Em declarações à imprensa após ter sido recebido, em audiências separadas, pelo Papa Francisco e pelo secretário do Vaticano para as Relações Internacionais, o arcebispo Paul Gallagher, Rangel, escusando-se a revelar o teor das conversas, apontando apenas que foi passada em revista a atualidade internacional, adiantou que, designadamente na discussão com Gallagher, houve "um ênfase importante em Moçambique, na lusofonia em geral".
Apontando que, na quinta-feira, no primeiro dia desta sua deslocação a Itália, teve também oportunidade de se encontrar com a comunidade de Santo Egídio - uma organização católica dedicada à caridade e à promoção da paz que se notabilizou por ter mediado o acordo geral de paz assinado em Roma, em 1992, entre o Governo moçambicano, da Frelimo, e a Renamo, pondo fim a uma guerra civil de 16 anos -, Rangel destacou a "experiência" da Igreja Católica que pode, uma vez mais, ser útil para ajudar a alcançar a estabilidade em Moçambique.
"A Igreja Católica, o Vaticano, têm aqui uma experiência e uma capacidade de interlocução que eu considero - e Portugal sempre considerou - única e, portanto, isso nunca deve ser, em caso algum, desvalorizado", disse Rangel, que, escusando-se a revelar se falou com o arcebispo Gallhager sobre a mediação do Vaticano no atual conflito naquele país africano lusófono, comentou que "qualquer contributo para o diálogo político, para a reconciliação nacional e para a estabilidade em Moçambique, é sempre bem-vindo".
"Portugal e a União Europeia, e a própria CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], mas eu diria mais Portugal e a UE nesta fase, têm tido um papel também relevante e estarão sempre disponíveis para ajudar a qualquer esforço de diálogo e mediação que possa trazer um período de estabilidade, de pacificação e de prosperidade para o Estado de Moçambique e para o povo moçambicano", disse.
Apontando que "o Governo português teve sempre canais diretos para o Vaticano ao longo desta crise e a UE tem tido um papel muito relevante e positivo", Rangel disse acreditar que "o Vaticano terá instrumentos ágeis para atuar", mas alertou que situações de tensão como aquela que se vive atualmente em Moçambique "são sempre muito complexas".
"Só o povo moçambicano e, em particular, os seus agentes políticos podem resolver. Mas pode haver uma ajuda, uma mediação e, aí, eu acho que estes protagonistas que eu já falei têm todos um papel, talvez papéis diferentes, e outros que queiram tê-lo serão sempre bem-vindos", disse.
Relativamente ao encontro com o Papa, limitou-se a dizer que se tratou de "uma audiência bastante frutífera e longa" e, quando questionado relativamente ao facto de há muitos anos o primeiro-ministro de Portugal não se deslocar ao Vaticano, revelou que Luís Montenegro visitará Itália e o Vaticano no primeiro semestre deste ano.
"Há uma coisa que eu vou garantir: essa situação vai alterar-se em breve", disse Rangel, adiantando que "uma visita a Itália e ao Vaticano, à Santa Sé, certamente que deverá ocorrer este semestre".
Moçambique realizou eleições gerais -- presidenciais, legislativas e de assembleias provinciais - em 09 de outubro, tendo o Conselho Constitucional, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamado Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor, com 65,17% dos votos, mas a vitória deste é contestada pelo candidato Venâncio Mondlane.
Desde 21 de outubro que o país vive num clima de forte agitação social, protestos, manifestações e paralisações, convocadas por Venâncio Mondlane, que degeneram em violência com a polícia, saques e destruição de equipamentos públicos e privados.
De acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique, nestes protestos há registo de pelo menos 315 mortos, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e pelo menos 750 pessoas baleadas.
ACC // MLL
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