Durante a audição na comissão de inquérito à TAP, a deputada do BE Mariana Mortágua perguntou a Christine Ourmières-Widener se não tinha tido nenhum contacto ou nenhuma notificação da tutela, antes da conferência de imprensa de 5 de março, a informar que seria demitida.
“Eu tive uma reunião com o ministro das Finanças no domingo à noite antes da conferência de imprensa e durante essa discussão ele expressou que a situação estava complicada, mas ele não me deu a informação que seria demitida com justa causa no dia seguinte”, respondeu depois de consultar por breves momentos os dois advogados que a acompanham.
Segundo a ainda CEO da TAP, foi-lhe dito que “havia uma conferência, mas nunca lhe foi explicada a natureza do que aconteceu no dia seguinte”.
Mas os contornos da sua saída não ficaram por aqui. Questionada pelo deputado do PSD Paulo Moniz sobre essa mesma reunião de 5 de março com o ministro das Finanças na véspera do anúncio público da sua exoneração, Christine Ourmières-Widener assumiu que foi um encontro “pesado”.
“Pediram-me que me demitisse”, revelou a gestora, depois de admitir que é um assunto “ainda muito doloroso” e de consultar os advogados que a acompanham.
“O tom da reunião foi muito triste, dizendo-me que os meus resultados eram fenomenais e que eu tinha feito um trabalho fantástico, que era a pessoa certa para o cargo e que este processo [de indemnização a Alexandra Reis] tinha sido conduzido por mim com boa-fé, mas perante toda a pressão de diferentes partes, não restava ao Governo outra opção, não vendo a continuação do meu mandato”, afirmou Ourmières-Widener.
Segundo a gestora, na reunião foi reconhecido que o processo de saída de Alexandra Reis foi gerido pela presidente executiva, com base no parecer de consultores.
Christine Ourmières-Widener sublinhou que foi uma “reunião muito pesada”, por ficar a saber que tinha de deixar a companhia devido a um processo que tinha já causado a demissão de um ministro e de um secretário de Estado, com quem trabalhou e com quem tinha “uma relação fantástica”.
CEO rejeitou demitir-se porque nada fez de errado e vai "defender honra"
“6 de março foi o pior dia da minha vida, por isso, sim, vou tentar reparar a minha honra, com a reputação global que tenho nesta indústria”, afirmou Christine Ourmières-Widener, em resposta ao deputado Paulo Moniz.
O deputado perguntou se a gestora pretendia ser ressarcida dos valores que não são pagos em caso de despedimento por justa causa. “Ter dois ministros a demitir-me com justa causa está a arruinar a minha reputação, perante a minha família, os meus filhos e amigos. Tenho de o fazer”, sublinhou a presidente executiva da TAP.
Ourmières-Widener adiantou ainda que quando o ministro das Finanças, Fernando Medina, lhe perguntou se se queria demitir, a resposta foi negativa “porque não tinha feito nada de errado”, alegando que a única explicação que encontra para a decisão são “motivos políticos”.
“Uma demissão é também um reconhecimento de que foi feito algo de errado e eu nada fiz de errado”, reiterou, admitindo que ficou chocada com a conferência de imprensa de Fernando Medina e João Galamba.
Christine Ourmières-Widener é a terceira personalidade, de uma lista de cerca de 60, a ser ouvida pela comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda.
A ainda presidente executiva da TAP contestou o despedimento e acusou o Governo de ter tido “pressa política” para a demitir, segundo a contestação da defesa, citada pela TVI/CNN.
O Governo anunciou, em 06 de março, que a Inspeção-Geral de Finanças (IGF) tinha concluído que o acordo celebrado para a saída antecipada de Alexandra Reis da TAP era nulo e que ia pedir a restituição dos valores.
Os ministros das Finanças e das Infraestruturas anunciaram também a exoneração com justa causa da presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, e do presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja.
A verificação pela IGF da legalidade da indemnização paga a Alexandra Reis foi determinada em 27 de dezembro do ano passado pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, e pelo então ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos.
Em dezembro, Alexandra Reis tomou posse como secretária de Estado do Tesouro, tendo então estalado a polémica sobre a indemnização que recebeu quando saiu da companhia aérea detida pelo Estado, levando a uma remodelação no Governo, incluindo a saída de Pedro Nuno Santos, que foi substituído por João Galamba.
Alexandra Reis é ouvida na comissão de inquérito na quarta-feira.
[Notícia atualizada às 21:35]
Comentários