A Ucrânia a ganhar terreno e a Rússia a minimizar danos. Assim vai a guerra
Quais são as novidades da guerra?
A Ucrânia continua a recuperar aldeamentos e quilómetros quadrados na sua busca por expulsar as tropas russas das zonas ocupadas.
Hoje, Kiev anunciou que conseguiu conquistar de mais 400 quilómetros quadrados na região de Kherson em menos de uma semana. Kherson é uma das quatro regiões ucranianas que a Rússia anexou no final de setembro — as outras três são Donetsk, Lugansk e Zaporijia.
As tropas ucranianas tem atuado em todas as frentes desde que a sua contra-ofensiva começou no início de setembro e já recuperaram uma parte de Kherson e importantes eixos logísticos como Izium, Kupiansk e Liman. Nesta última localidade, no leste, as tropas de Moscovo foram praticamente cercadas.
Desde 1 de outubro, as forças ucranianas já reivindicaram a retomada de 29 cidades das mãos dos russos. Na quarta-feira, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, anunciou o regresso de Novovoskresenske, Novogrygorivka e Petropavlivka ao controlo de Kiev.
Os sinais no terreno continuam a demonstrar que a Rússia está a perder terreno e o controlo da frente.
Como assim?
Segundo uma reportagem do Wall Street Journal, o principal fornecedor de armas à Ucrânia nas últimas semanas tem sido mesmo a Rússia, tal é a quantidade de arsenal abandonado com a retirada das forças russas.
Mais do que armas, as tropas russas têm deixado para trás tanques, obuses e veículos de combate, a grande maioria em bom estado, o que sugere que o abandono foi feito por militares que desistiram de combater antes mesmo de o fazer.
De acordo com algumas contas feitas pelo site holandês Oryx, de análise de defesa e pesquisa de guerra, a Ucrânia terá capturado nas últimas semanas mais de 400 tanques de batalha russos, 92 obuses autopropulsados, 445 veículos de combate de infantaria, perto de 200 veículos blindados de combate e 44 sistemas de foguetes de lançamento múltiplo.
Evidentemente que também a Ucrânia tem perdido armamento para a Rússia, mas, novamente segundo o Oryx, até aqui as tropas ucranianas não perdem para as russas, tendo perdido 'apenas' 109 tanques, 15 canhões autopropulsados e 63 veículos de combate de infantaria desde o início da guerra, em fevereiro.
E os russos?
Negam os desaires, ou preferem focar a informação numa lógica de controlo de danos. O exército de Moscovo, por exemplo, garantiu no seu relatório diário que "o inimigo foi repelido da linha de defesa das tropas russas" na mesma região de Kherson onde os ucranianos reportaram avanços.
Segundo Moscovo, as forças ucranianas destacaram quatro batalhões táticos para esta frente e “fizeram várias tentativas para romper as defesas russas” perto de Dudchany, Sukhanove, Sadok e Bruskinskoye.
A Rússia, de momento, já não controla, pelo menos na sua totalidade, nenhuma das quatro zonas que anexou. Isso não impede Vladimir Putin de anunciar que a situação militar se está a “estabilizar” para o lado russo.
Do Kremlin também partiu a negação da cifra adiantada de mais de 700 mil cidadãos russos que já terão deixado a Rússia para evitar a mobilização. “Isso parece ser uma farsa”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
“Não me parece que essas notícias devam ser levadas a sério”, adiantou o porta-voz, que assegurou que o número de pessoas que deixaram o país após o anúncio da mobilização “está longe” de ser tão alto como a imprensa sugere. Peskov também garantiu que os territórios perdidos serão "recuperados".
E de resto, o que há de novo?
Continua a medir-se o lastro da atuação russa junto de populações civis. Em Kherson, já foram exumados mais de 530 corpos de civis em territórios reconquistados às forças russas no nordeste do país desde o início da contraofensiva das suas forças armadas, anunciou hoje a polícia de Kharkiv.
Este número — que inclui os corpos exumados de uma floresta perto de Izium, onde foram encontradas cerca de 440 sepulturas não assinaladas após a partida dos russos em 16 de setembro — compõe-se de “226 mulheres, 260 homens, 19 crianças e 29 outras pessoas cujo sexo ainda não foi determinado”, disse o chefe do departamento de investigação da polícia de Kharkiv, Serhiy Bolvinov.
Além disso, as notícias provenientes de Zaporijia continuam pouco animadoras. Um novo bombardeamento deixou três mortos e sete feridos.
O risco de catástrofe que subsiste junto da central nuclear desta região levou o diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, a viajar a Kiev antes de partir para Moscovo.
Grossi — que defende a criação de uma "zona de proteção" em torno da central nuclear — disse ainda que, para ele, é "evidente" que esta pertence à Energoatom, operadora ucraniana, apesar de ter sido formalmente anexada pela Rússia.
No plano diplomático, 44 dirigentes europeus reuniram-se nesta quinta-feira em Praga, na Chéquia, para a primeira reunião da Comunidade Política Europeia (CPE), com o intuito de intensificar o isolamento de Moscovo. António Costa esteve a representar Portugal.
Questionado sobre se esta cimeira isola a Rússia, Costa sublinhou que “a Rússia isolou-se a si própria pela forma como, em clara violação do direito internacional, desencadeou uma guerra ilegítima, brutal, desumana, como a tem vindo a conduzir ainda por cima, contra a Ucrânia e o seu povo”.
Relativamente às expectativas para a reunião de hoje, apontou que a mesma “não visa tirar conclusões, não visa tirar resultados práticos”, sendo antes o seu objetivo “ser um fórum alargado”, para “procurar articular politicas que devem ser convergentes, tendo em vista poder ultrapassar em conjunto uma crise que é global”.
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