“Foi uma bênção que caiu do céu” e, “neste momento, as disponibilidades hídricas são maiores para a agricultura, mas não são ilimitadas”, disse à agência Lusa André Matoso, diretor da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Alentejo, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Com a seca, continuou, o abastecimento humano, considerado prioritário, não estava em risco, mas, se a região tivesse “continuado naquele cenário” que estava a ter “até final de fevereiro, certamente haveria zonas em que não se poderia regar”.
As “grandes povoações”, afirmou, “não iriam ficar sem água para abastecimento”, mas a agricultura e o abeberamento de gado iriam sofrer “uma repercussão muito grande”.
“Essa catástrofe [para a qual] estávamos a caminhar, felizmente, está completamente ultrapassada. Esta água está reservada, está armazenada e, agora, é saber geri-la e usá-la com parcimónia”, continuando “a regar como se houvesse pouca para que ela dure mais tempo”, frisou.
André Matoso explicou à Lusa que a queda de precipitação verificada desde o dia 28 de fevereiro e ao longo deste mês não foi “normal” no Alentejo e teve um efeito “particularmente importante” para a região, que está “em seca desde 2015”.
“Em 10 dias deste mês, choveram dois meses de março seguidos na região”, ou seja, “choveu o dobro do que chove num mês de março normal”, indicou, acrescentando, também como exemplo, que na zona de Portalegre, no dia 28 de fevereiro, quando começou a mudança climática, “choveu mais do que em todo o mês de janeiro”.
Este março “húmido” e com “precipitação muito abundante”, destacou, foi “muito importante para tudo”, não só “para o abastecimento humano, regadio, abeberamento do gado e fauna cinegética”, mas também “do ponto de vista ecológico, das linhas de água, da vegetação e dos ecossistemas ribeirinhos”.
As albufeiras alentejanas tiveram, obviamente, uma evolução “muito favorável”, assinalou o responsável regional da APA, aludindo à Barragem do Monte Novo (Évora), cujo nível “nem chegava aos 30% no fim de fevereiro e que atingiu o máximo da sua capacidade, a 10 de março”, encontrando-se, desde essa data, “a descarregar”.
A albufeira do Monte da Rocha, em Ourique (Beja), que “era a situação mais gravosa”, com 8% de água em fevereiro, está, esta semana, “com 26,4%”, um nível também superior ao do ano passado, na mesma altura, quando atingia os 20%, disse.
Outra das barragens da região mais afetadas pela seca, a da Vigia, em Redondo (Évora), acrescentou, estava a 15% da sua capacidade, em fevereiro, e tem hoje “quase 43% de armazenamento”, o que é igualmente superior ao mês homólogo de 2017 (35,7%).
“O Alqueva também ganhou muita água”, atingindo quase os 80%, e “o mesmo aconteceu com as albufeiras de Pego do Altar e Vale do Gaio”, no concelho de Alcácer do Sal (Setúbal), que “já estão com mais de 50% das suas reservas hídricas”, indicou André Matoso.
Ainda assim, o diretor da ARH insistiu nos alertas: “Pelo facto de as albufeiras e os aquíferos estarem a evoluir favoravelmente, não podemos esquecer o passado recente. Agora que a água cá está, temos de a preservar”.
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