A Google fez uma parceria com o segundo maior sistema de saúde nos Estados Unidos, a Ascension, que opera em 2600 centros clínicos e hospitais nos Estados Unidos. Esta parceria dará à gigante tecnológica acesso aos dados de milhões de norte-americanos que serão utilizado para o desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial.
Denominado Project Nightingale, este projeto da Google foi lançado no ano passado, mas estava debaixo de radar até o The Wall Streett Journal chamar a atenção para o mesmo. Agora, o regulador federal norte-americano (Office for Civil Rights in the Department of Health and Human Services) começou a investigar a associação entre a gigante tecnológica e este sistema de saúde.
Os dados a que a Google tem acesso com esta parceria incluem resultados laboratoriais, diagnósticos médicos, registos hospitalares, além de nomes completos e idade dos pacientes.
Entretanto, logo na segunda-feira, a Google garantiu que os dados do pacientes estão seguros e que o acesso aos mesmos pelos seus funcionários é controlado. "Para deixar claro, os dados da Ascension não podem ser usados para outro propósito que não seja o dos serviços oferecidos no âmbito deste acordo, e os dados dos pacientes não podem ser combinados com dados de consumidores da Google".
Também a Ascension procurou acalmar os ânimos e num comunicado de imprensa garantiu que a parceria está de acordo com a Lei da Portabilidade e Responsabilidade de Seguro de Saúde (Health Insurance Portability and Accountability Act), que salvaguarda a privacidade das informações médicas. É exactamente sobre esta questão que está a agora a debruçar-se o regulador.
"Gostaríamos de obter mais informação sobre esta recolha massiva de registos médicos individuais, nomeadamente no que diz respeito à implicação para privacidade dos clientes", disse o diretor da entidade reguladora, Roger Severino à CNN Business.
Escreve a Reuters que Thomas Kurian, CEO da Google Cloud, tomou como prioridade, desde que passou a comandar esta área no gigante tecnológico no ano passado, atrair líderes de várias indústrias, incluíndo da saúde. Apesar de negócio do armazenamento na cloud (nuvem) ter margens de lucro menores, a Google procura distanciar-se das rivais Microsoft Azure e Amazon Web Services apostando na oferta de ferramentas de inteligência artificial.
A Google não explicou como está a pensar utilizar os dados da Ascension, dizendo apenas que está a fazer "testes preliminares".
Já a Ascension disse, em comunicado, que com esta parceria a infraestrutura da empresa irá "transitar para a plataforma segura, fiável e inteligente Google Cloud" e que visa ainda "explorar a inteligência artificial e aplicações de machine learning que terão o potencial de suportar melhoramentos na qualidade dos serviços clínicos, na segurança dos pacientes e na defesa de populações vulneráveis, assim como aumentar a satisfação dos consumidores e fornecedores".
As notícias em torno deste Project Nightingale coincidem com uma investigação do Financial Times (FT), publicada ontem, que dá conta que sites populares de saúde do Reino Unido partilham frequentemente dados pessoais com empresas tecnológicas, entre as quais a Google, o Facebook e a Amazon. Estes dados incluem, sintomas, diagnósticos, nomes de medicamentos e informações sobre fertilidade e até ciclos menstruais. Entre os sites visados estão o WebMD, o Healthline, o Babycentre e o Bupa.
De referir que a Google passou vários anos a desenvolver inteligência artificial capaz de analisar automaticamente ressonâncias magnéticas e outros dados de pacientes para identificar doenças e fazer previsões que possam melhorar os resultados e reduzir custos, escreve o The Guardian. É também o britânico que adianta que há cerca de 300 pessoas a trabalhar no Projetc Nightingale, metade do lado da Google e a outra metade do lado da Ascension.
Não é a primeira vez que a Google se vê envolvida numa polémica desta natureza. Em 2017, a transferência de dados de pacientes do Royal Free hospital para o projeto de inteligência artificial da empresa denominado DeepMind Health foi considerado ilegal pelo regulador britânico.
Comentários