É até um pouco melancólico o retorno ao trabalho no futebol brasileiro em 2020. Se o Brasil é o país das modas no futebol, duas ditam as tendências deste verão tropical: a busca por treinadores estrangeiros e consciencialização (forçada ou não) de que não dá para fazer mais loucuras financeiras.

O exemplo bem sucedido do Flamengo, que parece pronto para uma longa hegemonia no cenário nacional, ao trabalhar a saúde financeira para permitir investimentos de grande porte e ver a sua equipa arrancar após a chegada de Jorge Jesus, deixou algo claro à concorrência: com amadorismo, o Flamengo não será alcançado e a dura realidade financeira da maioria dos clubes apertou nesta nova época.

Até o Palmeiras, o único capaz de rivalizar com o poderio financeiro do Flamengo, teve de apertar o cinto após alguns anos de exagero e começa a época sem nenhuma contratação relevante, apostando em jogadores da formação.

Aliás, o Palmeiras é uma grande incógnita, pois ao contrário do discurso de que precisava de se modernizar para acompanhar o Flamengo, acertou a contratação do veterano e, para muitos, ultrapassado Vanderlei Luxemburgo, que foi o melhor técnico do Brasil nos anos 90 e chegou até ao Real Madrid no distante ano de 2005.

Já o Corinthians e São Paulo, após o fim de ano em baixa, e apesar da classificação que lhes permite entrar em competições continentais, não têm condições financeiras de investir na melhoria do plantel e começaram já a cortar custos, pois ambos tiveram déficits nas contas de 2019 superiores a 30 milhões de euros.

O Corinthians ainda conta com a novidade do treinador Tiago Nunes, ex-Athletico-PR, e com a ajuda de um patrocinador para buscar Luan, ex-Gremio. Já o São Paulo, nem isso conseguiu, apenas trabalhando para manter os poucos destaques do último ano e apostando na continuidade, depois de muito tempo, de um treinador de uma temporada para a outra, e na recuperação de jogadores em baixa com Pato e Hernanes.

No Rio, o buraco é ainda mais profundo. Vasco, Fluminense e Botafogo estão afundados em dívidas e procuram formas criativas de reforçar os planteis, rezando por novos talentos vindo das categorias de base. Já o Santos e o Atlético-MG foram procurar fora do país a esperança de repetir Sampaoli e Jesus. Jesualdo Ferreira e Dudamel chegam com a missão de tirar o máximo dos jogadores que lá estão, com poucas novidades.

No sul, Inter e Grêmio parecem em melhores condições e trabalham no rejuvenescimento das suas equipas. Coudet, após sucesso na Argentina é a novidade do Colorado, e Renato Gaúcho, incrivelmente desde 2016 no tricolor gaúcho, são os comandantes.

Resumindo, os grandes clubes começam com as finanças em xeque e, nesse cenário complicado, alguns projetos promissores de clubes menores ganham relevância como o Athletico Paranaense, o Bahia e o recém-promovido Bragantino, que à partir de agora levará o nome de Red Bull Bragantino.

É um recomeço nebuloso de ano no Brasil, de clubes preocupados em não tornar-se num novo Cruzeiro, despromovido em 2019 e com gravíssima crise financeira que ameaça até a continuidade do clube.

Aparentemente, por enquanto, não passa disso. Infelizmente, os dirigentes estão apenas a reagir às conjunturas atuais e não a focar-se no crescimento de uma consciência da importância do planeamento e da boa gestão para a sustentabilidade do futebol brasileiro. Se pensarem para além dos seus umbigos, verão que é uma boa oportunidade de capitalizar no exemplo positivo do Flamengo e dar um passo para trás para dar vários para frente.

Enquanto isso, a bola vai voltando a rolar, lentamente, de ressaca, como se fosse a quarta-feira de cinzas pós Carnaval e só o flamenguista tem motivos para sorrir.

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