“Manifesto os mais profundos sentimentos de pesar ao Presidente JES, pela morte trágica de seu genro Sindika Dokolo, cuja notícia surpreendeu a sociedade angolana”, escreveu João Lourenço na sua conta do Twitter.
O empresário congolês, casado com a filha de José Eduardo dos Santos, morreu na quinta-feira no Dubai, aos 48 anos, num acidente de mergulho.
Tanto Sindika Dokolo como Isabel dos Santos eram visados em processos na justiça angolana, acusados de lesarem o erário público em milhões de dólares, e afirmaram ser vítimas de perseguição política.
A empresária afirmou várias vezes que o Presidente João Lourenço tinha feito uma escolha seletiva na luta contra a corrupção, direcionada contra a família do ex-presidente.
Sindika Dokolo era conhecido por ser um dos rostos da oposição da República Democrática do Congo (RDCongo) e um dos promotores do regresso da arte africana, exposta na Europa, a África, reparando aquilo que considerava ser uma consequência da colonização do continente.
Uma das principais reações foi do principal opositor ao Presidente da RDCongo nas eleições presidenciais de 2018, Martin Fayulu, que se manifestou “consternado” com a notícia da “morte súbita” do empresário.
“Esteve ao nosso lado no combate pela dignidade do povo congolês. Guardo dele a memória de um militante alerta, animado e pleno de esperança. As orações vão para a sua família e para os seus próximos”, escreveu na plataforma Twitter o líder do Partido do Compromisso com a Cidadania e Desenvolvimento.
Nascido no antigo Zaire, a 16 de maio de 1972 (atual República Democrática do Congo) Sindika Dokolo frequentou o liceu Saint Louis de Gonzague, em Paris, e prosseguiu os estudos na Universidade Paris Vi Pierre et Marie Curie, iniciando a sua coleção de arte quando tinha 15 anos.
Em outubro do ano passado, a sua Fundação comprou e repatriou para Angola 20 peças de arte que tinham sido levadas de museus angolanos para coleções estrangeiras e preparou-se para entregar ao museu de Kinshasa a primeira peça congolesa recuperada, segundo uma entrevista concedida na altura à agência Lusa.
Em Portugal, a Fundação adquiriu a casa do cineasta português Manoel de Oliveira, no Porto, mas, até ao momento, o espaço permanece por dinamizar.
Crítico dos quase 20 anos do regime do Presidente Joseph Kabila na República Democrática do Congo, Sindika Dokolo esteve cerca de cinco anos no exílio, devido aos processos movidos contra si em Kinshasa, tendo regressado apenas em maio de 2019, já depois da chegada ao poder de Félix Tshisekedi, que tomou posse como chefe de Estado congolês em janeiro.
Tal como Isabel dos Santos, os negócios de Sindika Dokolo estavam a ser investigados pela justiça angolana, na sequência das revelações do Consórcio Internacional de Jornalistas que ficaram conhecidas como "Luanda Leaks".
Sindika Dokolo e a mulher são suspeitos de terem lesado o Estado angolano em milhões de dólares e foram alvo de arresto de bens e participações sociais em empresas, em dezembro do ano passado, por determinação do Tribunal Provincial de Luanda.
Além da justiça angolana, Sindika Dokolo estava também na mira das autoridades holandesas, que abriram uma investigação sobre a Exem Energy, sociedade através da qual Sindika Dokolo e Isabel dos Santos são donos de uma posição indireta de 6% na Galp Energia.
Numa entrevista concedida em junho à rádio angolana MFM, Sindika Dokolo afirmava que Isabel dos Santos era “vítima de perseguição política” e garantia que o facto de se ter casado com a filha do ex-Chefe de Estado angolano não lhe permitiu aceder a facilidades aos negócios.
Assumiu ainda que o casal estaria a tentar negociar com as autoridades angolanas um acordo para pôr fim aos processos de que são alvo.
A 29 de janeiro de 2020, a De Grisogono, empresa de joias de Sindika Doikolo anunciou que entrou em falência, depois de não ter conseguido encontrar um comprador.
Entre os processos investigados em Angola está o financiamento com dinheiros públicos da empresa pública de diamantes, Sodiam (200 milhões de dólares, 180 milhões de euros] para a compra da joalharia.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou, no dia de 19 de janeiro, mais de 715 mil ficheiros, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
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