Desde que foi escolhido para organizar o Mundial2022, o Qatar tem sido alvo de várias críticas de inúmeros quadrantes, nomeadamente no que diz respeito às suas posições em matéria de direitos humanos, das questões LGBTQ+ e de abuso sobre os trabalhadores migrantes.
Vários países anunciaram a intenção de não comparecer no Campeonato do Mundo no Qatar, que se prolonga até 18 de dezembro, em particular para lamentar o desrespeito aos direitos humanos. Outros, ao contrário, irão à competição sem fazer perguntas.
As listas de países e de instituições para um e outro caso são longas e, se o secretário-geral das Nações Unidas, o antigo primeiro-ministro português António Guterres, chegou ao Qatar na véspera do arranque da prova, em que Portugal está envolvido, nem um dos quatro principais dirigentes da União Europeia (UE) marcará presença no Mundial, justificando a ausência com a falta de respeito pelos direitos humanos.
Isso mesmo escreve hoje o EUObserver, destacando que os presidentes da Comissão da UE, Ursula von der Leyen, do Conselho da UE, Charles Michel, e do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, bem como o chefe de diplomacia europeia, Josep Borrell, destacaram-se nas críticas a um emirado que, em tempos de plena crise energética, é um dos mais ricos em gás.
Von der Leyen é alemã, Michel é belga e Borrell é espanhol – as três seleções estão presentes no Mundial – e, assim como a maltesa Metsola, assumiram que, mesmo que as respetivas equipas cheguem longe na prova “nenhum tem, atualmente, planos para viajar para o Qatar.
Resumindo o pensamento dos quatro líderes da UE, Michel desejou que a prova constitua um êxito, mas, implicitamente, deixou no ar que as razões são uma forma de protesto aos amplamente casos divulgados de abuso de trabalhadores migrantes no Qatar ou pelo facto de se desrespeitar os direitos da comunidade LGTBQ+.
Em contraste, no meio de polémica, os três líderes do poder político em Portugal, Estado membro dos 27, já manifestaram a vontade em acompanhar os jogos de seleção portuguesa, através do chefe de Estado Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente do Parlamento, Augusto Santos Silva, e do primeiro-ministro António Costa.
“O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal..., mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa”, disse Rebelo de Sousa, gerando críticas de vários quadrantes da sociedade civil, que pediu aos três líderes para que boicotem o evento.
A Assembleia da República votará na terça-feira sobre a deslocação ao Catar do Presidente, que na sexta-feira lembrou que “tradicionalmente”, deslocam-se aos campeonatos de futebol “o senhor presidente da Assembleia da República e com o senhor primeiro-ministro” e o Presidente da República em “jogos diferentes”.
Marcelo deverá estar no jogo de abertura, na próxima quinta-feira, Augusto Santos Silva deverá ver jogar a seleção no dia 28 e António Costa, no dia 02 de dezembro.
O novo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, deixou claro que ”não planeia” deslocar-se ao Qatar, sem, porém, indicar claramente o motivo ou se poderia mudar de opinião e, em França, a polémica em torno das declarações do Presidente francês, Emmanuel Macron (disse que iria ao Qatar se os gauleses se qualificarem para as meias-finais), “irritou muitos”, escreve hoje o Le Parisien.
“Não devemos politizar o desporto”, justificou Macron, rejeitando a ideia do boicote, apesar do desrespeito dos direitos humanos por parte do Qatar, da discriminação do Estado e das muitas mortes em estaleiros de obras, pondo ainda em causa se a presença no emirado será sinónimo de tolerância para com o regime de Doha.
Mas a lista de países que estarão representados no Qatar é bem maior, tanto que é difícil fazer uma exaustiva. Os Estados Unidos estiveram presentes com o secretário de Estado Anthony Blinken, que permanecerá no emirado pelo menos até ao primeiro jogo dos norte-americanos, terça-feira, contra o País de Gales.
Futebol à parte, o Qatar tem a segunda maior reserva de gás natural do mundo, depois da Rússia, mas nem isso fez demover os principais dirigentes da EU, que luta por encontrar fornecedores alternativos devido à invasão da Ucrânia pelo exército russo e com o inverno a aproximar-se no hemisfério norte.
O Presidente russo, Vladimir Putin, é um dos ausentes, mas telefonou ao emir do Qatar, xeque Tamim bin Hamad Al Thani, para lhe dar os parabéns pelo emirado ser o país-sede da prova e a desejar sucesso à seleção local.
O certo é que a sessão de abertura do Mundial, na tarde/noite de domingo, cujo jogo inaugural opôs o anfitrião Qatar ao Equador (a seleção sul-americana venceu por 2-0 e o Presidente equatoriano, Guilhermo Lasso, esteve ausente alegando os recentes episódios de violência e insegurança no país – “a prioridade é resolver esta questão"), contou com a presença de “uma série de Suas Majestades, Altezas e Excelências Chefes de Estado e Chefes de Delegações de países irmãos e amigos”, lembrou a Al Jazeera.
Além de Guterres, estiveram na cerimónia os presidentes do Ruanda, Palestina, Argélia, Turquia e Egito, bem como o príncipe herdeiro saudita.
Neste contexto, as autoridades do Qatar, assinalando que não fecham as portas a “críticas construtivas”, lamentaram a “politização” do evento e as “campanhas de difamação” ao emirado, sendo expoente disso as palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros, o xeque Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani.
“Há muita hipocrisia nesses ataques, que ignoram tudo o que conquistamos”, afirmou o xeque, a 04 deste mês, mais de duas semanas antes do início da prova, lamentando os vários boicotes, sob pretexto também das “alegadas violações dos direitos humanos”
Depois de uma cerimónia de abertura em que se falou sobre a inclusão da tradição beduína – dentro de um estádio projetado para se parecer com uma tenda tradicional –, as autoridades do Qatar deixaram uma mensagem de esperança: “como é bonito as pessoas deixarem de lado o que as divide para celebrar a diversidade e o que as une ao mesmo tempo.
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