2024: Saída de Pinto da Costa e o ano transformador no FC Porto

O FC Porto viveu um ano transformador em 2024, face à expressiva vitória de André Villas-Boas, ex-treinador da equipa de futebol, sobre Pinto da Costa, presidente há 42 anos e 15 mandatos, nas eleições mais participadas do clube.

Em 27 de abril, perante um recorde de 26.876 sócios votantes, Villas-Boas tornou-se o 34.º líder da história ‘azul e branca’, ao somar 21.489 votos (80,28%), contra 5.224 (19,52%) de Pinto da Costa e 53 (0,2%) do empresário e professor Nuno Lobo, candidato derrotado em 2020.

Habituado a ser unânime no FC Porto, o então dirigente mais antigo e titulado do futebol mundial, que completará 87 anos em 28 de dezembro, acusou o momento mais delicado do seu ‘reinado’, que motivou mesmo o inédito aparecimento desde 17 de abril de 1982, data da sua primeira vitória eleitoral, de duas candidaturas opositoras no mesmo sufrágio.

Pinto da Costa deu lugar a um ex-treinador por si escolhido em 2010/11 - época marcada pela conquista de quatro troféus em cinco possíveis, incluindo a I Liga e a Liga Europa, último dos sete êxitos internacionais do FC Porto -, mas demorou um mês a efetivar em pleno a transição na SAD, responsável pela gestão do futebol profissional ‘azul e branco’.

Empossado como líder do clube em 07 de maio, André Villas-Boas, de 47 anos, entraria em funções na SAD no dia 28, quase 48 horas depois de os ‘dragões’ terem vencido a Taça de Portugal pela terceira época seguida, fruto de uma reviravolta sobre o recém-campeão nacional Sporting (2-1, após prolongamento), no Estádio Nacional, em Oeiras.

O FC Porto festejou a 69.ª e última conquista futebolística de Pinto da Costa, que juntou 2.591 troféus em 21 modalidades nos seus mandatos, e evitou uma temporada em ‘branco’, esbatendo nessa final os 18 pontos de distância para os ‘leões’ no campeonato.

Terceiro colocado pela primeira vez desde 2015/16, a equipa então treinada por Sérgio Conceição falhou a quinta presença consecutiva na Liga dos Campeões e teve entrada direta na Liga Europa, volvida uma campanha eleitoral tensa e sem precedentes no universo ‘azul e branco’, com acusações e críticas entre os dois principais candidatos.

Pinto da Costa anunciou alguns negócios estruturantes nas semanas anteriores ao ato eleitoral, encabeçados pela construção de uma academia do FC Porto na Maia ou pelo acordo com a Ithaka para a exploração comercial do Estádio do Dragão, no Porto, antes de oficializar a renovação contratual com Sérgio Conceição a dois dias da ida às urnas.

Recordista de jogos (379), vitórias (274) e troféus (11) no banco portista, o ex-internacional português viria a acertar a rescisão com André Villas-Boas em junho, após uma polémica rutura com Vítor Bruno, que o coadjuvava há 12 anos e coincidia desde 2017/18 nos ‘dragões’, mas foi a primeira aposta para técnico principal da nova direção.

A viragem presidencial também transformou uma renovação apalavrada entre Pepe e Pinto da Costa na despedida em fim de contrato do defesa central e capitão, de 41 anos, que venceu 13 troféus em duas fases pelo FC Porto (2004-2007 e 2019-2024) e terminou a carreira no verão, na sequência da participação pela seleção portuguesa no Euro2024.

Pepe juntou-se ao avançado iraniano Mehdi Taremi, autor de 91 golos nas últimas quatro épocas e reforço do campeão italiano Inter Milão, entre as saídas sonantes a custo zero dos ‘dragões’, panorama repetido nos últimos anos da anterior administração com os outrora influentes Iván Marcano - regressaria em definitivo em 2019/20 -, Yacine Brahimi, Héctor Herrera, Vincent Aboubakar, Moussa Marega, Chancel Mbemba e Matheus Uribe.

Ao aplicar um novo modelo organizacional, a gestão de Villas-Boas visou a otimização de custos, mas herdou desde cedo problemas de tesouraria, tendo as infrações ao ‘fair play’ financeiro da UEFA custado ao FC Porto uma multa de 1,5 milhões de euros (ME) e a exclusão das provas europeias por uma época - suspensa em regime probatório de dois anos.

Os desafios estenderam-se ainda ao relacionamento com as claques, sobretudo os Super Dragões, cujo protoloco com a SAD foi revisto no verão, após a Operação Pretoriano, que julgará 12 arguidos em 2025, entre os quais Fernando Madureira, ex-líder daquele grupo organizado de adeptos, a quem foi decretado o regime de prisão preventiva em fevereiro.

