Ao intervir antes do início de um encontro a sós com o primeiro-ministro português, António Costa, que cumpre hoje o segundo e último dia da visita de trabalho a Angola, João Lourenço salientou que os investimentos na indústria transformadora, com base em matérias-primas e em materiais locais, a agricultura e a agroindústria são fundamentais para o mercado interno e para as exportações angolanas.

“Vemos com bons olhos a implantação de pequenas e médias empresas portuguesas no mercado angolano, dentro de uma lógica em que se estabeleçam no nosso país para produzir riqueza que resulte em benefícios importantes para ambos”, destacou João Lourenço.

Nesse sentido, o Presidente angolano, dirigindo-se a António Costa, encorajou-o a sensibilizar os investidores portugueses para aceitarem o desafio, “criando-lhes facilidades por via de linhas de crédito que os ajudariam a realizar negócios em Angola”.

“Do nosso lado, estamos a fazer uma aposta decidida na criação de um ambiente de negócios seguro e atrativo, no âmbito do qual os investidores deixam de se confrontar com obstruções resultantes de procedimentos exageradamente burocráticos para estabelecerem uma empresa ou negócio em Angola”, sublinhou.

Para João Lourenço, porém, há que ter em conta que, para todos esses objetivos, que “prevaleçam sempre o bom senso, pragmatismo e sentido de Estado”, para que as relações entre os dois países saiam “continuamente robustecidas” e possam fazer face, “e vencer” as “visões pessimistas” que, de quando sem quando, se procuram afirmar. “Encorajo, pois, a mantermos uma linha de diálogo permanente entre nós”, recomendou.

Segundo João Lourenço, os acordos que serão assinados entre os dois países, com realce para o programa Estratégico de Cooperação 2018/2022 e a Convenção para eliminar a Dupla Tributação em matéria de impostos e prevenir a fraude e a evasão fiscais, “vão dar certamente solidez e substância” à visita de António Costa. “Espero que estes instrumentos ajudem a criar sinergias que nos conduzam ao pragmatismo na realização de todos os atos que dão sustentação às relações de cooperação” entre os dois países, frisou.

Já António Costa respondeu com repto semelhante. Na sua intervenção, com cerca de 15 minutos, o líder do executivo português elogiou os progressos registados por Angola no plano da confiança económica, vincou que os investimentos angolanos são "bem-vindos" a Portugal.

"Angola é hoje um país que procura aprofundar um caminho de estabilidade, de abertura e progresso social. É um país que consolida a situação financeira e melhora a atratividade do mercado e o ambiente de negócios junto dos investidores externos", acentuou o líder do executivo português, num discurso que antecedeu o seu encontro a sós com o Presidente da República de Angola, João Lourenço.

Uma das notas centrais do discurso do primeiro-ministro residiu nas questões da reciprocidade e da igualdade numa relação entre dois Estados soberanos, cujas sociedades estão "unidas" por "laços históricos e afetivos".

António Costa frisou então que mais de mil empresas portuguesas de capitais mistos operam em Angola e que mais cinco mil firmas nacionais exportam para o mercado angolano - um dos dez maiores destinos de produtos nacionais.

"Não menos importante é a presença crescente de empresas e investidores angolanos no mercado português. Quero aqui deixar bem claro que Portugal continua aberto e deseja o aprofundamento da presença de Angola no país. Esta é uma parceria entre iguais, em que cada um contribui para a riqueza do outro e em que ambos beneficiam igualmente da relação", salientou o primeiro-ministro.

Também no seu discurso, António Costa voltou a referir-se à ideia de válvula de segurança existente entre os dois países, dizendo que os portugueses procuram Angola em situações de crise no seu país, assim como os angolanos contam com Portugal nas suas conjunturas de dificuldade.

"Agradeço a forma como Angola tem acolhido os nacionais e as empresas portuguesas. Nos anos de crise profunda, quando os portugueses precisaram de uma terra para encontrar trabalho, ou poderem investir, encontraram em Angola esse destino. Também quando Angola enfrentou dificuldades as empresas portuguesas não saíram, resistiram e escolheram continuar em Angola os seus projetos", sustentou.

Da mãos dadas na economia e na política

No plano político, António Costa registou "o apoio incansável concedido por Angola desde a primeira hora às candidaturas portuguesas" a posições de topo em instituições internacionais, casos das de António Guterres e de António Vitorino, assim como a convergência face aos mais importantes temas da política externa.

João Lourenço, por sua vez, refere que “há entre Angola e Portugal uma relação entre dois Estados independentes e soberanos, que respeitam e cujos Governos têm a responsabilidade de traçar políticas que garantam uma cooperação sólida em variados domínios e o estreitamento dos laços de amizade e de cooperação económica”, lembrou.

Segundo João Lourenço, Luanda tem consciência de que se “impõe a necessidades de se transformar os vastos recursos de que Angola dispõe em “riqueza real”, para se garantir o progresso e a melhoria significativa das condições de vida das populações.

Na intervenção, João Lourenço destacou também que Angola e Portugal, na qualidade de membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), têm procurado em conjunto “desempenhar um papel que contribua para a estabilidade, paz e segurança global”. Nesse quadro, e sobre a Guiné-Bissau, João Lourenço disse haver “sinais bastante encorajadores”, levando a pensar que as eleições gerais de novembro serão um “importante fator de consolidação da democracia, de concórdia e de união entre todos os guineenses”.

Grande preocupação manifestou João Lourenço em relação a Moçambique, onde, apesar dos resultados “animadores para superar alguns problemas” económicos que o país tem estado a enfrentar, há o “eclodir de algumas ações terroristas localizadas e pontuais contra populações civis”.

“Este flagelo dos tempos atuais não só afeta a segurança e estabilidade de Moçambique, como pode representar também um sério perigo em termos de expansão da sua ação para toda a região da África Austral”, concluiu.