portuguesa não está a passar bem, não está a fazer férias aqui (…) há necessidades muito grandes e para nós é complicado, porque os recursos são finitos, ficamos curtos para ajudar perante toda a necessidade”, frisou.
Francisco Soares instou os portugueses na Venezuela e em Portugal a ajudar os compatriotas.
“Não estão obrigados a fazê-lo connosco (…) mas façam algo pela comunidade que tanto necessita”, vincou.
Por outro lado, explicou que uma vez por mês saem às ruas de Caracas à procura de pessoas sem-abrigo, deixando o convite a voluntários que queiram participar nesta missão.
Sobre o novo lar, foi “um projeto que surgiu com muitas dificuldades e vicissitudes (…) mas a casa já está feita, há um lugar extra para receber os carenciados”.
“Anteriormente, víamos pessoas em situações de vulnerabilidade e não as podíamos atender, não as podíamos levar para a nossa casa e tínhamos que alugar uma habitação (…) e agora temos 16 quartos e camas para 32 pessoas”, disse.
Segundo Francisco Soares, na ONG prestam cuidados médicos primários, há um banco de roupa e há diversas atividades, entre elas o programa recreativo “Caminhando com os Anjos”, que inclui passeios programados.
“Agora temos um lugar para receber quem mora na rua e quem não tem onde ficar quando vem desde outro estado para tramitar documentos ou fazer um tratamento”, disse.
Em declarações à Lusa, o embaixador de Portugal na Venezuela, João Pedro Fins do Lago, sublinhou que o lar nasceu “de um sonho do movimento associativo português, neste caso de Francisco Soares e da “Regala Una Sonrisa” e do programa Ángeles Lusitanos”.
“O sonho de erguer uma casa abrigo para portugueses e lusodescendentes carenciados. Uma casa que por um dia, uma noite, um curto espaço de tempo, dê abrigo, carinho e a atenção que necessita quem está em situação de rua”, disse.
Segundo o diplomata, o lar “marca um ponto importante na história da comunidade portuguesa”.
“A embaixada, a rede consular é extremamente atenta e ativa na Venezuela, mas o braço do Estado só chega até determinado ponto. O resto do caminho é feito por uma comunidade que é solidária, que se entreajuda e que se organiza através do movimento associativo”, frisou.
Segundo o diplomata o lar “é a prova de que o movimento associativo está ligado, atento às pessoas e identifica as suas necessidades”.
“A comunidade portuguesa é muito vasta na Venezuela. É uma comunidade grande, de trabalho, de perfeita integração e de muito sucesso. Mas tem franjas e nessas franjas há pessoas que necessitam de atenção”, disse, sublinhando o “trabalho com muito mérito” que é feito pelo movimento associativo e o Estado português.
No lar, a receber ajuda desde há quase três meses está Fernando Manuel Leite da Silva, um emigrante de Faro, licenciado em hotelaria e turismo.
“Cheguei a uma situação de rua. Já dormia na rua e comia do lixo”, explicou à lusa, precisando que foi enviado pelo consulado para a ONG.
“A minha mãe morreu e fiquei sozinho. Comecei a beber, primeiro um dia sim e um dia não, e depois bebia duas garrafas de rum todos os dias. Cheguei a uma situação extrema de pobreza. Já não tomava banho e comia do lixo”, explicou.
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