Incidindo em 31 crimes, a acusação do Ministério Público (MP) denuncia uma eventual tentativa de os Super Dragões “criarem um clima de intimidação e medo” numa Assembleia Geral (AG) do FC Porto, em novembro de 2023, para que fosse aprovada uma revisão estatutária “do interesse da direção” de Pinto da Costa.

O clube e a SAD constituíram-se assistentes desse processo, ao qual se seguiu em maio a operação Bilhete Dourado, na qual o MP suspeita de conluio entre funcionários do clube e uma empresa associada e membros da claque na distribuição e venda de bilhetes para jogos de futebol dos ‘dragões’, que seriam, depois, comercializados de forma clandestina.

Além de ter expulsado quatro sócios, incluindo Fernando Madureira, e suspendido outros seis, por causa dos incidentes na AG, os ‘dragões’ pediram uma auditoria forense aos últimos anos do ‘reinado’ de Pinto da Costa, numa altura em que a equipa de Vítor Bruno tem sido contestada pelos resultados e exibições instáveis.

O FC Porto até entrou a vencer em 2024/25, ao inverter três golos de desvantagem frente ao Sporting na Supertaça Cândido de Oliveira (4-3, após prolongamento), em agosto, em Aveiro, mas enfrentou no mês passado a primeira série de três derrotas em 16 anos, na qual sofreu quatro golos do Benfica para a I Liga 60 anos depois (4-1), na 11.ª jornada, antes de ser afastado pelo Moreirense na quarta eliminatória da Taça de Portugal (2-1).

2024: Iúri Leitão brilhou em Paris na última missão olímpica de Constantino

Iúri Leitão foi o protagonista da melhor missão portuguesa em Jogos Olímpicos, a última de José Manuel Constantino, que morreu ao ‘cair do pano’ de Paris2024, onde Simone Biles, Léon Marchand e ‘Mondo’ Duplantis foram as figuras internacionais.

O ciclismo de pista transformou uma Missão de deceções na melhor de sempre de Portugal, com o vianense de 26 anos, ao lado de Rui Oliveira, a impulsionar o medalheiro luso na capital francesa com um feito inédito.

No espaço de dois dias, Leitão inscreveu para sempre o seu nome na história do olimpismo português: primeiro, foi prata no omnium e, depois, juntamente com Oliveira, sagrou-se campeão olímpico no madison, com os dois ciclistas a conquistarem o primeiro ouro para Portugal fora do atletismo.

O jovem ciclista entrou, assim, de rompante na galeria dos melhores olímpicos lusos de sempre, superando Rosa Mota, Fernanda Ribeiro ou Fernando Pimenta e igualando o ‘pecúlio’ de Carlos Lopes e Pedro Pichardo, que em Paris2024 juntou a prata no triplo salto ao ouro de Tóquio2020.

Para entrar na lista dos olímpicos mais medalhados por Portugal, o saltador ‘voou’ 17,84 metros, ficando a apenas dois centímetros do ouro, conquistado pelo espanhol Jordan Díaz.

No ‘rescaldo’ da passagem pela capital francesa, ‘ameaçou’ acabar a carreira, cansado da falta de apoios e do diferendo com o Benfica, uma ideia que aparentemente abandonou, depois de sagrar-se vencedor da final da Liga Diamante.

Mas a melhor prestação portuguesa de sempre em Jogos Olímpicos – superou Tóquio2020 na ‘cor’ das medalhas – começou a escrever-se em 01 de agosto, quando a judoca Patrícia Sampaio conquistou o bronze nos -78 kg.

A da recém-coroada campeã nacional foi a primeira medalha em Paris2024, mas a sorte da Missão portuguesa, que até aí acumulava deceções, começou a mudar um dia antes, nas provas individuais de triatlo: Vasco Vilaça e Ricardo Batista fizeram uma prova de trás para a frente para serem, respetivamente, quinto e sexto classificados, e ainda se uniram a Maria Tomé e Melanie Santos para conquistar um novo diploma, graças ao quinto lugar na estafeta mista.

Numa comitiva ‘recheada’ de estreantes e com as mulheres pela primeira vez em maioria, a ginástica mostrou uma renovada vitalidade, com a experiente Filipa Martins, que entretanto terminou a carreira, a ser a primeira portuguesa a chegar à final ‘all around’ da ginástica artística em Jogos Olímpicos, e o jovem Gabriel Albuquerque, o ‘caçula’ da delegação com apenas 18 anos, a tornar-se no melhor de sempre nos trampolins, com o quinto lugar na final.

