Uma mulher turca que partilhou um artigo do The Guardian nas redes sociais sobre uma mulher que morreu em combate com as forças curdas na Síria foi condenada duas vezes por “partilhar propaganda terrorista” num tribunal de Istambul, conta o jornal britânico.

“Sou basicamente uma cidadã comum, não há razão para atrair qualquer atenção especial. Esta é a parte perturbadora”, afirmou Peri Pamir, investigadora reformada de 71 anos.

O artigo, de 2018, contava a história de Anna Campbell, que foi morta enquanto lutava com as forças curdas na cidade sitiada de Afrin.

Campbell era membro de uma milícia exclusivamente feminina das Unidades de Proteção Popular, conhecidas como YPG, um elemento essencial das forças democráticas sírias apoiadas pelos EUA e pelo Reino Unido que lutam contra os militantes do Estado Islâmico na Síria.

Na sua publicação no Facebook, com uma ligação para o artigo, Pamir chamou a Campbell “uma jovem idealista” e refletiu sobre a batalha entre o Estado Islâmico e os combatentes curdos. “Que ideologia achas que vai ganhar no final?”, perguntou.

Um mês depois de ter publicado o artigo, Pamir recebeu uma notificação do Ministério Público local, que informava a mulher de que estava a ser investigada pelo crime de “criação de propaganda para uma organização terrorista”.

Um relatório da polícia descreveu em pormenor uma longa investigação das suas contas nas redes sociais, destacando a sua publicação sobre Campbell e o artigo do The Guardian.

De recordar que a Turquia considera as YPG e outros grupos militantes curdos, como o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), como organizações terroristas.

Nos últimos anos, as autoridades turcas acusaram centenas de milhares de cidadãos turcos de publicar conteúdos nas redes sociais que constituem “atos de terrorismo”, incluindo 132 310 pessoas só no ano passado.