"Na semana passada, em menos de 24 horas, tivemos dois casos de homicídio em Achada Grande Trás, então isso preocupa-nos muito porque, independentemente de todo o processo de investigação, de todo o trabalho que vem sendo feito, existem ainda questões prévias de caráter preventivo que devem ser consideradas", disse o presidente da Associação da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação e Apoio à Investigação Criminal (ASFIC-PJ), Agostinho Semedo.

O inspetor e líder associativo falava à imprensa, na cidade da Praia, no âmbito de uma conferência que a PJ está a realizar para assinalar os 29 anos da sua criação, afirmando que os funcionários estão preocupados sobretudo com os crimes contra pessoas na capital do país.

"Daí que continua a ser o nosso grande desafio, enquanto investigador criminal, trabalhar não só no âmbito da investigação, mas também apostar muito na questão da prevenção", insistiu.

Na terça-feira, a Polícia Nacional cabo-verdiana realizou uma operação especial de prevenção criminal em alguns bairros da Praia, nomeadamente Achada Grande Trás, Achadinha, Santaninha e Ponta d'Água, que tem registado vários casos de criminalidade violenta, com a apreensão de armas e seis detenções.

O procurador-geral da República de Cabo Verde, José Landim, alertou em 30 de março último para o elevado número de crimes, sobretudo na Praia, e admitiu que as operações especiais de prevenção criminal são "importantes" neste contexto, apesar das aparentes dificuldades na sua operacionalização.

Nas declarações à imprensa, o presidente da associação falou ainda sobre os desafios dos funcionários de investigação criminal da PJ, indicando que os principais continuam a ser a atualização e revisão de alguns instrumentos legais, nomeadamente a orgânica e o estatuto.

"Pese embora a recente revisão, sentiu-se a necessidade de uma nova proposta de revisão", sustentou, avançando que a força sindical e a direção da PJ estão a preparar uma equipa para trabalhar a proposta de revisão da orgânica e do estatuto da instituição policial.

Também falou sobre a questão dos materiais, garantindo que há disponibilidade de viaturas, mas alertou que a principal dificuldade tem a ver com a aquisição de reagentes utilizados no laboratório da polícia científica nos processos de exames de DNA e outros exames toxicológicos.

A nível dos recursos humanos, Agostinho Semedo disse que não são suficientes, justificando a redistribuição dos recursos com a criação de uma unidade de investigação criminal em Assomada e com o funcionamento do departamento da Boa Vista.

"E isto acabou por revelar claramente a deficiência que temos, tanto a nível do pessoal de investigação criminal e também ao nível do corpo de segurança", enumerou o líder sindical cabo-verdiano, que vai propor o recrutamento de mais funcionários para esses setores.

A Associação Sindical dos Funcionários de Investigação e Apoio à Investigação Criminal (ASFIC-PJ) foi criada em 2009, está filiada na Confederação Cabo-verdiana dos Sindicatos Livres (CCSL), e dos 256 funcionários da PJ cerca de 80% são associados.

O presidente foi um dos oradores na conferência, no painel sobre a "Gestão da Cena do Crime -- do quadro preliminar à oficialização da investigação -- Papel interventivo da PJ", que antecede ao ato solene, que acontece na quinta-feira, também na cidade da Praia.

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