Na senda dos ‘diplomados’, destaque para os velejadores Carolina João e Diogo Costa, que na distante Marselha foram quintos na classe 470, mas também para o ciclista Nelson Oliveira, sétimo no contrarrelógio, Maria Inês Barros, pioneira no tiro com armas de caça e oitava no fosso olímpico, e Jéssica Inchude, oitava no lançamento do peso.

Se uns surpreenderam, outros ficaram aquém do esperado, como os canoístas Fernando Pimenta, que procurava a terceira medalha olímpica e foi sexto no K1 1.000 metros, e a dupla João Ribeiro/Messias Baptista, os campeões mundiais que foram quintos no K2 500 metros.

No entanto, os três saíram com diplomas da capital francesa, ao contrário do que aconteceu com o skater Gustavo Ribeiro, a primeira esperança lusa para abrir o medalheiro e apenas 17.º na prova de street, mas, sobretudo, Diogo Ribeiro, que falhou na piscina (e fora dela).

Campeão mundial em título dos 100 metros mariposa, o jovem nadador, então com 19 anos, ‘só’ conseguiu o apuramento para as ‘meias’ nos 50 livres, mas caiu prematuramente nos 100 livres e na sua distância de eleição, ‘culpando’ tudo e todos – menos ele próprio – pela prestação dececionante.

Para o país, e mesmo para o olimpismo internacional, Paris2024 é também sinónimo de perda, a de José Manuel Constantino, o pensador do desporto que presidiu ao Comité Olímpico de Portugal desde março de 2013 e que morreu durante a cerimónia de encerramento dos Jogos, após anos de luta contra o cancro.

Nesse dia 11 de agosto, a capital francesa passou o testemunho a Los Angeles2028, numa cerimónia em que Léon Marchand assumiu um papel tão central como aquele que desempenhou durante os Jogos, nos quais se tornou no primeiro francês a conquistar quatro medalhas de ouro numa mesma edição.

Herói de uma nação que organizou aqueles que provavelmente permanecerão como os mais belos Jogos da história – uma realidade que fez esquecer erros como a aposta num Sena ainda poluído para a natação de águas abertas e o triatlo -, o nadador dividiu protagonismo nas piscinas com Katie Ledecky, que igualou a ginasta soviética Larisa Latynina como a mulher com mais títulos na história do olimpismo (nove).

Outra norte-americana, a ‘regressada’ Simone Biles, mostrou estar recuperada dos problemas de saúde mental que a afetaram em Tóquio2020, e deixou a capital francesa com três ouros e uma prata.

Tão previsível como o domínio de Biles na ginástica era o ouro, com recorde do mundo, de Armand ‘Mondo’ Duplantis no salto com vara, uma ‘certeza’ não extensível, por exemplo, ao título olímpico do tenista sérvio Novak Djokovic, que finalmente cumpriu o sonho de uma vida ao alcançar o ouro em singulares.

Entre os destaques de Paris2024, Remco Evenepoel tem um lugar na galeria de ‘honra’, após conseguir o feito inédito de sagrar-se duplo campeão olímpico na estrada – venceu o ‘crono’ e a prova de fundo.

2024: Sporting rugiu alto em ano em que seleção foi eliminada no Europeu

O Sporting ‘rugiu’ alto em 2024, ao sagrar-se campeão nacional de futebol, com grande ajuda do goleador sueco Viktor Gyökeres, num ano em que a seleção masculina voltou a desiludir numa grande competição.

Depois de um inesperado quarto lugar na época anterior, ganha pelo Benfica, o Sporting conquistou o seu segundo título em quatro épocas e meia com o treinador Ruben Amorim.

O campeonato foi a ‘coroa’ dos ‘leões’, que foram finalistas vencidos na Taça de Portugal e Supertaça, em jogos perante o FC Porto, que venceu o primeiro troféu ainda com Sérgio Conceição e o segundo com o antigo adjunto e novo treinador Vítor Bruno.

Ainda nos ‘leões’, Gyökeres mostrou ser um dos mais ‘letais’ avançados da atualidade, no futebol nacional e internacional, e foi crucial no caminho para o título, com uma produção assombrosa, ao melhor estilo de Mário Jardel, Jonas ou Radamel Falcao.

O avançado sueco prepara-se para terminar 2024 como o maior goleador do ano, sendo um caso sério de produtividade, que se estende além-fronteiras, a nível interno, na Champions, mas também pela sua seleção.

A liderança leonina cresceu com boas escolhas, mas também demérito dos rivais FC Porto e Benfica, o primeiro em convulsão interna – com o fim de um reinado de 42 anos de um presidente, Pinto da Costa -, e o segundo com a insistência num projeto falhado.

