Foi apenas na reta final do debate na Assembleia da República dos Programa de Estabilidade e Nacional de reformas que Mário Centeno foi diretamente questionado sobre a recente injeção de dinheiro público de 850 milhões de euros no Novo Banco.
"Não permitirei enquanto ministro das Finanças que uma instituição bancária com as portas abertas possa ser prejudicada por um debate parlamentar sem qualquer sentido", disse, acrescentando que não se pode confundir o que foi a resolução do BES com a instituição Novo Banco.
Depois de ser desafiado pelo deputado do PSD Álvaro Almeida a dizer se "era um ministro de faz de conta" e qual seria "o preço a pagar" pela reafirmação da confiança política do primeiro-ministro, Mário Centeno respondeu no mesmo tom.
"Para fazer esse desempenho de faz de conta espero que tenha pago um preço baixo para estar nessa bancada, senão foi enganado", disse, levando Álvaro Almeida a pedir a defesa da honra.
O deputado do PSD lamentou que, "em vez de esclarecer o país sobre a sua posição no Governo", o ministro tenha feito "insinuações" sobre a forma como chegou à bancada social-democrata.
"Fui eleito pelos portugueses, contrariamente ao senhor ministro que foi nomeado", disse, com Centeno a responder que também ele foi eleito deputado, mas como "felizmente" o PS teve mais votos do que o PSD, hoje está No Governo e Álvaro Almeida na oposição.
O ministro das Finanças reiterou ainda que "não houve nenhuma injeção de capital no Novo Banco sem auditorias".
"Podemos e devemos tomar decisões com o máximo de informação disponível, mas não há ausência de controlo", assegurou.
A deputada do BE Mariana Mortágua tinha defendido no debate que o Novo Banco apresentava "há anos prejuízos astronómicos" e desafiado o ministro a dizer se era ou não desejável a realização de uma auditoria prévia à injeção de 850 milhões de euros.
"Foi pedida uma auditoria especial, o primeiro-ministro comprometeu-se publicamente a não fazer uma nova injeção sem que os resultados desta fossem conhecidos. O compromisso foi violado pelo ministro das Finanças, o primeiro-ministro pode ter voltado atrás, mas o BE não", assegurou.
Na resposta, o ministro salientou que o Novo Banco "emprega milhares de trabalhadores, é a guarda das poupanças de milhões de portugueses" e é nesta instituição que "milhares de empresas têm os seus créditos".
"Auditorias várias, inspeções, verificações e comissões de acompanhamento antecedem qualquer injeção de capital e qualquer empréstimo do Estado", afirmou Centeno.
O deputado do PSD Duarte Pacheco lamentou que tenha faltado "estabilidade governativa no momento essencial da política e da economia por responsabilidade do próprio Governo".
"Se assim não fosse não tínhamos passado os últimos dias com o ministro das Finanças a criticar abertamente o primeiro-ministro, o Presidente da República pelos vistos a tomar partido e depois a telefonar a pedir desculpas", afirmou, falando numa "confusão" institucional.
Tal como tinha feito Álvaro Almeida, também Duarte Pacheco se referiu ao comunicado emitido na quarta-feira pelo gabinete de António Costa, em que o primeiro-ministro reafirmou a sua confiança política em Mário Centeno, depois de uma reunião entre ambos.
"O senhor primeiro-ministro tem prazer em ser o último a saber, há algo que tem de mudar na política portuguesa", disse.
Estas intervenções levaram Mário Centeno a dizer que o PSD veio para o debate de hoje "sem alternativas, sem ideias e de mãos a abanar".
Em resposta ao deputado do PS Filipe Neto Brandão, Mário Centeno assegurou que no Orçamento Suplementar que o Governo já se comprometeu a entregar no parlamento em junho será apresentado "um quadro macroeconómico completo", dizendo que tal não foi feito neste Programa de Estabilidade por faltar informação essencial como a dimensão da resposta europeia.
Pela bancada do PCP, o deputado António Filipe assegurou que o seu partido não está "nada preocupado com psicodramas da relação política do primeiro-ministro com ministro das Finanças", mas sim com a "situação dramática" pela qual o país está a passar.
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