"Se for eleito Presidente darei muita atenção a áreas da justiça e da educação, mas também não deixarei de me preocupar com a redução das desigualdades e pobreza extrema. Também darei uma atenção muito especial à nossa juventude", prometeu Hélio Sanches, de 56 anos, natural de Assomada, concelho de Santa Catarina, ilha de Santiago.

Pós-graduado em Direito Processual Penal pelo Instituto de Ciências Jurídicas e Sociais (ICJS) de Cabo Verde e pela Faculdade de Direito de Lisboa e mestre em Direito Internacional, Hélio Sanches prometeu ainda criar iniciativas para estimular o diálogo e promover entendimentos sobre a reforma da justiça e da educação.

O também deputado nacional, eleito pelo Movimento para a Democracia (MpD, no poder) pelo círculo de Santiago Norte, considerou que a sua candidatura presidencial difere das restantes seis por ser a "única oriunda de um movimento da sociedade civil".

Hélio Sanches foi a primeira personalidade a disponibilizar-se para se candidatar a Presidente de Cabo Verde, respondendo a um apelo feito por um grupo de cidadãos cabo-verdianos que recolheu mais de 500 assinaturas no país e na diáspora de apoio à candidatura.

Além desse apelo, o candidato considerou ser uma pessoa que irá preocupar-se com os interesses dos cabo-verdianos e com os do país. "Isso porque não tenho compromissos com grupos ou forças políticas que pretendem ter o controlo ou influência na Presidência da República", sublinhou.

Questionado pela Lusa, o advogado e consultor jurídico disse ainda que decidiu concorrer ao mais alto cargo da Nação cabo-verdiana por entender que dispõe de capacidades, quer política, quer profissional, quer intelectual para servir o país.

E não tem dúvidas que um bom resultado seria ganhar as eleições do próximo domingo. "Não há outra forma, quando se entra numa disputa, é de se encarar o seu desfecho: entrei para ganhar, e espero ganhar".

Por isso, espera não ter de apoiar nenhum candidato numa segunda volta em que não esteja incluído. "Estou convencido que eu, sim, serei apoiado num cenário de segunda volta. Acredito que vamos ter surpresas nestas eleições presidenciais", prognosticou.

Para Hélio Sanches, não há concentração de poder em Cabo Verde, mas sim um "risco elevado" de o país vir a ter um "Presidente chefe ou corta fitas do Governo ou um Presidente que será chefe de oposição ou contrapoder ao Governo", caso a sociedade civil não vença as eleições.

"Isto é tudo que Cabo Verde não precisa. A Presidência da República não poderá ser instrumentalizada, uma vez que a sua função primordial é de moderação, de árbitro e de promotor da união", apontou, garantindo que tudo fará para que esse cenário não se concretize.

"Sobretudo porque estamos a viver uma nova realidade, o pós-covid, em que é necessário novas propostas e visão para o país face a um amanhã de incertezas em que os velhos atores, com as suas velhas ferramentas, já estão ultrapassados perante esta nova normalidade", afirmou.

Ao eleitorado, deixou uma mensagem de esperança e criticou aqueles que pretendem transformar as eleições presidenciais numa de segunda volta das legislativas.

"Este é o tempo e a oportunidade de os cabo-verdianos escolherem outras soluções para um novo tempo. Para novos tempos, novos líderes", concluiu Hélio Sanches, que já exerceu, entre outras funções, as de deputado do Parlamento Pan Africano e membro da Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Cabo Verde.

Cabo Verde realiza eleições presidenciais em 17 de outubro de 2021, às quais já não concorre Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo e último mandato como Presidente da República.

O Tribunal Constitucional anunciou em 24 de agosto que admitiu as candidaturas a estas eleições de José Maria Pereira Neves, Carlos Veiga, Fernando Rocha Delgado, Gilson Alves, Hélio Sanches, Joaquim Jaime Monteiro e Casimiro de Pina.

Esta é a primeira vez que Cabo Verde regista sete candidatos oficiais a Presidente da República em eleições diretas, depois de até agora o máximo ter sido quatro, em 2001 e 2011.

A campanha eleitoral decorre desde as 00:00 de 30 de setembro e vai as 23:59 de 15 de outubro e em caso de uma segunda volta, vai acontecer em 31 do mesmo mês.

De acordo com a Constituição de Cabo Verde, o Presidente da República é eleito por sufrágio universal e direto pelos cidadãos eleitores recenseados no território nacional e no estrangeiro.

Só pode ser eleito Presidente da República o cidadão "cabo-verdiano de origem, que não possua outra nacionalidade", maior de 35 anos à data da candidatura e que, nos três anos "imediatamente anteriores àquela data tenha tido residência permanente no território nacional".

Cabo Verde já teve quatro Presidentes da República desde a independência de Portugal em 1975, sendo o primeiro o já falecido Aristides Pereira (1975 - 1991) e por eleição indireta, seguido do também já falecido António Mascarenhas Monteiro (1991 -- 2001), o primeiro por eleição direta, em 2001 foi eleito Pedro Pires e 10 anos depois Jorge Carlos Fonseca.

As últimas presidenciais em Cabo Verde, que reconduziram o constitucionalista Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República, realizaram-se em 02 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74% dos votos).

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