António Pires de Lima falava no painel empresas, no âmbito do Encontro Fora da Caixa “Os desafios da Economia e a Importância do Emprego”, iniciativa da CGD, que decorreu na Escola Náutica Infante D. Henrique, em Oeiras.
Questionado sobre o que representa o facto de o rendimento médio anual bruto ser de 9.665 euros, de acordo com dados hoje divulgados pelo INE, o antigo ministro da Economia afirmou que isso diz que Portugal é um país onde “a maioria das pessoas, apesar de trabalhar e trabalhar muito, não têm através do seu trabalho acesso a uma vida digna” e isso “é um tema central”, quer na agenda política quer na empresarial.
O presidente da Brisa sublinhou ainda que Portugal é o país onde os jovens saem mais tarde de casa dos pais, depois dos 30 anos, em média.
“E não é porque os filhos, creio eu, queiram viver com a mãezinha e o paizinho até aos 31 ou 32 anos, é porque não têm possibilidades de sair”, apesar de terem um emprego, prosseguiu, referindo que saindo mais tarde de casa, mais tarde casam e dificilmente têm filhos, o que também se traduz num problema demográfico.
Trata-se de um “problema estrutural de dignidade e de sustentabilidade da nossa sociedade” e que “não tem solução fácil”, salientou o gestor.
“Paralelamente em Portugal tem-se cultivado ao longo dos tempos, e eu acho que não tem melhorado o ambiente cultural a esse respeito, uma cultura que não premeia a meritocracia”, criticou Pires de Lima.
E quem é que tem “a possibilidade de pagar salários melhores? As boas empresas, as empresas que ganham dinheiro”, mas “o que é se ouve em Portugal quando uma empresa apresenta lucros fortes? Esses lucros são obscenos, devem ser taxados com uma taxa especial, o que é bom é termos um universo constituído só por pequenas e médias empresas e, portanto, uma cultura destas o que propicia é um sistema empresarial onde as pessoas têm vergonha de ganhar dinheiro”, apontou.
“Quem ganha dinheiro procura esconder que ganha dinheiro e cria estímulos fundamentalmente para eternizarmos um tecido de pequenas e médias empresas quando a ambição de uma pequena e média empresa devia ser de uma grande empresa”, prosseguiu o presidente da Brisa.
Pires de Lima sublinhou que “são as empresas que têm modelo de sustentabilidade, que produzem riqueza, que têm valor acrescentado bruto grande, que apresentam lucros, que têm obrigação e podem pagar salários mais altos”, mas “está tudo invertido”.
Aliás, “é difícil ambicionarmos ter uma economia rica que possa pagar bons salários se no final aquilo que cultivamos do ponto de vista de cultura política é uma cultura em que aquilo que valorizamos são pequenas empresas, empresas que não apresentam lucros”, considerou.
O tecido destas empresas, que não são muitas, “são 800 em Portugal, eu duvido – mas já agora gostava que apresentassem dados – que os salários médios dessas grandes empresas, aquelas que são mais maltratadas do ponto de vista mediático, tenham alguma coisa a ver com os salários médios que paga a economia nacional”.
Muitas vezes pagam “o dobro ou o triplo” e têm “um papel fundamental na agenda da inovação”, portanto, “aquilo que nós devíamos procurar admirar, copiar são os exemplos das boas empresas e isso nem sempre está estabelecido na nossa cultura”, disse, referindo que “o que seria chocante é que uma empresa que apresenta lucros tivesse como bitola pagar” salário mínimo aos colaboradores.
Ou seja, é preciso trabalhar para criar cultura “que ponha a competitividade, o crescimento, a valorização das empresas, a criação de modelos de negócio que tenham o valor acrescentado bruto como prioritário, em vez de valorizarmos aquilo que é pequenino”, rematou.
O presidente executivo da Mota-Engil, Gonçalo Moura Martins, referiu concordar com o tinha sido referido pelo presidente da Vila Galé e por Pires de Lima relativamente à meritocracia.
“Temos uma cultura no contexto mediático de mediocridade e esse conceito alimenta a mediocridade e é muitas vezes difícil sair desse círculo vicioso como explicou muito bem o António [Pires de Lima]”, referiu o líder da construtora.
As empresas “é que fazem a economia de um país”, sublinhou Gonçalo Moura Martins.
“Um contexto que não alimente o crescimento dessas empresas, o mérito dessas empresas (…), é uma sociedade que não cuida de si própria”, salientou, porque só as grandes empresas “é que têm futuro”.
Por sua vez, Francisco Cary, da CGD, salientou que um dos grandes desígnios é ter uma política de crescimento económico pois só assim é que as empresas “conseguem desenvolver mais e pagar maiores salários”.
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