“A única coisa que pedi foi que os e-mails não fizessem referência a questões pessoais”, referiu Júlio Magalhães, reforçando que “nunca soube antecipadamente dos conteúdos” revelados por Francisco J. Marques no programa do canal Universo Porto da Bancada, entre abril de 2017 e fevereiro de 2018.
O diretor-geral do Porto Canal falava durante a terceira sessão do julgamento da ação em que o Benfica reclama uma indemnização a empresas e figuras do universo do FC Porto pela divulgação de e-mails internos do clube, a decorrer no Juízo Central Cível do Porto.
O julgamento prosseguiu com o Benfica a procurar atestar os prejuízos causados pela divulgação dos e-mails, bem como a tentar imputar a responsabilidade desta ação à administração do FC Porto, de quem dependia Francisco J. Marques, e com a defesa portista a justificar a sua difusão com o interesse público e jornalístico dos mesmos.
Júlio Magalhães disse ainda que os picos de audiência atingidos durante a transmissão do Universo Porto da Bancada, programa que classificou como sendo “genericamente de informação com conteúdos específicos do FC Porto”, não se traduziam em aumento de receitas, mas sim de ‘share’ (quota de mercado).
Ouvidas as últimas testemunhas arroladas pelo Benfica, Miguel Moreira (diretor financeiro) e Paulo Alves (gestor da área financeira), o tribunal inquiriu as primeiras do FC Porto, nomeadamente Domingos Andrade (diretor do Jornal de Notícias), Pedro Santos Guerreiro (ex-diretor do Expresso) e Eduardo Dâmaso (diretor da Sábado).
O inquérito às testemunhas arrolados pelo FC Porto incidiu sobre o interesse jornalístico da divulgação dos e-mails, que todos admitiram terem servido para desenvolverem investigação, ao abrigo do cumprimento dos protocolos jornalísticos, como a verificação e veracidade dos factos e contraditório.
A primeira testemunha inquirida comum a ambas as partes foi Ricardo Martins, assessor da administração do FC Porto, que, tal como Júlio Magalhães e Diogo Faria (que será ouvido na sexta-feira), foram arroladas tanto pelo FC Porto como pelo Benfica.
O juiz Paulo Duarte Teixeira questionou as testemunhas sobre o interesse jornalístico de alguns ficheiros entregues juntamente com os e-mails por Francisco J. Marques na Polícia Judiciária (PJ) e que incidiam em informações relacionadas com aspetos técnicos e táticos do Benfica, como plano de treinos e ações de jogo, e que podiam ser entendidos como atos de concorrência desleal.
O julgamento prossegue na sexta-feira com a inquirição a Diogo Faria (testemunha comum) e José Cruz, Igor Fortes, Pedro Bragança, António Nogueira de Sousa e Luís Alves (apresentadas pela defesa do FC Porto). As alegações finais estão previstas para 10 de abril.
No processo em que é autora, a SAD do Benfica corresponsabiliza por "danos de imagem", causados pela divulgação dos e-mails, a homóloga do FC Porto, o presidente da sociedade e do clube, Pinto da Costa, os administradores Fernando Gomes e Adelino Caldeira e o diretor de comunicação, Francisco J. Marques, além da FCP Média, empresa detentora da estação televisiva Porto Canal.
O Benfica alega que a divulgação dos e-mails afetou a credibilidade do clube, prejudicando os seus interesses comerciais e chegando a provocar a queda de cotação das ações da SAD na bolsa.
O FC Porto alega que se limitou a divulgar informação de interesse público e que as mensagens de correio eletrónico em causa revelam práticas deturpadores da verdade desportiva.
Numa audiência prévia realizada em 20 de novembro de 2018, em que se fixou o valor da causa, foi também admitida a reconvenção (uma espécie de contra-ação), deduzida pela ré, pedindo uma indemnização cujo valor não foi divulgado.
Em 11 de janeiro deste ano, foi anunciado que Benfica e FC Porto falharam, em audiência preliminar, um acordo que permitiria evitar o julgamento.
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