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Num país onde a corrupção é um desafio histórico, a Albânia vai apostar na inteligência artificial para assumir uma promessa que antes era dos políticos.
O primeiro-ministro albanês, Edi Rama admite vir a ter “um ministério inteiro gerido por IA, sem nepotismo nem conflitos de interesse”. A frase soa a solução mágica para todos os problemas de governação, mas levanta uma questão inevitável: qual é o preço a pagar quando a inteligência artificial se infiltra em praticamente todas as tarefas de um país?
Na prática, a tecnologia já está a ser usada para monitorizar concursos públicos, fiscalizar transações fiscais e aduaneiras em tempo real e apoiar drones que detetam construções ilegais e plantações de canábis. O governo da Albânia prevê ainda a aplicação de sistemas de reconhecimento facial no trânsito e o reforço da identidade digital dos cidadãos.
Esta estratégia conta com a colaboração de Mira Murati, ex-diretora de tecnologia da OpenAI e natural do sul da Albânia. “Logo após o lançamento do ChatGPT, contactei-a para perceber como a IA poderia ajudar a alinhar a nossa legislação com a da União Europeia”, revelou Rama, citado pelo Politico. O recurso à IA está já a ser aplicado no processo de adesão, facilitando a tradução e análise de milhares de páginas do acervo jurídico comunitário.
A digitalização é assumida como prioridade estratégica: 95% dos serviços públicos estão disponíveis online, e o executivo traçou a meta de tornar o país “cashless” até 2030. Só a plataforma estatal e-Albania processou, nos últimos cinco anos, 49 milhões de transações, poupando mais de 600 milhões de euros em burocracia.
Num momento em que se discutem os limites éticos desta tecnologia, não é de estranhar que a oposição peça “cautela”: “A IA pode transformar o governo, mas nas mãos erradas torna-se apenas um disfarce digital para as mesmas disfunções de sempre”, alerta Jorida Tabaku, deputada do Partido Democrático.
Especialistas sublinham igualmente que a aposta exige infraestruturas robustas, recursos técnicos e legislação adequada.
“Não há outra via — a adaptação tem de avançar, mas é preciso garantir que os cidadãos estejam preparados para esta transição”, resume Gerond Taçi, investigador em IA.
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