
De acordo com o estudo da Fundação estatal Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Socioambiental (ISA), o mercúrio foi detetado em todas as amostras de cabelo de 287 indígenas recolhidas em outubro de 2022 em nove aldeias Yanomami, cuja indígena reserva é a maior do Brasil.
O território Yanomami, localizado nos estados amazónicos de Roraima e Amazonas, na fronteira do Brasil com a Venezuela, acolhe 31 mil indígenas, que vivem em 370 comunidades.
"Esse cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região e, potencialmente, pode favorecer o surgimento de manifestações clínicas mais severas relacionadas à exposição crónica ao mercúrio, principalmente nos menores de 5 anos", explicou o coordenador do estudo, Paulo Basta, em comunicado.
Em 84% das amostras, foram detetados níveis de contaminação por mercúrio acima de 2,0 microgramas, o dobro do índice considerado crítico pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por outro lado, em 10,8% das amostras o nível de contaminação ultrapassou 6,0 microgramas.
Segundo a Fiocruz, os maiores níveis de contaminação foram encontrados nas aldeias mais próximas às áreas de mineração ilegal.
"Os pesquisadores destacam que indígenas com níveis mais elevados de mercúrio apresentaram défices cognitivos e danos em nervos nas extremidades, como mãos, braços, pés e pernas, com mais frequência", pode ler-se no estudo.
O avanço da mineração ilegal, que polui os rios e destrói a floresta amazónica, causou dezenas de mortes de indígenas Yanomami nos últimos anos em consequência de desnutrição, pneumonia e diarreia.
Uma das primeiras medidas tomadas por Lula da Silva ao assumir a presidência do Brasil, em 01 de janeiro de 2023, foi decretar emergência sanitária na terra Yanomami para enfrentar os graves problemas de saúde e ambientais causados pela invasão de cerca de 30 mil mineradores ilegais.
Apesar das medidas de emergência, como o encerramento temporário do espaço aéreo e a mobilização de forças militares para expulsar os invasores, a situação na reserva continua catastrófica, segundo a organização não-governamental Survival.
De acordo com um relatório divulgado no início deste ano pela organização, muitos mineradores ilegais voltam à reserva, não houve uma resposta clara das forças armadas para afastá-los e vários postos de saúde da reserva deixaram de funcionar.
MIM // ANP
Lusa/Fim
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