A Fundação Oceano Azul lançou o “Blue Natural Capital Challenge”, uma iniciativa em que desafia economistas a juntarem-se com juristas, cientistas, marketeers e/ou outros para, em conjunto, desenvolverem instrumentos que contribuam para a valorização económica do capital natural marinho português.

Sob o tema “Take less, Earn more”, a primeira edição deste concurso quer atrair projetos que valorizem o pescado nas Áreas Marinhas Protegidas (AMP) e áreas envolventes. Desta forma, os organizadores acreditam que irão aumentar o valor comercial do pescado através da valorização da sua origem, uma garantia de qualidade.

Em Portugal, a pesca e a aquacultura são os subsectores da fileira do pescado menos lucrativos da economia do mar. A parte mais lucrativa encontra-se nas etapas finais da cadeia de valor, sobretudo na venda ao consumidor final. Assim, a rentabilidade das empresas de pesca é diminuta e a produção média por pescador situa-se significativamente abaixo de outros países europeus. A baixa produtividade do setor é ainda agravada pela ausência de conhecimento de muitos dos stocks pesqueiros e de tecnologias aplicadas à valorização do pescado que permitam melhorar a sua conservação e transformação, e logo, diversificar o negócio.

No setor das pescas, o volume de negócios está ainda limitado pela escassez do recurso, pelo que o crescimento económico deve estar assente na criação de mais valor por unidade de captura. A sustentabilidade financeira da atividade requer ainda que o lucro seja mais equitativamente distribuído na cadeia de valor. 

Olhando em específico para o nosso país, a pesca portuguesa é uma das mais diversificadas da UE, tanto em variedade de frota como de espécies capturadas: cerca de 200 espécies incluindo peixes, bivalves, moluscos e crustáceos, muitas delas pouco abundantes ou com pouca expressão económica. Esse fator de diferenciação é todavia subvalorizado, estando o rendimento dos pescadores limitado à quantidade de pescado capturado.

A qualidade posiciona-se, assim, como fator de diferenciação fundamental e, logo, de valorização, no setor das pescas. Para que seja possível implementar uma estratégia deste tipo, há que dirigir esforços do setor privado e público que possibilitem mudanças estruturais e organizacionais que alterem o atual paradigma. Algumas das soluções podem passar por sistemas de certificação de processos e práticas de captura, selos de qualidade e certificação de denominação de origem; mecanismos de valorização alicerçados na criação de áreas marinhas protegidas; campanhas junto dos consumidores; ou incentivos à diversificação dos produtos finais de venda.

No âmbito do desafio colocado pelo “Blue Natural Capital Challenge”, os concorrentes – que devem submeter as suas propostas até dia 20 de maio de 2022 – são desafiados a apresentar soluções que, simultaneamente, aumentem o valor do pescado nas áreas marinhas protegidas e diminuam o número de capturas.

À proposta vencedora será entregue um prémio de 150 mil euros para a sua implementação, a qual deverá ser uma intervenção de cariz económico, com contributos da área legal e da área de comunicação/marketing.