Há dois anos que os contentores do Village Underground, em Lisboa, acolhem a Skoola, onde o método de ensino é “um pouco diferente das outras escolas mais tradicionais de música”, diz a diretora da academia, Mariana Duarte Silva.

“É um ensino não-formal, um ensino mais horizontal, mais orgânico, onde não há professor e aluno, mas sim um conjunto de participantes que quer aprender a fazer música e um conjunto de facilitadores, artistas, que vão facilitando esse processo”, descreve a também fundadora do Village Underground Lisboa.

Dirigida à faixa etária entre os 10 e os 18 anos, a Skoola estima já ter chegado, nas diversas atividades que realiza e em que participa, a 400 jovens.

“É uma escola aberta a todos”, que também se diferencia “porque recebe jovens de todos os contextos sociais”, realça a diretora.

O relatório de acompanhamento da Skoola feito recentemente por dois investigadores da Escola Superior de Educação de Lisboa, Abel Arez e Manon Marques, destaca a “valorização da diversidade” do projeto.

“Todos podem aprender a fazer música, uns pagam e outros não. Os que pagam as mensalidades são jovens cujos pais ou encarregados de educação o podem fazer e sabem que estão a contribuir para aquele que não pode”, explica.

O rácio dos que não podem pagar ainda é maior e a sustentabilidade financeira do projeto passa por aumentar o número de pagantes para pelo menos metade.

Durante estes primeiros dois anos de funcionamento, o projeto contou com financiamento do Estado e de investidores sociais, mas desde julho que está mais por sua conta.

A Skoola vai agora apostar na angariação de fundos junto de empresas e fundações que considerem relevante o investimento em projetos que levam a cultura aos jovens.

A Skoola “não é bem uma escola de música”, nota Fábio, considerando-a “inspiradora” e “uma das melhores experiências” que já viveu.

Ali, com a ajuda dos facilitadores e o “apoio emocional” dos colegas, Fábio percebeu que ainda tem “muito para aprender” e que “a música não é só cantar ou fazer sons, é mais [do que isso], é ter uma imaginação própria”.

Samantha, conhecida artisticamente como Muleca XIII, é uma das facilitadoras que mais recentemente se juntou à equipa da Skoola.

De origem brasileira e a viver em Portugal há nove anos, a rapper assume-se como “arte-educadora” e diz que a experiência proporcionada pela Skoola “é uma coisa bem linda”.

Entre os skoolers, uns gostam mais de criar letras, outros preferem produzir instrumentais e melodias, outros gostam de cantar e de pegar em instrumentos, numa “convivência muito boa”.

Além de Muleca XIII, a equipa de facilitadores conta com músicos como Pedro Coquenão (Batida), Bruno Mushug (Octa Push), Maze (rapper), Tânia Lopes (Homens da Luta) ou Filipe Sousa (Quest Ensemble).

O método seguido pela Skoola “é uma forma de aprender com um quê de liberdade”, que passa por “só mostrar o caminho dentro do que cada um quer fazer”, refere Muleca XIII, que, prestes a lançar um álbum em nome próprio, se revê nos jovens com quem tem trabalhado.

“É indiferente se eles vão trabalhar com música quando forem adultos ou não, porque este processo é fundamental, como pessoa, todo o mundo pode usufruir [dele]”, destaca Muleca XIII, arriscando que vão sair “alguns artistas” do grupo de skoolers que está a acompanhar.

Ainda sem saber se fará da música algo mais profissional na vida adulta, Fábio já conseguiu “criar muita coisa” na Skoola, onde gosta sobretudo de improvisar letras.

“Esta escola não é bem uma escola, mas um ambiente de convívio”, onde se “aprende mais”, nomeadamente sobre “a opinião dos outros”, distingue.

Fábio não se considera “muito sociável” e diz que a Skoola o ajudou “a socializar”, a “não sentir tanta vergonha” de si próprio e a “poder mostrar aos outros coisas” que nem sequer sabia que podia fazer.

No fundo, a Skoola “é aquele primeiro passo no mundo da música, em que eles podem experimentar o que quiserem e aí descobrirem o seu caminho”, resume Mariana Duarte Silva.

“Não é tanto o género de música que transforma e tem impacto nestes jovens, é mais este método, mais horizontal, mais próximo, mais ligado à comunidade artística, em que cada um é ouvido dentro do grupo, cada um é considerado artista”, realça.

Desde que se lembra que gosta de rap, graffiti e skate, mas Muleca XIII nunca teve a oportunidade de entrar numa “escola” deste tipo e teve de enfrentar o “preconceito”, na família e na escola, por fazer parte da chamada cultura urbana.

Recuando à sua adolescência, consegue dizer que “a arte urbana tomou muito espaço” e fica contente com isso. “Mais do que espaço, respeito”, nota.

Antes “marginalizada”, a cultura urbana é agora “considerada uma arte também”, realça Muleca XIII, partilhando:

“Hoje em dia está muito melhor. A gente tem de aproveitar essa onda, a gente está na crista da onda e parece que essa onda só sobe, só sobe… Para mim, é uma coisa linda, foi o que eu desejei quando era mais nova. Estou a ver muitas coisas se realizando, alguns sonhos se realizando”.