Um cessar-fogo incógnito, um trunfo nuclear e uma União Europeia que se uniu para isolar a Rússia e armar a Ucrânia. Este é o resumo do quarto dia de combates

  • No que toca aos avanços no terreno, o dia raiou com a notícia de que a conquista russa de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, estava iminente. No entanto, os ucranianos conseguiram repelir as forças russas. Apesar dos combates não desarmarem, não houve desenvolvimentos significativos ao longo do dia, à exceção da conquista russa de Berdyansk, cidade portuária localizada no sudeste do país;
  • Todavia, ao final do dia, imagens satélite deram conta de um largo destacamento de tropas russas a dirigir-se a Kiev, o que pode significar que o assalto terrestre à cidade estará próximo de acontecer. Trata-se de uma fila de cinco quilómetros composta por veículos de transporte, de combustível, de logística e de blindados e está a deslocar-se na direção da capital ucraniana, encontrando-se a 65 quilómetros a sul;
  • De resto, a capital da Ucrânia tem sido consecutivamente sujeita a bombardeamentos, mas sem desenvolvimentos significativos no terreno. O presidente da câmara de Kiev, Vitali Klitschko, negou os rumores de que a capital estaria já cercada de forças russas — informação inicialmente avançada por alguns meios de comunicação;
  • Pela primeira vez desde o conflito, a Rússia admitiu ter sofrido baixas militares  — tanto a nível de mortos e feridos, como a nível de soldados feitos reféns. No entanto, não adiantou números — uma possível gaffe da agência russa TASS, contudo, desvendou que o número de vítimas poderá estar cifrada nos 4300.
  • Entretanto, a ofensiva militar iniciada pela Rússia na Ucrânia já provocou o deslocamento de "mais de sete milhões" de pessoas, disse hoje o comissário europeu para a Gestão de Crises, o esloveno Janez Lenarcic. Destas, 368.000 refugiados fugiram dos combates para os países vizinhos e o número continua a aumentar, indicaram hoje as Nações Unidas;
  • Com aquilo que aparenta ser um surpreendente impasse do avanço russo, chegou a notícia de que o Kremlin estava disposto a negociar a paz na bielorrussa de Gomel. O presidente russo, Vladimir Putin, inclusive, acusou a Ucrânia de não "aproveitar a oportunidade" para as negociações que deseja impor na Bielorrússia, país de onde a Rússia lançou parte de sua invasão;
  • Esta acusação parte do facto de que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, respondeu que o seu país está pronto para negociações, mas não na Bielorrússia. No entanto, mais tarde assentiu, anunciando que a delegação ucraniana iria reunir-se com a Rússia, "sem condições prévias", na área do rio Pripyat, na fronteira entre o território ucraniano e bielorrusso;
  • Zelensky, todavia, partiu para estas conversações sem grande otimismo. "Digo as coisas claramente, como sempre: não acho que vá dar resultado", mas "temos de tentar" para que “nenhum cidadão da Ucrânia duvide que eu, enquanto presidente, tentei impedir a guerra quando ainda havia hipótese, ainda que pequena", concluiu o líder ucraniano.Por seu turno, o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, declarou que a Rússia entreabriu a porta às negociações porque o “seu ‘blitzkrieg’ (guerra relâmpago) fracassou”. De momento, não se sabe qual o rumo das negociações ou sequer se já começaram;
  • Todavia, estas negociações foram ensombradas com um aviso de Putin, que anunciou que vai colocar forças de dissuasão nuclear em alerta máximo. "Ordeno ao ministro da Defesa e ao chefe do Estado-Maior que coloquem as forças de dissuasão do Exército russo em alerta especial de combate", disse Putin numa reunião com os líderes militares russos. Em causa estarão declarações “agressivas” dos países da NATO. Em resposta, o secretário-geral da organização acusou hoje a Rússia de ter uma "retórica perigosa" e uma "conduta irresponsável";
  • As ameaças, contudo, não impediram os países europeus de agravar o isolamento à Rússia. Ao longo do dia, vários estados anunciaram o encerramento do seu espaço aéreo a aeronaves russas: Finlândia, Irlanda, Dinamarca, Bélgica, Espanha e Portugal, entre outros;
  • Esta iniciativa culminou num anúncio da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de que todo o espaço aéreo da União Europeia iria ser fechado à Rússia. A esta medida juntou-se a proibição da "máquina de media" do Kremlin na UE, o que significa o bloqueio às estações Russia Today (ou RT) e Sputnik News, e as suas subsidiárias europeias;
  • Esta, porém, não foi a maior novidade. Pela primeira vez na sua história, a União Europeia acordou entre si a compra de armamento no valor de 450 milhões de euros destinado às forças ucranianas. Já antes, países como a Alemanha e a Finlândia tinha dado o raro passo de providenciar armas a Kiev;
  • No que toca à atuação portuguesa no conflito, Marcelo Rebelo de Sousa ligou a Zelensky para "reiterar a condenação veemente de Portugal e o apoio solidário à corajosa resistência ucraniana". O líder ucraniano devolveu em simpatia, agradecendo num tweet "pelo encerramento do espaço aéreo aos aviões russos, o apoio à decisão de desligar a Rússia do sistema SWIFT e a assistência concreta da defesa". "Portugal providenciou armas, meios de proteção e outros equipamentos à Ucrânia. Juntos, mais fortes", concluiu.
  • Foi também hoje anunciado por Augusto Santos Silva que o voo de apoio ao regresso de uma parte dos cerca de 50 portugueses e luso-ucranianos que saíram da Ucrânia pela Moldávia e Roménia será realizado na segunda-feira.
  • De resto, tal como ocorreu em vários países, várias cidades portuguesas foram palco de protestos quanto à atuação russa. A maior ocorreu em frente à Embaixada da Rússia em Lisboa.

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