Segundo a acusação, a investigação conduzida pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa ficou incompleta, por não lhe trem sido fornecidas informações sobre interceções telefónicas a André Geraldes, realizadas no âmbito de outro processo, que poderiam ser relevantes para este inquérito.
André Geraldes é um dos arguidos numa investigação a cargo da Polícia Judiciária do Porto e dirigida por um magistrado do MP sobre suspeitas de tentativa de viciação de resultados em jogos de andebol e futebol, tendo como objetivo o alegado favorecimento do Sporting.
"Apesar das insistências verbais e agora por escrito, nunca nos foi facultada qualquer informação sobre as interceções telefónicas ao alvo André Geraldes", lê-se no despacho assinado pela procuradora Cândida Vilar.
O MP considera que, mesmo que André Geraldes tenha apagado conversações que o pudessem relacionar com a preparação do ataque de 15 de maio e com outros ataques aos jogadores do Sporting, "estando o telefone móvel intercetado, poderão existir conversas e mensagens que seriam relevantes para a prova nos presentes autos".
Para suportar a sua convicção, o MP diz que Bruno Jacinto, um dos 38 arguidos que estão em prisão preventiva e que era oficial de ligação aos adeptos à data dos factos, declarou que tinha avisado André Geraldes por mensagem de que elementos da claque Juventude Leonina iam à Academia do Sporting, em Alcochete.
Não tendo recebido informação da PJ, nem tendo conseguido extrair conteúdos supostamente apagados do telemóvel de Bruno Jacinto, que também não esclareceu o tipo de mensagem enviada, o MP considerou que "não existem indícios fortes de que André Geraldes sabia da preparação do ataque à Academia de Alcochete e contribuiu para a sua execução", pelo que não foi constituído como arguido.
Nesta investigação, em que foram constituídos 44 arguidos, incluindo ex-presidente do clube Bruno de Carvalho, acusado de ser autor moral do ataque, o MP identificou ainda um suspeito que fugiu para o estrangeiro logo após as primeiras detenções e contra o qual foi emitido um mandado de detenção internacional.
O suspeito poderá ser julgado no estrangeiro e por isso não foi constituído arguido nem foi deduzida acusação contra ele.
Neste processo, em que Bruno de Carvalho é acusado de 98 crimes, o MP designou 78 testemunhas, entre as quais toda a equipa do Sporting de então, bem como a equipa técnica que era comandada por Jorge Jesus e o atual presidente do clube, Frederico Varandas, que à data era o diretor clínico 'leonino'.
Bruno de Carvalho, Mustafá (líder da Juventude Leonina) e Bruno Jacinto estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, 19 de ofensa à integridade física qualificada, 38 de sequestro, um de detenção de arma proibida e crimes que são classificados como terrorismo, não quantificados. Mustafá está também acusado de um crime de tráfico de droga.
Aos primeiros 41 arguidos, que participaram diretamente no ataque, o MP imputa-lhes a coautoria de crimes de terrorismo, 40 crimes de ameaça agravada, 38 crimes de sequestro, dois crimes de dano com violência, um crime de detenção de arma proibida agravado e um de introdução em lugar vedado ao público.
Em 15 de maio, a equipa de futebol do Sporting foi atacada na academia do clube, em Alcochete, por um grupo de alegados adeptos encapuzados, que agrediram alguns jogadores, membros da equipa técnica e outros funcionários.
O ataque motivou o pedido de rescisão unilateral de contrato de nove futebolistas, alegando justa causa, alguns dos quais recuaram na decisão e continuam a representar os ‘leões’, e lançou o clube lisboeta em uma das maiores crises institucionais da sua história.
Bruno de Carvalho, que à data dos acontecimentos liderava o Sporting, foi destituído em Assembleia Geral em 23 de junho e impedido de concorrer às eleições do clube de Alvalade, das quais Frederico Varandas saiu como novo presidente.
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