Em Coimbra, o empate consumou a oitava descida da história da Académica, a primeira ao terceiro escalão, uma vez que, com quatro rondas por disputar, os ‘estudantes’ matematicamente já não podem deixar os lugares de despromoção: somam 16 pontos, menos 11 do que o Académico de Viseu, também em zona de despromoção direta, e 12 do que o Trofense, que ocupa o lugar reservado ao ‘play-off’ de manutenção, com estas duas equipas a defrontarem-se ainda hoje.

A Académica, um dos históricos clubes nacionais, jogará assim na Liga 3 em 2022/23, depois de 88 épocas consecutivas, desde 1934/35, entre a primeira e a segunda divisões do futebol luso, num trajeto que até hoje contava com sete descidas e 24 presenças na divisão secundária.

Longe vão os tempos de glória na primeira divisão e a tangente ao título efetuada na época 1966/67, em que terminou no segundo lugar, atrás do Benfica ‘de’ Eusébio, num historial em que se destacam também as duas conquistas na Taça de Portugal, em 1939 e 2012.

Câmara Municipal de Coimbra lamenta descida da Académica e espera que o clube se repense

O presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva, lamentou hoje a descida da Académica da II Liga portuguesa de futebol, considerando que o clube tem de se repensar, caso contrário fará “uma longa travessia no deserto”.

“É uma profunda tristeza. A Académica, como instituição, não merecia a descida. Um clube com a história da Académica faz falta nos escalões mais altos do futebol português”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Coimbra, sobre a despromoção da ‘briosa’.

Para José Manuel Silva, as dificuldades que a ‘Briosa’ foi sentindo nos últimos anos – primeiro com a relegação à II Liga, em 2015/16, e agora com a descida à Liga 3 - refletem também o facto de, "por responsabilidade" dos autarcas que o antecederam, “a atividade económica em Coimbra não ser suficientemente forte para manter a Académica na primeira divisão”.

No entanto, o autarca nota que o próprio clube “tem de se repensar”.

“Uma instituição – seja um clube de futebol ou não – quando tem problemas não os pode empurrar para a frente com a barriga. O que vimos foi um arrastar de problemas estruturais que culminaram nesta circunstância”, notou.

Segundo José Manuel Silva, a atual situação obriga a Académica “a repensar-se, a reorganizar-se, a pensar nos seus objetivos, na área de formação, na política de contratação de jogadores, na aposta numa estabilidade a médio prazo”.

“Se nada mudar, então a Académica fará uma longa travessia no deserto”, sentenciou o autarca, que é sócio da ‘Briosa’ mas também de outros clubes da cidade.

Sobre o apoio à Académica, José Manuel Silva frisou que os municípios não podem financiar os clubes e, caso pudessem, “são tantos no concelho, que não haveria orçamento suficiente para as necessidades de todos”.

“A Câmara apoia associações desportivas, culturais e recreativas de forma transparente e com equilíbrio e sentido de justiça. Não podemos apoiar mais a Académica do que fazemos a todos os outros clubes do concelho”, vincou.

Para o autarca, mais importante que a questão financeira, será a mudança de estratégia desportiva, que terá de passar por uma “aposta na formação e em condições de formação”.

“Se não há política desportiva, não há política económica que resista”, disse José Manuel Silva, frisando que lhe custa muito – “de forma particular e emocional” – assistir ao “caminho penoso da Académica nos últimos anos”.

Estudantes esperam que o clube volte a reerguer-se

“É uma infelicidade assistir a esta queda. A OAF levou o símbolo da Académica com grande alcance, quer nas competições internas, quer nas competições europeias – todos nos lembramos da vitória contra o Atlético de Madrid [na Liga Europa, em 2012] ou da conquista da Taça de Portugal [em 2012]. É algo que nos choca, tendo em conta que, nos últimos anos, tiveram uma equipa competitiva com possibilidade de subida à I Liga”, afirmou à agência Lusa o vice-presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC), João Caseiro, que tem a pasta do desporto.

A AAC extinguiu a secção de futebol em 1974, tendo surgido posteriormente o Clube Académico de Coimbra que, por seu turno, deu lugar, 10 anos depois, ao OAF, criado numa tentativa de reaproximação à casa-mãe e profissionalização do clube, mas sem qualquer ligação formal à associação de estudantes.

Para João Caseiro, a AAC irá ajudar, “na medida das suas possibilidades”, o clube a reerguer-se, salientando, porém, que a prioridade da associação será sempre as suas secções culturais e desportivas, onde se inclui a secção de futebol, que tem quase assegurada a manutenção na Divisão de Honra de Coimbra (distrital que antecede a subida ao Campeonato de Portugal), num grupo em que a equipa B da OAF soma apenas uma vitória, antevendo-se uma possível descida à I Divisão Distrital de Coimbra.

“O que podemos fazer para apoiar um regresso da OAF a maiores voos passa pelo apoio no estádio enquanto adeptos, uma aproximação entre as duas instituições e garantir que a mística do clube não se perde”, frisou.

Questionado sobre um reforço da cooperação entre OAF e a secção de futebol da AAC, o vice-presidente da associação salientou que, estando a atual direção com quatro meses de mandato, é “difícil fazer uma avaliação completa e global do que tem sido feito nos últimos anos”.

“Pode haver pontes que possam ser feitas, mas é algo que terá de ser feito com todas as partes interessadas e com todos os atores envolvidos”, frisou.

Na ótica do responsável, é fundamental agora com a descida que “a mística e a ligação não seja descuidada”, acreditando na capacidade de o clube se relançar.

“A existência de um clube centenário vai além da sua presença numa primeira, segunda ou terceira divisão”, vincou.