Para o futuro paira alguma incerteza nas hostes leoninas, sobretudo após a saída de um dos principais obreiros do projeto, o treinador Ruben Amorim, que em meados de novembro deixou o cargo para assumir o Manchester United, sendo sucedido por João Pereira, ex-técnico da equipa B.

No FC Porto houve grande mudança, com a chegada ao poder de André Villas-Boas, a saída do ‘mítico’ e mais titulado presidente de sempre, Pinto da Costa, bem como do treinador Sérgio Conceição, há sete épocas à frente da equipa, e do capitão Pepe, que se retirou aos 41 anos.

Os ‘dragões’ terminam 2024 com muitas dúvidas, nomeadamente a continuidade do treinador Vítor Bruno, num ano de convulsões internas que se estenderam à sua principal claque e levaram à detenção do seu líder, elemento próximo do ex-presidente.

No Benfica, a aposta de continuidade no alemão Roger Schmidt, que tinha vencido na sua época de estreia e teve uma segunda temporada má, foi penalizante, com o clube a despedir o treinador à quarta jornada, depois de perder cinco pontos em 12 possíveis.

Apesar do divórcio entre treinador e adeptos, que se arrastava desde a época anterior, os resultados e as exibições na nova época continuaram aquém do expectável, e Schmidt saiu mesmo para dar lugar ao regresso de Bruno Lage.

O ano ficou também marcado no escalão maior pelo regresso de equipas das ilhas ao 'convívio' entre 'grandes', com Nacional (Madeira) e Santa Clara (Açores) a subirem de divisão, acompanhados pelo AVS, e, em sentido inverso, Desportivo de Chaves, Vizela e Portimonense foram despromovidos à II Liga.

Em matéria de golos, apesar de nula produção no Euro2024, Cristiano Ronaldo continua a ser notícia, com o avançado, de 39 anos, a ultrapassar a barreira dos 900 golos na carreira.

No Europeu, disputado na Alemanha, CR7 ficou em branco pela primeira vez numa grande competição, mas pela equipa das 'quinas' voltou a marcar na campanha de apuramento para os quartos de final Liga das Nações, contabilizando cinco golos.

Cristiano Ronaldo não dá quaisquer sinais de poder deixar a breve prazo a seleção, contrariamente ao amigo e muitas vezes companheiro Pepe, que fez o último jogo no Euro2024.

O central despediu-se na eliminação nos quartos de final diante da França (0-0 após prolongamento, 5-3 nas grandes penalidades), numa competição em que Portugal voltou a não ser capaz de triunfar com uma das suas gerações mais talentosas.

Em femininos, a seleção, ainda num patamar de crescimento, apurou-se para o seu terceiro Europeu consecutivo, e, a nível de clubes, o Benfica teve um ano em cheio, com os títulos de campeão, Taça da Liga e Taça de Portugal, mais a chegada aos quartos de final da Liga dos Campeões, enquanto o rival Sporting abriu a nova época a vencer a Supertaça.

O ano terminou a ‘ratificar’, em congresso da FIFA, a candidatura única ao Mundial2030, que tem Portugal, Espanha e Marrocos como organizadores, e Argentina, Paraguai e Uruguai a receberem jogos de abertura, da edição do centenário da competição.

Antes, o futebol português despediu-se de duas das maiores figuras da sua história, ainda em fevereiro do antigo goleador de Académica e Benfica e treinador campeão europeu com o FC Porto, Artur Jorge, e em junho do goleador e ex-capitão do Sporting Manuel Fernandes, que não resistiu a doença prolongada.

2024: Futebol espanhol teve um ano de sonho

 O futebol espanhol teve um ano de 2024 de ‘sonho’, dominando na categoria de seleções, clubes, jogadores e até treinadores, com o Manchester City a fazer história em Inglaterra sob o comando de Pep Guardiola.

Só em 366 dias (ano bissexto), a Espanha conquistou o Europeu de futebol, tornou-se campeã olímpica da modalidade, na prova masculina, em Paris2024, viu o Real Madrid reforçar o estatuto de ‘dono’ da Liga dos Campeões, teve Rodri, de muletas, a receber a Bola de Ouro e o catalão Pep Guardiola a tornar o Manchester City no primeiro emblema de sempre do futebol inglês a vencer quatro campeonatos seguidos.

Num 2024 que ficará sempre marcado pela despedida e pela viagem ao ‘senado’ dos imortais do germânico Franz Beckenbauer, lenda da Alemanha, do Bayern Munique e de uma época da própria história do futebol, falecido logo em janeiro, a Argentina, de Lionel Messi, voltou a conquistar a Copa América, enquanto o francês Kylian Mbappé ‘consumou’ o longo namoro com o Real Madrid.

