David Sambongo referia-se, em declarações à agência Lusa, sobre um incidente registado com uma delegação do grupo parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição, na província do Cuando Cubango, onde se encontravam em jornadas municipais.
O grupo parlamentar da UNITA, num comunicado, referiu que a caravana “foi alvo de um ataque perpetrado por supostas milícias do regime”, o que resultou num total de nove feridos, dois desaparecidos e danos materiais a nove das oito viaturas da coluna de deputados, informação contrariada pela polícia, que apontou para quatro feridos.
Inicialmente a UNITA chegou a falar em um morto em resultado do incidente, mas depois corrigiu a informação.
Segundo o analista, a intolerância política em Angola é ainda um grande problema, muito devido à falta de literacia política, um trabalho que deve ser desempenhado pela elite política do país, concretamente os partidos na oposição e no poder.
“É preciso trabalhar, estamos a vir de um conflito civil e volvidos 22 anos ainda temos este problema. Este país só vai conseguir lograr, aproveitar as potencialidades, em termos de recursos naturais e também em termos de funcionamento geopolítico, geoestratégico se tivermos esta capacidade, esta clareza de dizermos que nós somos efetivamente um Estado democrático de direito, que aceitamos a diferença”, considerou.
O analista sublinhou que os atos de intolerância política ocorrem maioritariamente em zonas com muitas dificuldades de condições sociais básicas, como energia, saneamento básico, água e escolas, o que faz com que as pessoas “sejam instrumentalizadas”.
“Sobretudo pelo partido no poder, estamos a falar no MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola], os que estão lá no interior”, disse David Sambongo, frisando que as pessoas “às vezes são instrumentalizadas com programas públicos e até financiadas por organizações internacionais”.
“Estamos a falar do programa de distribuição social monetário “kwenda”. A governação a dizer que está a distribuir esse dinheiro, quando é uma medida de proteção social” e “a maior parte desta verba foi alocada pelo Banco Mundial”.
Para o também professor e escritor angolano, é preciso esclarecer os cidadãos que como o partido no poder tem legitimidade para governar, também os partidos políticos com assento parlamentar têm legitimidade para fazer oposição.
David Sambongo realçou que nestes casos de intolerância política assiste-se a “um silêncio, um vazio, por parte do Comandante-em-Chefe, do chefe de Estado, do titular do poder executivo”, referindo-se ao Presidente da República.
“O Presidente João Lourenço deve pronunciar-se sobre esta situação, com voz de comando enquanto o Presidente da República, [que] acaba sendo o centro do sistema político angolano (…), por isso tem responsabilidade acrescida e também é líder do partido com maior assento parlamentar, que governa Angola há quase meio século, deve vir a terreiro desencorajar, condenar veementemente esses tipos de prática”, realçou.
Sobre o assunto, o governo provincial do Cuando Cubango disse que os factos não correspondem à verdade, considerando “uma autêntica encenação”, referindo a versão das autoridades locais de que a caravana de deputados foi apedrejada por alguns populares na sede da comuna do Longa apenas na manhã de sexta-feira e que não foi solicitada escolta da polícia.
“Tão logo tomou conhecimento, foram acionados os serviços do comando provincial da Polícia Nacional, que fez deslocar ao local um dispositivo policial, tendo constatado que se tratou de um ato protagonizado por cidadãos comuns não filiados a qualquer formação política, que arremessaram apenas objetos sólidos à referida caravana”, explicou o governo local, acrescentando que a polícia esta a “trabalhar arduamente” para identificar e responsabilizar os autores da ação.
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