"Com a incerteza elevada em que nos encontramos e a recuperação ainda fraca a que assistimos, os riscos de uma retirada precoce dos apoios parecem sérios exigindo avaliações cautelosas", afirmou hoje Mário Centeno em Lisboa durante a conferência "Banca do Futuro", organizada pelo Jornal de Negócios.

Durante a sua intervenção, o governador do BdP disse que os próximos meses serão "desafiadores" e assinalou que "distanciamento social não é sinónimo de confinamento", referindo que a atividade económica pode ser mantida a funcionar sem colocar em risco a segurança das populações.

"A utilização de máscaras, a realização de testes e a identificação de surtos são substitutos muito eficazes. Devemos usá-los", disse o governador do BdP, acrescentando que "a resposta em V quase perfeito” que a economia deu à redução parcial do confinamento deve ser lida como um alento para adaptar as medidas nesta fase, deixando a economia funcionar, sem perder de vista a segurança.

Para Mário Centeno, uma retirada precoce dos apoios ao emprego e ao crédito terá assim um “efeito desestabilizador nas condições de oferta e no ritmo de recuperação económica”.

No entanto, o governador do BdP admite que a extensão das medidas de apoio poderá dar origem “a uma indesejável manutenção do emprego e da afetação de emprego a empresas inviáveis”, o que pesará nas perspetivas de crescimento futuras sempre dependentes da realocação de recursos escassos.

Segundo o ex-ministro das Finanças, “tudo deve ser feito para que o choque verdadeiramente exógeno e sem precedentes possa contar com os bancos entre as suas vítimas. Por isso, discutir a banca do futuro é tão importante”, com o compromisso das autoridades orçamentais e monetárias europeias de se manterem atentas à evolução da economia e das suas vulnerabilidades.

"Os bancos enfrentam a crise pandémica com uma posição de liquidez mais sólida do que aquela que tinham na crise financeira de 2008, nomeadamente devido às reformas regulatórias", referiu ainda.

Isso permite, segundo Mário Centeno, “que os bancos façam parte da solução, ao contrário de 2008, quando foram parte do problema".

“A existência de um sistema financeiro robusto e saudável é fundamental para apoiar as economias”, sublinhou.

[Atualizada às 11:32]