Porto: o retrato de uma cidade alagada pela chuva forte e enlameada pelas obras do metro
As chuvas torrenciais levaram hoje tudo à frente na baixa do Porto - e não escaparam as montanhas de areias e gravilhas das obras da Metro e os blocos de pedra das estradas para piorar a tormenta da precipitação intensa.
A forte chuvada que caiu num curto espaço de tempo lavou toda a zona alta da cidade do Porto, este sábado, de onde as águas intensas foram abrindo caminho até à baixa, desaguando pela Rua Mouzinho da Silveira, que liga a Estação de São Bento à Ribeira do Porto, rua que ficou alagada em lama, gravilha e areias, grande parte oriundas das obras que decorrem ali perto para o alargamento da rede da Metro do Porto.
Ao longo de mais de 10 metros de comprimento da Rua Mouzinho da Silveira a força da água fez saltar da estrada vários blocos de pedra escura, obrigando a rua ficar interditada ao trânsito desde São Bento ao Largo de São Domingos devido às crateras abertas, deixando à vista canos, cabos e tubos vermelhos.
Na Rua das Flores, paralela à Mouzinho da Silveira, repleta de lojas e hotéis, as limpezas das lamas foram feitas com a força e dedicação dos homens da Bulício Urbano, empresa dedicada a enfrentar este tipo de intempéries, que com a ajuda de máquinas equipadas de escovas e vassouras de tamanho XXL, lá iam conseguindo reabrir o caminho para os turistas corajosos que insistiam em descobrir a cidade invicta.
Subindo pela Rua Passos Manuel, a do Coliseu do Porto, umas lojas estavam fechadas, outras de porta entreaberta. No Vício do Café, o chão de madeira estava alagado em água, mas desta vez o desastre tinha vindo não da rua, mas do telhado roto.
“A água entrou pelo teto. Tive de fechar o café às 11:30 e acho que só vou conseguir reabrir para a semana, mas só se ajeitarem o telhado”, desabafou Fábio Pinto.
O proprietário do estabelecimento admitiu que tem “largas centenas de euros de prejuízo” e que já fez queixa aos bombeiros, porque a culpa da inundação resulta da parte de cima do “prédio estar devoluto”.
A Rua de Santa Catarina porta sim porta não estava fechada ou a porta estava entreaberta, uma com sacos de areia à porta, outras com esfregonas e vassouras a limpar as águas fortuitas.
Uma das lojas mais concorridas, da cadeia espanhola de vestuário Zara, teve mesmo que encerrar portas, pois o primeiro piso ficou inundado, contou um dos funcionários à agência Lusa.
Nessa mesma rua, três camiões do lixo de cor azul-marinho, da Câmara Municipal do Porto, circulavam, vagarosos, em fila indiana. O motorista de um dos carros do lixo explicou à Lusa que andavam a retirar o lixo das lojas e da rua.
Numa cidade onde já se circulava com dificuldades devido aos milhares de turistas nas ruas, e devido às complexas obras da Metro do Porto, que condicionam inúmeras artérias do Porto, o nível da dificuldade para transitar com as ruas alagadas subiu ao limite, ao ponto de haver polícias sinaleiros em grande parte das ruas na baixa.
Fosse a pé de guarda-chuva, fosse de automóvel, fosse de autocarro elevou-se ao patamar mais elevado poder encaixar-se numa cidade que viveu uma verdadeira tormenta, com grande quantidade de água num curto espaço de tempo que provocou pelo menos 56 ocorrências relacionadas com inundações em casas e vias públicas.
“Nós tivemos uma tormenta, tivemos uma grande queda de água num curto espaço de tempo, foi isso que se verificou. Na cidade tivemos 56 ocorrências que estão todas praticamente resolvidas", declarou aos jornalistas Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, com os pelouros do Ambiente e Transição Climática e também da Inovação e Transição Digital.
O autarca assegurou que a autarquia estava preparada para a intempérie e com as suas equipas no terreno.
"Estávamos preparados com todas as equipas no terreno. Temos muitas equipas de todas as áreas da Proteção Civil, dos Bombeiros, as equipas de limpeza, todas elas estão e estavam preparadas para a intempérie”, assegurou.
Filipe Araújo destacou, contudo, que a autarquia do Porto não estava preparada para o que sucedeu na Rua Mouzinho da Silveira, perto da estação de São Bento e da Ribeira, e onde decorrem obras da Metro do Porto.
“O que não estávamos preparados era para aquilo que aconteceu na Rua Mouzinho da Silveira, que de facto é um fenómeno que nunca a cidade o viu neste espaço”, declarou numa conferência de imprensa que decorreu esta tarde junto da estação de São Bento.
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