“A Europa, em 2020, foi capaz de desbloquear a interação entre a política monetária e a política fiscal e as externalidades desta interação são tão grandes, que é muito difícil identificar limites num sentido ou noutro. Acho que temos de continuar a explorar estas interações, pondo de lado preocupações de dominância fiscal ou outras formas de limite à ação das políticas monetária ou fiscal”, afirmou Centeno.
O governador do BdP falava durante um ‘webinar’ sobre “Política monetária em transição", promovido pelo Institute of International and European Affairs, e comentava declarações feitas na terça-feira pelo ministro das Finanças português, João Leão, segundo o qual “a política monetária está esgotada”.
Na sua intervenção, Mário Centeno considerou que “a resposta dada à pandemia é um exemplo impressionante do poder da interação entre as políticas monetária e fiscal”, que “sempre existiu”, mas cujos benefícios resultantes da sua coordenação esta crise “tornou mais claros”.
“A política monetária assegurou o correto funcionamento do sistema de financiamento no pico da crise, mas a política fiscal desempenhou um papel complementar imediato e crucial, nomeadamente para as empresas e as famílias”, considerou.
Segundo o antigo presidente do Eurogrupo e ex-ministro das Finanças de Portugal, “os bancos centrais ficam, definitivamente, muito satisfeitos por não terem a política monetária como a única opção disponível”, devendo a União Europeia “continuar o focar-se nesta interação entre políticas” monetária e fiscal.
À medida que a incerteza “começa a diminuir”, Mário Centeno defende também que “as medidas [de apoio] precisam de ser ajustadas, particularmente para suportar os setores mais vulneráveis”, devendo estas “novas políticas direcionadas ser combinadas com medidas que melhorem os fundamentais da economia e suportem a transição verde e digital prevista na agenda europeia”.
“Precisamos de acomodar nas nossas políticas futuras que a crise, que começou por ser absolutamente simétrica e exógena, à medida que evoluiu continuou exógena (porque não há desequilíbrios acumulados), mas já não é simétrica, porque a pandemia afetou uns setores muito mais seriamente do que outros”, afirmou.
Relativamente ao futuro, o governador do BdP avisa: “Não nos devemos enganar a nós próprios. As decisões tomadas em 2020, por muito corajosas que tenham sido, foram mais simples de desenhar do que o que vem a seguir”.
E – segundo Centeno – tal assume “particular importância num cenário de dívida elevada, que traz uma vulnerabilidade adicional à união monetária descentralizada” da União Europeia: “A ausência de um balanço totalmente consolidado expõe os governos a um maior risco de crise de dívida”, alerta.
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