“Não acredito que o Bruno de Carvalho tenha sido o mandante [da invasão]. Se tivesse a noção de que o Bruno de Carvalho pudesse ser o mandante desta atrocidade, não estava aqui”, afirmou Eduardo Barroso, durante a 31.ª sessão do julgamento da invasão à academia de Alcochete, ocorrido em 15 de maio de 2018.
Eduardo Barroso, que foi presidente da MAG eleito nas listas de Bruno de Carvalho durante o mandato de Godinho Lopes, considerou que na fase final da sua gestão o ex-presidente do Sporting cometeu muitos erros.
“Alertei [Bruno de Carvalho] para os erros graves que estava a cometer, ele estava a entrar numa espiral de destruição”, afirmou o médico.
No tribunal de Monsanto, Eduardo Barroso disse ter criticado a publicação de Bruno de Carvalho na rede social Facebook, em abril de 2018, depois da derrota no estádio do Atlético de Madrid (2-0), para a Liga Europa.
“Critiquei-o muito pelo ‘post’, achei-o com alguma graça, mas ridículo”, disse Eduardo Barroso, considerando que as reações à publicação o fizeram pensar que “se estava a criar mais um ambiente a favor dos jogadores do que dele [Bruno de Carvalho]”.
Eduardo Barroso, que foi arrolado como testemunha pela defesa do antigo presidente ‘leonino’, aludiu a uma frase que lhe terá sido dita por Bruno de Carvalho: “Só descansam quando eu estiver preso ou morto”.
Carlos Vieira, administrador da SAD e vice-presidente do Sporting entre 2013 e 2018, também ouvido como testemunha de defesa de Bruno de Carvalho, explicou que na reunião de 14 de maio, foi dito que Jorge Jesus não seria treinador da equipa na época seguinte.
“Houve uma reunião com a equipa técnica, depois do péssimo resultado na Madeira, para dizer que não se manteria para a próxima época e ficou no ar a eventual rescisão a breve prazo”, explicou, acrescentando: “Dissemos que poderia haver contactos dos advogados do Sporting para negociar os termos da rescisão, que poderia custar oito milhões de euros, e, se tal acontecesse, a equipa técnica poderia não jogar a final da Taça [de Portugal, em 20 de maio]”.
A reunião de 14 de maio seguiu-se à derrota no terreno do Marítimo, por 2-1, que relegou o Sporting para o terceiro lugar da I liga e impediu o clube de poder disputar a Liga dos Campeões da temporada seguinte.
Carlos Vieira disse ter participado na reunião com os jogadores, também no dia 14 de maio, na qual Bruno de Carvalho perguntou a “Acuña porque é que provocou os ‘hinchas’ na Madeira”.
O antigo administrador da SAD referiu também que Bruno de Carvalho disse ter recebido chamadas “de pessoas incomodadas com as atitudes”, lembrando que “isso já tinha acontecido em situações anteriores”.
Carlos Vieira disse ter sabido da invasão à academia “por jornalistas” da Sporting TV durante uma entrevista.
Durante a manhã, o coletivo de juízes ouviu também o judoca Jorge Fonseca, campeão mundial na categoria de -100 kg, que falou de Bruno de Carvalho como alguém “que sempre tratou muito bem os atletas”, José Estorninho, antigo membro do grupo Stromp, João Trindade, antigo presidente do Conselho Leonino, e José Ribeiro, ex-assessor do clube.
O julgamento prossegue à tarde, com a audição de mais testemunhas arroladas pela defesa de Bruno de Carvalho, entre as quais Pinto da Costa, presidente do FC Porto, que será ouvido por videoconferência.
O processo tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, ‘Mustafá’, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes.
Comentários