Quem aterrou no país nas últimas duas semanas ficará com a sensação de que a Caixa Geral de Depósitos está em vias de fechar. Não está. Tem de aumentar o capital para cumprir os rácios de capital, por causa das imposições dos reguladores, porque é necessário digerir o que ainda não foi digerido ao nível do crédito mal-parado, também porque não se fazem reestruturações sem dinheiro.
A primeira responsabilidade para chegarmos ao dia de hoje e às necessidades de capital identificados e não desmentidas – cerca de quatro mil milhões de euros – deve ser procurada junto do anterior governo. Porque é que o reforço de capital ainda não foi feito? Não foi seguramente nos últimos seis meses que a CGD começou a atribuir crédito sem garantias ou mesmo a financiar projetos políticos como o da Pescanova ou do Vale do Lobo, este sob investigação judicial. Portanto, sabemos os nomes que estão em cima da mesa, a começar em José Sócrates e Armando Vara. A CGD já era um centro de financiamento da rede de interesses, Sócrates levou esse desígnio a um alto nível. E Passos Coelho disse "não" a Ricardo Salgado. Sabe, por isso, que tem aqui, neste dossiê, uma oportunidade, talvez a primeira, para abalar António Costa e a geringonça.
José Sócrates já reagiu – esta segunda-feira, em texto de opinião no JN – e Pedro Passos Coelho agradece. A partir de agora, é Costa que não tem outro remédio senão o de aceitar a comissão de inquérito, sob pena de ficar do lado dos que estão contra a transparência das contas do banco público. A banca pode mesmo transformar-se no PEC IV de António Costa, e Passos já percebeu isso, essa oportunidade.
Não, não pode haver tabus nas discussões sobre a CGD, na estratégia de financiamento passada e no que a nova gestão de António Domingues à frente do banco público. Sobretudo quando está em causa tanto dinheiro. E, no momento em que entra uma nova equipa, há uma obrigação de transparência particular, de prestação de contas a todos os acionistas da CGD, ou seja, a todos nós.
A segunda responsabilidade é do próprio Governo. Foram António Costa e Mário Centeno os responsáveis pela fuga de informação que permitiu a discussão de nomes na praça pública, a discussão do valor da capitalização e até do plano de reestruturação. Estamos nisto há meses, com uma degradação crescente da imagem e reputação da CGD, para a qual também contribuiu o PSD, já agora.
Seria preferível uma auditoria especializada – por exemplo do Tribunal de Contas – a uma comissão de inquérito. Esta servirá para a luta partidária, e pouco mais, servirá para o PSD arranjar uma alternativa à comissão do Banif. Seja. Agora, mais importante é o governo tomar decisões, nomear a equipa de gestão, fechar o plano de reestruturação e a respetiva capitalização, para permitir que a CGD passe para uma nova vida.
As escolhas
Brexit, sim ou não? É muito mais do que isto. No próximo dia 23, os ingleses vão referendar a permanência na União Europeia, já com um acordo único nas mãos que lhes permite ser "um diferente entre 28 supostamente iguais". David Cameron fez uma jogada tão arriscada como irresponsável, estará hoje arrependido da decisão de marcar um referendo que servia, sobretudo, para ganhar as eleições e mostrar ao eleitorado que era um primeiro-ministro suficientemente cético em relação à União Europeia. A semana começou em alta nos mercados – como se lê em www.negocios.pt – com a expetativa de uma vitória do "sim", mas as sondagens mostram que o país está dividido ao meio e qualquer que venha a ser o resultado – "voto" no sim -, a União Europeia não será a mesma. E não é nada garantido que venha a ser melhor.
Tenham uma boa semana e, claro, Portugal allez
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