Entre a avenida Guerra Popular e a baixa da cidade, vários grupos juntaram-se, à hora prevista - 13:00 locais (menos duas horas em Lisboa)- e, de mãos dadas, com bandeiras, vuvuzelas e apitos, cantaram o hino, pacificamente, perante um trânsito bloqueado, durante 15 minutos, uma forma de contestação que marcou os protestos pós-eleitorais sobretudo em dezembro.

Rogério Zavale juntou-se a um destes grupos, que também empunhavam cartazes improvisados usando cartão de caixas velhas, garantindo que cumpria o apelo.

"Venâncio Mondlane nos indicou para cantar o hino nacional todas as sextas-feiras", explicou, enquanto Filipe Alberto, que repetidamente cantou o hino durante os 15 minutos, acrescentava: "É sobre o país, está muito mal (...) roubaram os votos".

E enquanto os restantes alternavam o hino com buzinadelas e tudo o mais que fizesse barulho, Filipe Alberto acrescentava: "Se não entregarem, isto aqui nunca vai parar".

Num documento divulgado na terça-feira, que apresentou como "decreto" e de "medidas governativas" para os próximos 100 dias, Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados proclamados das eleições gerais de 09 de outubro, que deram a vitória a Daniel Chapo -- já empossado como quinto Presidente de Moçambique -, apelou à população para, neste período, todas as sextas-feiras, juntar-se a cantar o hino nas ruas, por 15 minutos, a partir das 13:00, parando as atividades nesse período.

Rashid Salaman juntou-se a um dos muitos grupos que em plena via, em Maputo, formou um círculo para cantar o hino na rua, alegando que a decisão vem de um "decreto presidencial".

"Temos 15 minutos para entoar o hino. É um decreto nacional, posto pelo nosso Presidente, que a gente votou, Venâncio Mondlane (...) Não há outro Presidente", afirmava.

Com o tempo da paragem na rua a passar, Olívia Vali explicava a sua adesão: "Nós obedecemos ao que o nosso Presidente fala, nós queremos mudança, não queremos Chapo".

Enquanto isso, um jovem que se apresentou como "Porquilho", alternava o hino com os habituais apelos de rua "Salve Moçambique", que marcam os mais de três meses de protestos pós-eleitorais.

"A coisa não está boa", lamentava, acrescentando: "Matar inocentes, matar os nossos irmãos, nós não queremos".

"Queremos o bem-estar dos moçambicanos e tudo voltar ao normal. Porque nós somos ricos, é Miami isso aqui, é melhor do que o Dubai", garantia o jovem "Porquilho".

Às 13:15, esgotado o período previsto para esta ação, a população abandonou quase de imediato as ruas e o trânsito voltou à normalidade de uma sexta-feira por si só caótica em Maputo, não sendo conhecidos incidentes no centro da capital, apesar da presença da polícia.

Moçambique vive desde 21 de outubro um clima de forte agitação social, protestos, manifestações e paralisações, convocadas por Venâncio Mondlane, que degeneram em violência com a polícia, saques e destruição de equipamentos públicos e privados.

De acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique, nestes protestos há registo de pelo menos 315 mortos, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e pelo menos 750 pessoas baleadas.

 

PVJ // ANP

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