"A Guiné-Bissau tornou um cemitério de abutres encapuzados nos últimos dois meses, com uma situação sem precedentes com registo de um mínimo de 1.600 abutres mortos, podendo ser mais, o que causou um golpe devastador na conservação daquela espécie em vias de extinção", refere, em comunicado, a Fundação de Conservação do Abutre.
Segundo o comunicado, as primeiras mortes foram detetadas há dois meses e as investigações feitas no terreno determinaram que os abutres foram "mortos deliberadamente com o uso de iscas envenenadas".
"Relatos de testemunhas corroboram que os abutres foram envenenados intencionalmente, usando iscas de veneno colocadas à volta das aldeias para que as partes do abutre pudessem ser recolhidas para uso baseado em crenças, com pedidos relacionados com a instabilidade política do país", salienta o comunicado.
A fundação precisa também que em algumas zonas do continente africano as comunidades acreditam que as cabeças de abutre trazem boa sorte ou poderes especiais.
"Na Guiné-Bissau, pelo menos 200 dos abutres envenenados foram encontrados sem cabeça", salienta, acrescentando que há também relatos de um aumento da procura de partes do corpo do animal por países vizinhos.
A fundação salienta que as autoridades guineenses organizaram duas missões de campo, uma em março e outra este mês, mas são "necessárias ações adicionais para evitar futuras mortes".
A maior parte dos abutres mortos foram detetados nas cidades de Bambadinca, Bafatá e Gabu, onde foram confirmadas 1.603 mortes de abutres.
"No entanto, é impossível determinar os números exatos, pois apenas uma área limitada foi cuidadosamente pesquisada e muitas carcaças provavelmente foram perdidas ou rapidamente eliminadas pela população local", refere a organização, salientando que acreditam que mais de 2.000 abutres foram mortos.
A fundação salienta também que a Guiné-Bissau tem uma das mais populações mais saudáveis de abutres encapuzados de África.
"Algumas estimativas sugerem que o país possui mais de um quinto da população global de abutres encapuzados do continente, mas eventos desta escala terão efeitos adversos nas espécies nacionais, mas também regionais, na população da África Ocidental", disse o diretor da Fundação de Conservação de Abutres, José Tavares, citado no comunicado.
As carcaças dos abutres envenenados foram, entretanto, enviadas para a Universidade de Lisboa, que ajudará a confirmar a causa da morte.
MSE // JH
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