“Estamos há 33 dias e 33 noites acampados à porta de Santa Apolónia e também no Porto, fruto da situação em que vivemos. Caminhamos para três meses sem salário. É uma situação social dramática. É cada vez mais difícil viver sem os baixos salários que os trabalhadores recebem”, afirmou o dirigente do Sindicato de Hotelaria do Sul, Luís Batista, em declarações à Lusa.

Para a estrutura sindical, este processo tem sido arrastado “de forma inaceitável”, fruto da “enorme insensibilidade” da CP – Comboios de Portugal e do Governo.

A exploração dos bares dos comboios da CP estava entregue à Apeadeiro 2020, que já anunciou que vai pedir insolvência.

Esta empresa deixou de pagar salários, estando o serviço suspenso há algumas semanas nos bares dos comboios.

Os trabalhadores estão em greve desde 1 de março e têm-se mantido em vigília nas estações de Campanhã, no Porto, e de Santa Apolónia, em Lisboa.

Estes trabalhadores pedem que os seus direitos, nomeadamente salários e contratos, fossem assegurados diretamente pela CP enquanto não houvesse um novo concessionário.

Na quinta-feira, os representantes dos trabalhadores entregaram à CP um conjunto de quatro questões às quais exigem uma resposta, disponibilizando-se a levantar o acampamento, caso recebessem uma resposta às mesmas.

De acordo com o Sindicato de Hotelaria do Sul, a administração da CP comprometeu-se a responder até ao final do mesmo dia, o que acabou por não acontecer.

Os trabalhadores exigem saber se a empresa lançou um concurso para substituir a Apeadeiro 2020, tal como tinha sido anunciado, ou um processo contratual, quando é que a nova concessionária pretende pagar os salários em atraso e como é que vão ficar os postos de trabalho.

Por outro lado, reclamam que a CP revele que empresas foram contactadas no âmbito deste processo.

“Que empresas foram contactadas? São empresas de vão de escada, como a Apeadeiro 2020, que em 18 meses acumulou quase um milhão de dívidas e criou esta crise?”, questionou.

No total, cerca de 130 trabalhadores têm participado neste acampamento em regime de turnos.

“Hoje, quando a maioria dos portugueses se junta à sua família e se dirige à sua terra, os trabalhadores dos bares dos comboios da CP são obrigados a fazer o seu almoço de domingo de Páscoa à porta de Santa Apolónia e Campanhã”, notou Luís Batista.

O sindicato criticou ainda a postura do Governo, vincando que já ficou claro que “palavras, leva-as o vento”, e agradeceu a solidariedade das associações, movimentos sociais e particulares para com estes trabalhadores.

“Já servimos mais de 1.000 refeições aos colegas e uma tonelada de alimentos em cabazes. Da parte do Governo e da CP, nem um sinal ou uma tomada de posição que pudesse minimizar este impacto”, apontou.

Perante este cenário, os trabalhadores estão dispostos a intensificar as formas de luta, estando agendadas para esta segunda-feira reuniões e plenários, onde serão discutidos os novos passos.

“Os trabalhadores dos bares dos comboios não vão desistir, enquanto este processo não estiver resolvido”, concluiu.

Em 3 de abril, a CP anunciou o lançamento de uma consulta prévia para escolher um novo concessionário para os comboios de longo curso, depois da resolução do contrato com a Apeadeiro 2020.

A operadora recordou, em comunicado, que “procedeu à resolução do contrato para a prestação de serviços de exploração de cafetaria e bar a bordo dos comboios Alfa Pendular e Intercidades que detinha com a empresa Apeadeiro 2020”.

Por isso, “a CP avançou com uma consulta prévia, convidando várias entidades para apresentarem propostas, com o objetivo de celebrar um novo contrato para a prestação de serviços de exploração de cafetaria e bar a bordo dos comboios Alfa Pendular e Intercidades ao serviço da CP”.

A empresa disse esperar que, “no prazo de duas a três semanas, o serviço de cafetaria e bar a bordo dos comboios Alfa Pendular e Intercidades seja retomado e a situação laboral dos trabalhadores envolvidos seja regularizada”.