No final de uma reunião com o Presidente da República, Rui Rio disse que não foi discutida a necessidade de uma construção alternativa política ao Governo “nem à direita, nem à esquerda”.
“Falámos sobre o panorama político em geral (…) Isso é uma coisa que acontecerá, se tudo for normal, em 2023”, afirmou.
Questionado se viu como uma crítica à sua liderança o pedido do Presidente da República, há cerca de uma semana, aos representantes do setor privado para que lutem por protagonistas políticos mais fortes que lhes deem eco em momentos eleitorais, Rio diz não ter entendido dessa forma.
“Eu não vi, mas tem de perguntar ao Presidente da República. Admito que seja, o que interpreto é que pretenderá o senhor Presidente da República - não é que me tenha dito lá dentro - que as associações patronais sejam mais interventivas na defesa dos seus interesses”, afirmou.
Em relação aos partidos políticos, defendeu, por vezes até podem ser considerados “acutilantes demais, quando estão a dizer mal de tudo permanentemente”.
“Na minha ótica não há défice de oposição ao Governo. Relativamente aos parceiros sociais, poderá o senhor Presidente da República querer mais competitividade”, afirmou, dizendo não ter ouvido na reunião de cerca de uma hora “análise nenhuma” que o pudesse ter melindrado por parte de Marcelo Rebelo de Sousa.
Questionado sobre o convite que lhe foi dirigido pelo líder do Chega para uma plataforma de convergência, Rio disse não ter recebido qualquer carta e recusou-se a fazer qualquer “comentário público” sobre este partido e o seu líder, André Ventura.
Na reunião, Rio apontou como principal tema discutido o PRR, reiterando as críticas à prioridade dada ao setor público sobre as empresas, e recordando que o PSD apresentou “por três vezes” propostas alternativas.
“O Governo nunca nos ouviu, inclusive cheguei a ouvir o primeiro-ministro a dizer que o PSD não tinha ideias. Dá-me ideia que não as leu ou não lhes ligou nenhuma. O primeiro-ministro e o Governo estão por conta e risco de um PRR que quiseram desenhar sozinhos”, criticou, apontando que apenas 25% das verbas deste plano é destinada às empresas.
Questionado sobre o próximo Orçamento do Estado, o líder do PSD disse não ter sido tema debatido com o Presidente da República, mas fez questão de salientar “a posição de completa independência” do partido nesta matéria.
“Podiam as circunstâncias ser outras, porque podíamos ter de jogar entre a nossa convicção e o equilíbrio do país. Mas, há um ano, o primeiro-ministro foi claríssimo quando disse que, se para um Orçamento ser aprovado precisasse do PSD, ele se demitia”, referiu, considerando que “tanto faz” a votação dos sociais-democratas e que o documento terá de ser negociado à esquerda.
O líder do PSD deixou um alerta quanto à exigência de BE e PCP de revisão da legislação laboral, considerando que pode comprometer ainda mais a competitividade do país.
Por isso, defendeu, a aposta devia ser no setor privado para que se crie “melhor emprego e mais bem remunerado”, apesar de “não ter efeitos imediatos do ponto de vista eleitoral”, ao contrário de “aparecer uma ponte, uma estrada ou um hospital”.
O Presidente da República termina hoje a audição de todos os partidos com assento parlamentar, que iniciou na segunda-feira.
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