“O ingresso no mundo do trabalho foi mais fácil para os mais velhos, que entraram antes da crise, e é mais difícil para os mais novos, que estão a tentar entrar no mundo do trabalho. Há o efeito da crise neste processo, mas estimo que à medida que for diluindo se vai tornar um pouco mais fácil para os jovens”, afirmou, em declarações à agência Lusa, Fernando Diogo, sociólogo e professor na Universidade dos Açores.
Fernando Diogo é o coordenador do estudo e do livro “Juventude Açoriana e o Mundo do Trabalho”, que é apresentado na terça-feira, às 18:30 locais (mais uma hora em Lisboa), no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada.
A obra tem 251 páginas e resulta de um estudo que uma equipa de investigadores da Universidade dos Açores - nas áreas da Sociologia e Matemática - realizou para o Governo dos Açores no âmbito de um projeto Observatório da Juventude dos Açores, numa colaboração entre o Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da academia açoriana e a Direção Regional da Juventude.
"A amostra é representativa da realidade da região e os dados foram recolhidos no início de 2015, quando ainda se verificavam os efeitos da crise", sublinhou o investigador, acrescentando que o estudo abrangeu jovens dos 15 aos 34 anos e foi subdividido em várias temáticas.
Fernando Diogo salientou que "a grande conclusão é que a juventude açoriana é muito diversa", com "situações muito diferentes", e o estudo sistematiza as diferentes situações na relação entre a escola e o mundo do trabalho.
"Encontramos uma grande diferença geracional entre os jovens e os seus pais. Os jovens hoje são muito mais qualificados do que os seus pais, apesar de todas as dificuldades, e a relação dos jovens com a escola melhorou muito", sublinhou.
"Quando se pede aos jovens para projetarem uma possível emigração vemos que há uma viragem completa para a Europa, a ideia de emigração para os Estados Unidos da América ou Canadá já não é uma ideia que esteja na cabeça dos jovens. E isto é o resultado de uma aproximação à Europa na identidade açoriana", frisou.
Por outro lado, o estudo demonstra que há uma relação com a escolaridade muito mais fácil para as raparigas do que para os rapazes.
O docente da Universidade dos Açores afirmou, contudo, que continuam "a existir elevados níveis de insucesso escolar, mesmo nos alunos com melhor desempenho".
Fernando Diogo sublinhou que "basicamente dois terços dos jovens açorianos perderam um ano no seu percurso escolar", mas conseguiram concluir uma escolaridade com sucesso, podendo-se concluir ainda que nos Açores os alunos que ingressam no ensino profissional "não são os piores do ensino regular".
"No ensino profissional em contexto laboral também há uma grande diferença, já que são normalmente os jovens mais qualificados os que mais acedem a esta forma de ensino pós-escolar", acrescentou.
Fernando Diogo sublinhou que o estudo agora apresentado em livro identifica essencialmente "uma grande transformação dos jovens em relação às gerações dos seus pais".
"O facto de haver muitas mulheres domésticas na geração dos pais, por exemplo, mas na dos jovens a condição de doméstica já é relativamente residual", assinalou.
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