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Após um investimento de 677 milhões de euros nos últimos cinco anos, a Linha da Beira Altavai finalmente reabrir na totalidade. A partir do próximo domingo, 28 de setembro, os comboios voltarão a circular na totalidade do percurso, entre Pampilhosa e Guarda, anunciou a Infraestruturas de Portugal (IP). Antes disso, houve duas aberturas intermédias, em novembro do ano passado (Guarda-Celorico da Beira) e, em abril deste ano, entre Celorico da Beira e Mangualde. Apesar de todo o investimento, com apoio de pelo menos 50% de fundos comunitários, os comboios não vão andar mais depressa e não há ganhos no tempo de viagem, conforme o 24notícias verificou através dos novos horários.
A partir de domingo, as viagens no comboio Intercidades vão demorar pelo menos 4 horas e 11 minutos entre Lisboa-Santa Apolónia e Guarda. São 14 minutos a menos do que a mesma travessia em março de 2022, quando a via já se encontrava em obras e havia várias limitações ao longo do percurso. Contudo, se recuarmos até ao final de 2011, quando a via ainda não tinha limitações de velocidade, a viagem mais rápida demorava quatro horas e seis minutos. Mesmo considerando que a ligação menos demorada em 2025 terá mais três paragens (de um minuto cada) do que a do final de 2011, não há melhoria no tempo de viagem. No máximo, recupera-se o tempo perdido prévio às obras.
Os passageiros também não poderão contar com mais frequência: tal como em 2022, haverá apenas três comboios Intercidades por dia/sentido entre Lisboa e Guarda. O resto do tempo será dedicado ao serviço regional, entre Coimbra-B e Guarda, com duas ligações dia/sentido.
Apesar do investimento, o comboio continuará a demorar mais tempo do que o autocarro expresso, que demora entre 3 horas e 50 minutos e 4 horas e tem 16 partidas por sentido, por exemplo, à sexta-feira, quando muitos estudantes vão a casa passar o fim de semana. De automóvel são pouco mais de três horas de viagem e os custos baixaram no último ano com o fim das portagens em boa parte das antigas SCUT. A viagem sobre carris pode ser mais espaçosa, mais amiga do ambiente e conta com o passe ferroviário de 20 euros por mês. Resta saber se serão argumentos suficientes para a maior flexibilidade das alternativas rodoviárias.
Obras para mercadorias…insuficientes
O transporte de mercadorias foi a grande prioridade na modernização da Beira Alta, ao ponto de a velocidade média entre Pampilhosa e Guarda ter baixo marginalmente para que pudessem circular comboios com até 750 metros de comprimento. Tal opção reduz o preço da deslocação das cargas pelos carris e torna a opção ferroviária mais competitiva do que a dos camiões. No entanto, a falta de intervenção numa pendente força que os operadores ferroviários de mercadorias tenham de usar duas locomotivas para tracionar os vagões em vez de uma. Deixa de compensar usar o comboio porque os custos disparam.
Outra impossibilidade na Beira Alta será a circulação de comboios de mercadorias a transportar semirreboques de camiões em vagões próprios - as chamadas “autoestradas ferroviárias”, por falta de adaptação do gabarito (máximo espaço possível dos veículos ferroviários no canal).
Atrasos nas obras
Incluída no programa Ferrovia 2020, a modernização da Linha da Beira Alta deveria ter ficado concluída no primeiro trimestre de 2020. No entanto, o projeto começou com quatro anos de atraso e as obras só arrancaram em 2021. Problemas da pandemia de covid-19, efeitos da guerra na Ucrânia, dificuldades no fornecimento de materiais, contratação de subempreiteiros e ainda roubo de cabos em mais de 30 quilómetros de via foram as justificações usadas para o descarrilamento do calendário.
Para tentar acelerar os trabalhos, a IP fechou a Linha da Beira Alta em abril de 2022, no percurso entre Pampilhosa e Guarda. “Sem a linha encerrada, o prazo mínimo era de três anos e meio [de obras], numa intervenção que seria de elevado risco. O custo acrescido seria de 250 milhões de euros”, estimou o vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, em maio de 2022, num debate organizado em Mangualde. O responsável alegou ainda que, com a demora acrescida das obras, “haveria risco de perder financiamento”.
A reabertura da linha foi sucessivamente adiada e, pelo meio, ainda foram encontrados mais problemas nos túneis de Trezói (concelho de Mortágua) e Mourilhe (concelho de Mangualde). Nos dois locais, havia a possibilidade de construir duas variantes nos locais, implicando o fecho desses túneis. As propostas constaram de um estudo preliminar de 2014, elaborado pela Refer, antiga gestora ferroviária, mas acabaram por ficar para trás. Caso tivessem avançado, a ligação entre Lisboa e Guarda passaria a demorar menos de 3 horas e 45 minutos, podendo ser mais competitiva do que o autocarro expresso.
Os comboios vão voltar à totalidade da Beira Alta no final desta semana. Resta saber como a CP poderá recuperar os passageiros perdidos ao longo dos últimos três anos e meio. A esperança estará na abertura da Concordância da Mealhada, também prevista para domingo, que permitirá comboios diretos entre Porto e Guarda sem necessidade de inverter a marcha. Não há ainda, no entanto, horários previstos para estas circulações.
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