“Devemos ser intratáveis”, por estar a proibir as ‘abaya’ e os ‘qamis’, ironizou Macron, três dias antes do início do ano letivo em França, ocasião em que esta interdição terá início, em nome do secularismo.

O líder francês — de visita a uma escola profissional, em Orange, no sul de França – assegurou que o Governo não aceitará o uso daquela indumentária, apelando ao laicismo nas salas de aulas, admitindo que “haverá casos (…) de negligência talvez, mas muitos para tentar desafiar o sistema republicano”.

Na quinta-feira à noite, o ministro francês da Educação, Gabriel Attal, enviou um memorando aos diretores das escolas especificando que o uso da ‘abaya’ e dos ‘qamis’ “manifesta ostensivamente a filiação religiosa no ambiente escolar e não pode ser tolerado”.

Hoje, Macron justificou aquela decisão, explicando que “os professores e dirigentes escolares nunca devem ser deixados sozinhos face às pressões que sofrem ou aos desafios que existem nesta matéria”.

O líder francês disse que os dirigentes escolares não podem ser abandonados quando estão “a ser ameaçados”, assegurando que “o Estado, a República estarão sempre ao seu lado”.

Macron prometeu que “nas escolas secundárias ou faculdades mais sensíveis, será destacado pessoal específico, juntamente com os diretores e professores, para os apoiar e também para iniciar um diálogo necessário com as famílias e os alunos”.

O anúncio sobre a proibição da ‘abaya’ e dos ‘gamis’ surgiu no mês passado, poucos dias depois da publicação nos ‘media’ franceses, das conclusões de um relatório dos serviços estatais que revela uma explosão do que descrevem como “ataques ao laicismo” nas escolas.

No ano letivo 2022-2023, foram feitas 4.710 denúncias sobre essa matéria, contrastando com 2.167, menos de metade, no ano anterior, 2021-2022.

A questão do uso da ‘abaya’, que não é um símbolo religioso muçulmano segundo o Conselho Francês para o Culto Muçulmano (CFCM), já tinha sido objeto de uma circular do Ministério da Educação em novembro último.

Nessa circular, este género de indumentária muçulmana foi considerado traje que pode ser proibido se for “usado de forma a manifestar ostensivamente uma filiação religiosa”.