Quando isso aconteceu, já os ‘merengues’ tinham garantido a 15.ª ‘Champions’ da sua história, em 1 de junho, com um triunfo em Londres por 2-0 sobre o Borussia Dortmund.

Dias antes, a Atalanta tinha conquistado a Liga Europa, a sua primeira prova europeia de sempre, batendo em Dublin por 3-0 o Bayer Leverkusen, que, mesmo assim, também deixou a sua marca em 2024 (e de que forma).

Sob o comando de Xabi Alonso, mais um espanhol, o Bayer Leverkusen venceu pela primeira vez em toda a sua historia a Bundesliga e bateu o recorde europeu de jogos de um clube sem perder em todas as provas, com 51, contagem que terminou precisamente na Irlanda.

A Liga Conferência foi para os gregos do Olympiacos, que também nunca tinham levantado um troféu europeu.

Nas chamadas ‘big 5’, o Paris Saint-Germain fez o tricampeonato em França, o Inter Milão recuperou o ‘scudetto’ em Itália, o Real Madrid juntou a ‘Champions’ à ‘La Liga’, mas foi o título do Manchester City, na Premier League, que teve mais impacto.

Com Pep Guardiola, e também com Ruben Dias, Matheus Nunes e Bernardo Silva, o Manchester City tornou-se na primeira equipa, numa história que ultrapassa os 100 anos, a conquistar quatro campeonatos seguidos em Inglaterra.

Com as ligas fechadas, seguiu-se o futebol de seleções, com especial atenção para o Euro2024, que decorreu na Alemanha, e que acabou com sucesso espanhol.

Sob o comando do ‘desconhecido’ Luis de la Fuente, a Espanha foi claramente a melhor equipa em solo germânico, batendo na final a ‘infeliz’ Inglaterra (segunda final seguida em que foi derrotada), por 2-1, tornando-se na primeira seleção a vencer o torneio por quatro vezes (1964, 2008, 2012 e agora 2024).

Já depois de ser determinante na conquista do Manchester City, Rodri foi mesmo eleito o melhor jogador do Euro2024, acabado mais tarde vencedor da Bola de Ouro.

O médio, que se lesionou com gravidade no inicio da nova temporada, recebeu o prémio de muletas, numa cerimónia marcada pelo boicote do Real Madrid, que esperava a vitória do brasileiro Vinicius Júnior.

Fora de campo, Rodri foi igualmente o rosto do desagrado que parece ser cada vez maior entre os jogadores por causa do número excessivo de encontros numa só temporada. O médio chegou mesmo a defender uma greve para lutar contra essa situação.

Se já não fosse suficiente, o futebol espanhol também foi buscar o ouro nos Jogos Olímpicos de Paris2024, ao bater a França na final por 5-3 no torneio masculino.

A prova feminina foi para os Estados Unidos, que bateram o Brasil por 1-0.

Na América do Sul, a Argentina manteve a ‘sede’ de títulos e tornou-se bicampeã da Copa América, batendo a Colômbia (1-0) na final, em Miami, na Florida, nos Estados Unidos.

Antes disso, nenhuma seleção tinha conseguido conquistar duas Copas Américas e Campeonato do Mundo de forma seguida.

2024: Neemias Queta entrou para história como primeiro português campeão da NBA

Neemias Queta entrou para a história como o primeiro português campeão da liga norte-americana de basquetebol (NBA), num ano de 2024 ‘monstruoso’ para o ciclista esloveno Tadej Pogacar e de despedida para o tenista espanhol Rafael Nadal.

Após dois anos de pouca utilização nos Sacramento Kings, que o escolheram na 39.ª posição do ‘draft’ de 2021, o primeiro português a jogar na NBA mudou-se para os Boston Celtics em 2023/24 e fez, logo nessa época, mais jogos do que nas duas anteriores (28 contra 20), mesmo não sendo uma opção clara para o treinador Joe Mazzulla.

Na presente temporada, com o treinador a dizer que não sabe o quão bom pode ser, Neemias Queta passou a ser presença e aposta regular, chegando mesmo a ser titular em algumas partidas.

Mesmo com lesões a afetar os últimos meses da época, também Nuno Borges teve um ano de afirmação, com a conquista do seu primeiro título ATP, em Bastad, na Suécia, onde se tornou o quinto tenista a derrotar o espanhol Rafael Nadal numa final em terra batida.

