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Paul McCartney lançou a sua primeira gravação inédita em cinco anos de uma forma pouco convencional: uma faixa quase silenciosa. Com apenas dois minutos e 45 segundos de duração, a gravação carece de melodias cativantes ou letras evocativas, apresentando apenas um sussurro contínuo e alguns sons dispersos. Esta iniciativa faz parte de uma campanha de protesto da indústria musical contra o alegado roubo de direitos de autor por empresas de inteligência artificial (IA), diz o The Guardian.
A faixa, intitulada apenas como “bonus track”, integra o lado B do álbum "Is This What We Want?", que inclui outras gravações igualmente silenciosas e será lançado em vinil ainda este mês. McCartney, de 83 anos e atualmente em digressão pela América do Norte, utiliza esta intervenção sonora para ilustrar o risco de que a exploração indevida do trabalho criativo dos músicos por modelos de IA possa silenciar a música original e comprometer todo o ecossistema criativo.
Ed Newton-Rex, compositor e ativista em defesa dos direitos de autor, explicou ao The Guardian que “é preocupante que o governo esteja a atender mais aos interesses das empresas tecnológicas norte-americanas do que aos dos criativos britânicos”. Outros artistas envolvidos na campanha incluem Sam Fender, Kate Bush, Hans Zimmer e os Pet Shop Boys.
A composição de McCartney começa com 55 segundos de ruído de fita, seguidos por 15 segundos de sons indeterminados — como alguém a abrir uma porta e a deslocar-se —, culminando com 80 segundos de assobio pontuado por pequenos ruídos antes de um desvanecimento final. O músico defende que a IA não deve substituir a criatividade humana, alertando que “se a IA eliminar isso, seria algo muito triste, particularmente para os jovens compositores e autores, para quem esta pode ser a única forma de construir uma carreira”.
Kate Bush, outra participante do álbum, questiona: “Na música do futuro, as nossas vozes serão ouvidas?”. Já Max Richter, compositor, acrescenta que as propostas do governo britânico “empobreceriam os criadores, favorecendo quem automatiza a criatividade em detrimento de quem escreve música, literatura ou produz arte”.
O governo do Reino Unido tem vindo a consultar alterações à lei de direitos de autor, incluindo a possibilidade de permitir que empresas de IA realizem “mineração de texto” sem autorização expressa dos criadores, exceto se estes optarem por não participar. Esta decisão surge num contexto em que a indústria criativa contribui com 125 mil milhões de libras para a economia britânica anualmente, enquanto as empresas tecnológicas norte-americanas anunciam investimentos de mais de 30 mil milhões de libras, sobretudo em centros de dados, e pressionam contra regulamentações mais rigorosas.
A nova legislação sobre IA e direitos de autor não deverá ser debatida no Parlamento antes de 2026. Entretanto, o governo tem assinado acordos com empresas como OpenAI, Google e Anthropic para promover a adopção de IA na administração pública e na economia em geral. A pressão externa também se faz sentir: Donald Trump defendeu a utilização irrestrita de conteúdos protegidos por direitos de autor por IA, alertando governos internacionais para não criarem barreiras à atividade destas empresas.
Beeban Kidron, cineasta e membro independente da câmara alta, afirmou ao The Guardian que “o governo está a tentar agradar a ambos os lados e não convence nenhum”, acrescentando que demonstrou ser incapaz de governar em prol dos criadores. Por sua vez, a secretária de Estado para Ciência, Inovação e Tecnologia, Liz Kendall, disse estar empenhada em encontrar um equilíbrio entre empresas de IA e criativos britânicos, reconhecendo a importância de ambos os sectores para o sucesso do país.
Um porta-voz do governo comentou ainda que as medidas visam proteger os interesses dos cidadãos e empresas do Reino Unido, promovendo a inovação em IA e assegurando salvaguardas para os criadores: “Estamos a ouvir empresas britânicas e globais, assim como especialistas de fora do setor, para capturar a mais ampla variedade de opiniões na definição dos próximos passos”.
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