"África foi abandonada ao seu destino para enfrentar os desafios do terrorismo, quer seja na região do Sahel, ou no Corno de África, ou até mesmo na África Austral, em Moçambique", disse Sall num discurso no Fórum da Resiliência do Futuro, que decorreu em Londres com o objetivo de encontrar soluções para ameaças, alterações climáticas e outros desafios globais.

De acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, Macky Sall afirmou: "O avanço do terrorismo no continente não é só uma questão africana, seria um erro acreditar que cabe aos africanos resolver esta questão".

Para o antigo Presidente senegalês, as missões de paz das Nações Unidas "são basicamente ineficazes e inapropriadas para a situação no terreno", não conseguindo, por isso, resolver os problemas de segurança em África.

"Os mandatos não existem, os meios não estão lá, e o que realmente é preciso é ter tropas africanas a operar dentro do enquadramento da arquitetura de paz e segurança africana, com o apoio financeiro e logístico das Nações Unidas e de outros parceiros como a União Europeia", defendeu o antigo chefe de Estado.

Apesar de o Senegal ter sido geralmente poupado às insurgências que afetam os seus vizinhos, as suas tropas chegaram a apoiar o exército do Mali, primeiro como parte do apoio militar africano, e depois como parte da missão das Nações Unidas nesse país.

A região do Sahel tem sido muito afetada por conflitos, com três países (Níger, Mali e Burkina Faso) a serem agora dominados por uma juntas militares que tomaram o poder através de golpes de Estado.

Durante a passagem por Londres, Macky Sall deu também uma entrevista à televisão da Bloomberg para desmentir as conclusões de uma auditoria às contas públicas, encomendada pelo novo primeiro-ministro, Ousmane Sonko, e que dá conta da existência de mais dívida e défice do que aquele que foi contabilizado nas contas públicas.

"Lamento os comentários do primeiro-ministro, que são totalmente falsos e levaram a uma descida do rating do Senegal", disse Sall na primeira resposta à divulgação da auditoria, no final de setembro, na qual se afirma que o rácio média da dívida pública foi de 76,3% nos cinco anos do mandato de Sall, e não os 65,9% registados, além de um défice de mais de 10% do PIB no final do ano passado, mais do dobro do reportado nas contas públicas.

Radicado em Marrocos desde a saída do poder, Macky Sall argumentou que não é possível financiar o desenvolvimento económico dos países africanos sem contrair dívida, mas rejeitou que os números apresentados não fossem os verdadeiros.

"Não podemos meter na cabeça que nos podemos desenvolver sem dívida, isso não é possível, mas não podemos confundir pedirmos emprestado para financiar o desenvolvimento, com sobre-endividamento", salientou o antigo governante, apontando o financiamento de autoestradas e a construção da cidade de Diamniadio, perto de Dacar, para descongestionar a capital.

No seguimento da divulgação da auditoria, a agência de notação financeira Moody's desceu o rating do país para B1, quatro níveis abaixo da recomendação de investimento.

O Senegal, que garantiu um financiamento de 1,8 mil milhões de dólares, cerca de 1,6 mil milhões de euros, do Fundo Monetário Internacional (FMI) no ano passado, está à beira de tornar-se um importante produtor de petróleo e gás, com a economia a crescer 6% este ano apesar de um terço dos 18 milhões de habitantes viverem na pobreza.

Em junho, o Senegal emitiu dívida no valor de 750 milhões de dólares, 687 milhões de euros, no âmbito de um plano abrangente que prevê investimentos de 30,5 mil milhões de dólares (28 mil milhões de euros) nos próximos cinco anos para financiar o desenvolvimento desta nação da costa oeste africana, e que é o país continental mais perto de Cabo Verde.

MBA // VM

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