O maiato chegou ainda pela primeira vez aos oitavos de final de um torneio do Grand Slam, no Open da Austrália e no Open dos Estados Unidos, e estreou-se no top 30 mundial, feitos que apenas tinham sido alcançados por João Sousa, o melhor tenista português de sempre, que também se retirou esta temporada, após uma carreira em que conquistou quatro títulos ATP.

Mesmo num ano menos exuberante em termos de resultados e afetado por nova infeção por covid-19 na Volta a Espanha, quando parecia poder lutar pelo pódio, João Almeida tornou-se o segundo melhor ciclista português de sempre na Volta a França, que terminou na quarta posição, e o primeiro a fechar as três grandes Voltas no top 5.

Aos 25 anos, o ciclista de A-dos-Francos concluiu a estreia no Tour na quarta posição, superando o quinto posto de José Azevedo em 2004 e ‘aproximando-se’ de Joaquim Agostinho, o único luso a subir ao pódio da maior prova velocipédica internacional, ao ser terceiro em 1978 e 1979.

Na piscina, Diogo Ribeiro fez história, ao sagrar-se campeão mundial nos 50 e 100 metros mariposa em Doha, nuns Mundiais sem muitas das grandes figuras, tal como aconteceu nos Europeus de Belgrado, em que Camila Rebelo se tornou a primeira lusa a vencer uma medalha de ouro, nos 200 costas.

A nível internacional, 2024 ficou marcado pelo ano de domínio completo de Tadej Pogacar nas estradas e pela despedida de Rafael Nadal, o segundo do ‘big-3’ do ténis mundial a pendurar a raquete, após o suíço Roger Federer.

Com um ataque a cerca de 100 quilómetros da meta, Pogacar sagrou-se pela primeira vez campeão mundial de fundo, conseguindo uma quase inédita ‘coroa tripla’, depois de já ter ganhado, com grande autoridade, a Volta a Itália e da Volta a França, algo que só dois ciclistas haviam conseguido no passado, o belga Eddy Merckx em 1974 e o irlandês Stephen Roche em 1987.

Contudo, o ano de Pogacar foi ainda mais impressionante, uma vez que ainda conquistou dois ‘monumentos’, a Liège-Bastogne-Liège e a Volta à Lombardia, além da clássica Strade Bianchi, seis vitórias em etapas no Tour e outras tantas no Giro.

No final de uma era no ténis mundial, Rafael Nadal despediu-se em casa, nas finais da Taça Davis em Málaga, com a Espanha a perder nos quartos de final, tornando-se o segundo do ‘big-3’ a terminar a carreira, depois de Roger Federer, sobrando apenas o sérvio Novak Djokovic, que chegou ao tão desejado ouro olímpico.

Após vários anos afetados por lesões, Nadal, que não vencia qualquer troféu desde 2022, quando conquistou pela 14.ª vez Roland Garros, terminou a carreira com 22 títulos de torneios do Grand Slam, além de ter sido campeão olímpico de singulares no Rio2016.

Durante alguns anos, o ‘big-3’ chegou a ser ‘big-4’, com o britânico Andy Murray, que também fez a sua despedida em 2024, após os Jogos Olímpicos Paris2024.

Nos motores, o neerlandês Max Verstappen somou o quarto título consecutivo na Fórmula 1, mesmo com um Red Bull menos dominador, o espanhol Jorge Martin (Ducati) sagrou-se pela primeira vez campeão mundial de MotoGP e o belga Thierry Neuville (Hyundai) conquistou o WRC.

2025: Portugal tenta Liga das Nações e Mundial nos 40 anos de Ronaldo

Portugal vai lutar pela conquista da Liga das Nações de futebol e pela qualificação para o próximo Campeonato do Mundo, num ano de 2025 que logo cedo irá ficar marcado pelos 40 anos do capitão Cristiano Ronaldo.

A nível de seleções, o futebol português terá ainda a participação da equipa feminina na fase final do Europeu da Suíça, enquanto em termos de clubes o campeonato está totalmente aberto, com os ‘três grandes’ na luta pelo título, embora com ‘emoções’ bem distintas.

O avançado Viktor Gyökeres, do Sporting, conquistou o ‘mundo’ no final de 2024 e o novo ano inicia com várias interrogações sobre o futuro do sueco que poderá fazer uma transferência histórica no futebol nacional, logo em janeiro, para pesadelo dos adeptos ‘leoninos’, ou então só no verão.

Entre objetivos e conquistas, 2025 vai logo ficar marcado, mais uma vez, por Cristiano Ronaldo, mas desta vez porque assinala os seus 40 anos em 5 de fevereiro, numa altura em que continua a capitanear a seleção nacional e a marcar golos no Al Nassr, da Arábia Saudita.

