Diante de dezenas de nigerinos deslocados e refugiados que fugiram do Mali e do Burkina Faso, reunidos no pátio de uma escola, Guterres apelou a uma maior assistência internacional ao Níger, que, além dos ataques, enfrenta também a seca e os efeitos das alterações climáticas.

"A presença de grupos armados no norte do Mali não nos permite regressar hoje a casa em segurança (...). É por isso que lhe pedimos que continue a fazer da nossa situação uma das suas prioridades", pediu ao líder da ONU o porta-voz dos refugiados malianos, Aminata Wallet Issafeitane.

"Podem contar comigo para exigir da comunidade internacional um forte apoio ao exército do Níger, para que tenha a capacidade de melhor vos proteger", respondeu Guterres, mas também para pedir "que apoie o povo do Níger e os refugiados com os recursos necessários para que haja escolas para todos, hospitais que trabalhem".

Sublinhou que estava a terminar a sua visita ao Níger, que começou na segunda-feira em Niamey, agora "com as populações mártires de Ouallam", uma cidade da região de Tillabéri situada na chamada zona das "três fronteiras" entre o Níger, Burkina Faso e Mali, que tem sido palco de ações sangrentas de movimentos ligados à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado Islâmico desde 2017.

O secretário-geral da ONU insistiu que o exército nigerino "não está suficientemente equipado contra grupos terroristas", sublinhando: "Temos de investir no exército do Níger".

"Agora que houve golpes de Estado no Mali e no Burkina [em 2020 e 2022], o Níger deve ser um muro que os terroristas não são capazes de atravessar", sustentou.

Sem jornalistas, efetuou uma longa visita às forças especiais nigerinas baseadas em Ouallam e supervisionadas pelos exércitos francês e norte-americano.

O Níger, um dos países mais pobres do mundo, acolhe 250.000 pessoas deslocadas e mais de 264.000 refugiados nigerinos e malianos, além de mais de 13.000 burquinabês a fugir da violência extremista, de acordo com a ONU. A violência levou ao encerramento de 800 escolas com mais de 69.400 alunos.

Este ano, o Níger foi também atingido por uma grave crise alimentar devido à seca e à violência 'jihadista' que impediu os agricultores de cultivarem os seus campos.

De acordo com Niamey, mais de 4,4 milhões de pessoas "estarão em grave insegurança alimentar" a partir de julho, ou seja, cerca de 20% da população. Ouallam está entre as áreas mais afetadas, segundo a ONU.

A taxa de desnutrição aguda entre as crianças nigerinas será de 12,5%, ultrapassando o limiar de emergência de 10% estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

António Guterres termina na quarta-feira um périplo por três países africanos -- Senegal, Níger e Nigéria -, onde tem defendido mais investimento internacional para combater os efeitos da covid-19 e da guerra na Ucrânia e também o impacto do terrorismo.

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