A Serra da Estrela já foi poupada, mas Portugal continua a arder

De todos os dados que nos chegam em catadupa, este merece que se pare, leia e releia: O saldo provisório de hectares queimados na Europa ultrapassa 660.000 desde janeiro, um recorde desde que os dados de satélite começaram a ser recolhidos em 2006.

Para sermos exatos, são 662.776 hectares de floresta ardida em toda a União Europeia, segundo dados atualizados neste domingo pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS),

De todo o Velho Continente, tem sido a Península Ibérica a mais fustigada. Em Espanha, por exemplo, o incêndio florestal que deflagrou em Losacio, Zamora, a 17 de julho, só hoje foi contido — arderam 31.500 hectares.

Em Portugal, foi a Serra da Estrela a zona mais afetada — o parque natural, reconhecido pela UNESCO, teve 17 mil hectares a desaparecer entre cinzas e destroços.

O maior dos fogos, que teve origem na Covilhã no dia 6, foi dominado após uma semana e ainda não foi considerado extinto, mobilizando também um dispositivo de socorro e segurança. Além disso, outros se sucederam.

O mais recente foi o de Mizarela, no concelho da Guarda, que deflagrou na tarde de sábado, tendo obrigado à evacuação da praia fluvial de Aldeia Viçosa e da povoação de Soida. Este fogo foi dado como dominado às 07:19 de hoje.

Ficou a ideia de que o pior já passou, mas não é tempo para descansar, como alertou o presidente da Guarda, que pediu que as operações de rescaldo fossem alvo de “uma vigilância muito apertada e forte”.

“O vento continua a soprar, as temperaturas estão muito elevadas, não há humidade”, afirmou, a meio da tarde, sublinhando que “ao primeiro reacendimento os meios têm de acudir logo ao local, a começar pelos meios aéreos”, já que os incêndios no concelho deflagraram “em zonas muito íngremes, de muito difícil acesso ou [com acesso] quase inexistente”.

O autarca disse à agência Lusa que na próxima semana vai ser intensificado o levantamento dos danos causados pelos incêndios recentes no concelho, adiantando que “há muito prejuízos, desde as casas de segunda habitação que arderam - seja em Videmonte, seja em Aldeia Viçosa - aos pequenos armazéns agrícolas que arderam e à grande mancha florestal que ardeu no Parque Natural da Serra da Estrela”.

Sérgio Costa reivindicou, por isso, que “no mais curto espaço de tempo possa existir um verdadeiro Plano Marshall de recuperação do Parque Natural da Serra da Estrela”, para apoiar os operadores turísticos e para que “as pessoas continuem cada vez mais a visitar o território, que, infelizmente, agora ficou mais debilitado”.

Da parte do Governo, a promessa é de que se avance com as causas dos grandes incêndios deste verão logo esteja extinto o fogo na Serra da Estrela. “A senhora secretária de Estado da Proteção Civil tem o despacho preparado para, mal seja dado como extinto o incêndio da serra da Estrela, se proceder à avaliação das causas estruturais e do método de combate aos maiores incêndios deste ano”, afirmou José Luís Carneiro, na sessão comemorativa do Dia do Município da Batalha.

O ministro adiantou que, a partir da experiência de avaliação desenvolvida desde 2017, quando ocorreram os incêndios de Pedrógão Grande (junho) e em várias zonas da região Centro (outubro), que fizeram mais de uma centena de mortos, vai ser constituída “uma equipa de avaliação regular e permanente, composta por todas as entidades envolvidas no dispositivo nacional e pelos centros de investigação e de conhecimento, em articulação com o Ministério da Ciência e do Ensino Superior”.

Entretanto, enquanto essa avaliação não chega, há que continuar com a vigilância, até porque não só surgiram outros incêndios durante a tarde de hoje — já lá iremos —, como é preciso manter o combate ao fogo posto. Este ano foram já detidos 119 suspeitos do crime de incêndio florestal, quer pela GNR, quer pela PJ.

Se um dos fogos que motivava mais atenções — na serra do Marão, em Vila Real, que teve início na noite de sábado — foi dado como extinto, há outro que continua a alastrar-se perigosamente.

Mais de 250 operacionais estavam a combater pelas 20:00 um incêndio que deflagrou "com muita violência" no concelho de Tomar esta tarde e que já passou para o município de Abrantes, disse à Lusa a Proteção Civil.

De acordo as declarações do comandante Filipe Regueira, do Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém durante a tarde, o fogo estava “a progredir com muita violência” nas duas margens do rio Zêzere, nos concelhos de Tomar e de Abrantes, no distrito de Santarém.

Pelas 20:00, as chamas estavam a ser combatidas por 260 operacionais, apoiados por 80 viaturas e 10 meios aéreos, afirmou. Ainda de acordo com o comandante Filipe Regueira, dada a “violência e velocidade” do incêndio e o vento forte que se faz sentir no local, não foi possível retirar ninguém das habitações dispersas que existem na zona, tendo-se optado por fazer “o confinamento” das pessoas nas casas.

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