Com 217 internacionalizações e 135 golos, todos recordes absolutos mundiais, o avançado madeirense não parece estar perto de finalizar a carreira e terá mesmo em mente fazer parte da participação de Portugal no Mundial2026, que vai decorrer nos Estados Unidos, Canadá e México.

Para isso, terá de ajudar a equipa de Roberto Martínez a alcançar a qualificação, com essa fase a acontecer apenas na segunda metade do ano.

Antes, Portugal terá a Liga das Nações (que terá igualmente impacto no trajeto para o próximo Campeonato do Mundo), com o primeiro desafio agendado para março, com a Dinamarca, nos quartos de final, num duelo a duas ‘mãos’.

Caso vença, a seleção nacional segue para a ‘final four’ em junho, em que vai tentar voltar a conquistar a prova, depois do sucesso em 2019, na primeira edição da competição.

Um mês depois, na Suíça, as atenções estarão viradas para a seleção feminina que, na sua terceira presença seguida, vai tentar a sua sorte num Europeu com o objetivo de passar pela primeira vez uma fase de grupos.

Na I Liga, o ano arranca com Sporting, Benfica e FC Porto claramente na luta pelo título, embora com ‘humores’ diferentes, algo que pode mudar a qualquer momento.

A época arrancou em agosto do ano passado com um Sporting dominador, um FC Porto a crescer e um Benfica em crise, mas tudo mudou depressa e, no novo ano, os ‘encarnados’  prometem entrar em força, com ‘leões’ e ‘dragões’ com sérios problemas na sua estrutura e de ‘costas voltadas’ com os adeptos.

Mesmo assim, o Sporting, com ou sem João Pereira, continua a sonhar com o bicampeonato, algo que não sucede há 70 anos, embora sempre dependente de Gyokeres, a sua ‘máquina’ dos golos.

2025 pode logo começar com o sueco a despedir-se de Alvalade, cenário que passou de praticamente impossível para algo que realmente poderá suceder, isto por causa da saída de Ruben Amorim para o Manchester United e pelos resultados negativos com João Pereira.

Após as contas da I Liga, Benfica e FC Porto vão ainda fazer parte do novo formato do Mundial de clubes da FIFA, que vai decorrer em junho e julho nos Estados Unidos.

2025: Mundial de clubes nos EUA com Benfica e FC Porto

O novo formato do Mundial de clubes, com 32 equipas, incluindo Benfica e FC Porto, promete marcar o futebol internacional em 2025, ano em que haverá vencedor da Liga das Nações e campeão europeu feminino de seleções.

O novo ano vai testar a ‘revolução’ imposta pela FIFA com a introdução de um amplo Campeonato do Mundo de clubes, que vai decorrer entre junho e julho nos Estados Unidos, e também os novos formatos da UEFA para as provas europeias como a Liga dos Campeões, Liga Europa e Liga Conferência, que foram completamente alteradas.

Certo é que, em 2025, a nível de seleções, haverá um novo vencedor da Liga das Nações, com Portugal na corrida a repetir o sucesso de 2019, embora, em março, a seleção lusa terá pela frente a Dinamarca nos oitavos de final.

Alemanha, Itália, Países Baixos, Croácia, França e Espanha, atual detentora do título, estão igualmente na luta pelo troféu, com a ‘final four’ marcada para junho.

Além desta competição, o futebol europeu terá o apuramento para a fase final do Mundial2026 com mais um novo formato, desta vez com 12 grupos, seis de cinco seleções e seis de quatro, devido ao alargamento da competição para 48 seleções, 16 delas da Europa.

Na Suíça, o Europeu feminino, pela terceira vez seguida, volta a ter Portugal, e a equipa das ‘quinas’ vai tentar impedir as favoritas Alemanha, França, Inglaterra e Países Baixos de seguirem em frente na competição, ou até, entrar na luta pelo apuramento inédito na fase de grupos. As inglesas defendem o título.

A nível de clubes, as atenções estão viradas para o Manchester City, de Pep Guardiola, que parece a caminho de perder a hegemonia em Inglaterra, e também para o Real Madrid, com Carlo Ancelotti a ter vida difícil no Bernabéu, apesar de toda as conquistas que já alcançou com o clube.

2025: Mudanças de ciclo no olimpismo marcam ano desportivo nacional e internacional

As eleições para a presidência do Comité Olímpico de Portugal (COP) marcarão um 2025 de novos ciclos institucionais, cá e lá fora, com os ‘novos ventos’ desportivos a prometerem contudo não ameaçar hegemonias instaladas.

