O ato foi sugerido pela atriz Elisa Lucinda, durante a campanha, na passada quarta-feira: "No domingo vamos votar com um livro”, pediu. A atriz esclareceu que esse gesto não podia ser considerado ‘boca de urna’ — campanha junto às urnas — e que simbolizava o voto em Haddad.

Nessa ação de campanha, realizada no Rio de Janeiro, também estiveram presentes Chico Buarque, Caetano Veloso, entre outros nomes do meio artístico.

O apelo foi reiterado este sábado pelo próprio candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), num tweet partilhado com a seguinte mensagem: "Agradeço você que está na rua, lutando por um país livre e democrático. Sei do esforço que vocês estão fazendo, mas valerá a pena. Vote com um livro na mão. Urna é lugar de depositar esperança".

O livro aqui é uma referência direta a Fernando Haddad, que defendeu durante a campanha eleitoral que o Brasil não precisa de mais armas, precisa de mais livros — marcando a sua oposição à liberalização do porte de arma no país, medida apoiada pelo seu opositor, o capitão do Exército na reserva Jair Bolsonaro, candidato do PSL e que lidera as sondagens.

E foram vários os ilustres a responder ao chamado: Deborah Secco — que levou consigo a coletânea de Nelson Rodrigues, "A Vida Como Ela É... Em 100 Inéditos" — e o marido Hugo Moura — que se fez acompanhar de uma obra de de Hilda Hilst; a atriz Leandra Leal — que escolheu o livro "Para educar crianças feministas: Um manifesto", da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie; o ator Matheus Nachtergaele — com a obra "Nunca Juntos mas ao Mesmo Tempo", do coreógrafo Wagner Schwartz; a atriz Letícia Colin — que levou consigo o livro "Insubmissas Lágrimas de Mulheres", de Conceição Evaristo, e o seu marido, o ator Michel Melamed — que optou pela obra "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis.

Também se uniu à campanha a deputada do PT Maria do Rosário, visada num ataque pessoal por Bolsonaro em 2003.  A deputada optou pelo livro "Brasil: Nunca Mais", escrito clandestinamente durante os chamados "anos de chumbo". "É uma corajosa denúncia da ditadura", disse.

Também foram vários os cidadãos comuns a aderir e a partilhar o ato nas redes sociais:

"Como as Democracias Morrem", de Daniel Ziblatt e Steven Levitsky; "Como Conversar com Um Fascista", de Marcia Tiburi; e "Unidos pela Liberdade", de Rafael Guimarães, foram outros dos livros escolhidos pelos eleitores. Também foram às urnas clássicos como "1984", de George Orwell, e biografias de defensores famosos dos direitos humanos, como Malala Yousafzai e Martin Luther King.

Do lado dos apoiantes do candidato Jair Bolsonaro, a imprensa brasileira relatou que muitos foram votar exibindo as cores da bandeira do Brasil, verde e amarelo, e que vários optaram mesmo por vestir a camisola da seleção brasileira.

Na segunda volta das presidenciais brasileiras, disputam o Palácio do Planalto Jair Bolsonaro (extrema-direita) e Fernando Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT/esquerda). Ambos já exerceram o seu direito de voto, o primeiro no Rio de Janeiro e o segundo em São Paulo.

Além da corrida presidencial, milhares de eleitores brasileiros vão escolher hoje 14 governadores.

Haverá segunda volta nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minais Gerais, Rio Grande do Sul, Rondónia, Roraima, Sergipe, Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Pará, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Sergipe.

As assembleias de voto abriram pelas 08:00 locais e têm o encerramento previsto para as 17:00 de cada fuso horário. As últimas urnas eletrónicas a fechar serão no estado do Acre, 22:00 em Lisboa, junto à fronteira com o Peru.

O sistema de voto brasileiro é feito através de urnas eletrónicas e, caso enfrentem um problema técnico, serão trocadas por outra do mesmo tipo ou pelo sistema tradicional de voto de boletim em urna.

Esta é já considerada uma das eleições mais atípicas das últimas décadas, tendo sido marcada por várias polémicas e por uma forte polarização política entre a extrema-direita e a esquerda.

(Notícia atualizada às 20h10)