O final de uma olimpíada representa invariavelmente o fim de ciclos institucionais, nomeadamente no Comité Olímpico de Portugal e no seu congénere internacional. Se por cá são quatro os candidatos anunciados, ao Comité Olímpico Internacional (COI) concorrem sete pretendentes a suceder ao alemão Thomas Bach, que atingiu o limite de mandatos.

O último trimestre de 2024 ficou marcado pelo fim de ‘reinados’ nas federações nacionais, desde logo em algumas das principais, como o atletismo, a canoagem, o ciclismo ou a natação, e fará o mesmo no futebol, com Fernando Gomes a despedir-se com os pergaminhos de ter ‘conquistado’ o título europeu, em 2016, e a organização do Mundial2030, juntamente com Espanha e Marrocos.

Gomes foi, aliás, um dos nomes mais falados para avançar para o COP, mas, até ao momento, os candidatos são outros: José Manuel Araújo, o atual secretário-geral do organismo, os ex-secretários de Estado do Desporto Laurentino Dias e Alexandre Mestre, e o antigo presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) Jorge Vieira.

Para terem as suas candidaturas às eleições de 19 de março formalizadas, os quatro precisam que, “pelo menos, um quarto das federações desportivas cujas modalidades figurem no programa dos Jogos Olímpicos” as subscrevam, sendo que estas serão 34 a partir de 01 de janeiro de 2025.

As eleições do COP coincidem também no tempo com as do COI, com o sucessor de Thomas Bach a ser conhecido na 144.ª Sessão do COI, agendada entre 18 e 21 de março, na Grécia.

São candidatos à liderança do organismo quatro presidentes de federações internacionais: o antigo campeão olímpico britânico Sebastian Coe (atletismo), o francês David Lappartient (ciclismo), o japonês Morinari Watanabe (ginástica) e britânico Johan Eliasch (esqui).

Na lista de sete candidatos há apenas uma mulher, a antiga nadadora Kirsty Coventry, do Zimbabué, com a campeã olímpica em Atenas2004 e Pequim2008 nos 200 metros costas a tentar terminar com o domínio masculino nos 130 anos de história do COI.

Filho de Juan Antonio Samaranch, que liderou o COI de 1980 a 2001, o espanhol Juan Antonio Samaranch Jr. é um dos quatro vice-presidentes do organismo e procura ‘imitar’ o pai e ser eleito presidente, a mesma ambição do príncipe Feisal al Hussein, da Jordânia, membro do organismo desde 2010.

A ‘dança de cadeiras’ institucional pouco ou nada alterará, no entanto, o panorama desportivo internacional, onde só um ‘terramoto’ impediria que Max Verstappen, Tadej Pogacar ou Jannik Sinner prolongassem as suas hegemonias.

Apesar de ter tido um carro menos dominador do que o habitual, o piloto neerlandês da Red Bull festejou o tetracampeonato na Fórmula 1 – ao contrário da sua escuderia, que perdeu o título de construtores para a McLaren – e demonstrou que é praticamente invencível, uma perceção que nem a futura parceria entre Lewis Hamilton e Charles Leclerc na Ferrari consegue abalar.

Outro que dificilmente será destronado é Tadej Pogacar, o campeão mundial de fundo que também é o atual detentor do Giro e do Tour. O ciclista esloveno está um degrau acima de todos os adversários, inclusive de Jonas Vingegaard, que mesmo que em 2025 chegue sem azares à Volta a França, terá uma missão hercúlea na tentativa de impedir o ‘tetra’ do líder da UAE Emirates.

Tão expectável é que Armand ‘Mondo’ Duplantis continue a bater sucessivamente recordes do mundo no salto com vara que o sueco pode já entrar em futuras listas dos melhores do próximo ano, onde também deverá figurar Jannik Sinner, caso o Tribunal Arbitral do Desporto não dê provimento ao recurso da Agência Mundial Antidopagem (AMA).

Primeiro tenista da história a ganhar dois Grand Slams (Open da Austrália e Estados Unidos), as ATP Finals e a Taça Davis no mesmo ano, o italiano tem a justiça como grande adversária, após ter dado positivo duas vezes por clostebol.

Ilibado por um painel independente da Agência Internacional para a Integridade do Ténis (ITIA, nas suas siglas em inglês), que considerou que os positivos resultaram de uma contaminação, o italiano aguarda agora a decisão do TAS sobre o recurso da AMA, que solicitou "um período de suspensão de entre um a dois anos".

Se este pedido for negado, Sinner deverá continuar a dominar o ténis, num ano em que Novak Djokovic, agora com Andy Murray como treinador, espera voltar a vencer um ‘major’, depois de, pela primeira vez desde 2017, ter ficado em ‘branco’.