Já este ano, Caetano Veloso, em que também assinala os 50 anos do lançamento do disco de estreia, “Domingo” (com Gal Costa), completou a digressão internacional com Teresa Cristina, um ano depois de outro périplo com Gilberto Gil, prevendo ainda reeditar o livro de memórias “Verdade Tropical”.
Em entrevista ao El País, em abril deste ano, disse sentir “alguma insatisfação”, por ser “insaciável em termos de fazer coisas na vida”. Quanto a efemérides, entende-as como “um pouco chatas”, garantiu à Folha de S. Paulo, acrescentando que se sente agora “mais anticelebratório” do que em 'datas redondas' do passado.
Talvez pela voracidade que sente, Caetano Veloso revê-se nas palavras escritas por Gilberto Gil em “Não tenho medo da morte”: “Não tenho medo da morte/mas sim medo de morrer”. Como disse em entrevista ao Estadão no ano passado: “Não estou tão seguro de que estarei presente e consciente no momento de morrer. Tenho medo, em geral, da ideia de não estar presente, de não ser”.
Nos 50 anos do músico, o cineasta Walter Salles dedicou-lhe um documentário: "O tempo não para e no entanto ele nunca envelhece", um verso da canção "Força Estranha" que se aplica ao próprio autor da letra que veio a ser usada por Roberto Carlos.
Caetano Emanuel Vianna Telles Velloso nasceu a 7 de agosto de 1942, em Santo Amaro da Purificação, Salvador. Completa 75 anos, quando se somam 50 do Tropicalismo, o movimento de modernidade da música brasileira que o reuniu a Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, aos Mutantes e a sua irmã, quatro anos mais nova e a quem escolhera o nome, Maria Bethânia.
"Tropicália ou Panis circenses", disco que reunia os nomes da corrente, foi publicado em 1968, mas a via estava definida desde o ano anterior, quando Caetano, Gil e Os Mutantes levaram "Domingo no Parque" ao Festival Record, e Caetano lançou o álbum de estreia, "Domingo", com Gal, que inclui "Alegria, Alegria".
O interesse de Caetano pela música manifestara-se cedo, mas foi nos anos 1960 que se afirmou, sobretudo através da Bossa Nova e de João Gilberto, quando cantava com a irmã em bares de Salvador, como se lê na biografia do seu 'site' oficial.
Os anos de 1963-1966 foram decisivos: estudou Filosofia na Universidade da Bahia, conheceu Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé; compôs para a peça "O Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues, e para "A Exceção e A Regra", de Bertolt Brecht; gravou o primeiro 'single'; fixou-se no Rio de janeiro.
O primeiro álbum em nome próprio - "Caetano Veloso" - é de 1968 e inclui "Tropicália" e "Soy Loco Por Ti, América".
Nesse ano, levou "É Proibido Proibir" ao Festival da TV Globo. O inconformismo valeu-lhe vaias, a desclassificação e as atenções da ditadura militar, que acabou por o deter. Na viragem para 1969, gravou o segundo "Caetano Veloso", este de capa branca, que só seria publicado quando já se encontrava no exílio, em Londres, com Gilberto Gil, companheiro de música e de prisão.
Na capital britânica, compôs para o Brasil - Gal, Bethânia, Elis Regina - e concebeu o terceiro álbum, "Caetano Veloso", onde cantou "Quero Voltar Pra Bahia". Foi publicado em 1970, cerca de dois anos antes do regresso.
Em 1973, lançou o disco experimental "Araçá Azul". A década conheceria ainda o projeto Os Doces Bárbaros, com os companheiros de sempre - Gil, Gal, Bethânia -, e, entre outros, os álbuns "Muito", "Cinema Transcendental" e "Bicho".
Nos anos de 1980 assimilou o rock e o rap, que levou para "Outras Palavras", "Cores e nomes" e "Velô". É o tempo de canções como "Ele Me Deu Um Beijo Na Boca", "Podres Poderes" e "Língua", que cantou com Elza Soares. Em 1986, montou "Chico & Caetano", para a TV Globo, dirigiu "O Cinema Falado". Atuou no Olympia, em Paris, no Festival de Montreux, estreou-se em Nova Iorque, onde gravou com Arto Lindsay.
A década de 1990 é do disco "Circuladô" e de "Fina Estampa", no qual recria clássicos latinos, com Jaques Morelenbaum. É também tempo de celebração do movimento original, com o álbum "Tropicália 2", e o livro de memórias "Verdade Tropical". Cantou "Haiti", rap social, "Cinema Novo" e "Desde Que O Samba É Samba".
Com "Livro", de 1999, que inclui "Navio Negreiro", venceu o Grammy de Melhor Álbum de World Music. Nesta altura, atuou com João Gilberto, em Buenos Aires (acabaria por produzir "João Voz E Violão"). Lançou o CD "Omaggio a Federico e Giulietta".
Participou nos filmes "Fala com Ela", de Pedro Almodóvar, e "Frida", de Julie Taymor, que lhe daria uma nomeação para o Óscar de melhor canção.
O álbum "Noites do Norte" saiu em 2000, seguido de "Eu não peço desculpas" (2002), "A foreign sound" (2004), sobre o cancioneiro norte-americano, e "Cê" (2006), onde se estreia com a bandaCê, que o acompanha na última década, num reforço do seu lado mais rock.
O blogue "Obra Em Progresso" deu origem a "Zii E Zie, Segundo Disco", em 2009, álbum em que ensaiou "transambas" e "transrock". Em 2012, lançou "Abraçaço", Grammy Latino de melhor álbum, produzido pelo filho Moreno Veloso, e que retomaria ao vivo, numa digressão que também passou por Portugal.
"Abraçaço" abre com "Bossa nova é foda". Entre outras canções, tem "O império da lei", dedicada a Dorothy Stang, missionária assassinada no Pará, em 2005, e "Um comunista", sobre o escritor militante Carlos Marighella, autor do "Manual do Guerrilheiro Urbano".
Cantar com os filhos
Na rede social Twitter, Lavigne, mulher de Caetano Veloso, escreveu apenas “Olha a turma que vem aí: Caetano, Moreno, Zeca, Tom Veloso”, acrescentando que Caetano Veloso “reuniu os filhos para montar um ‘show’ para outubro”.
Não foram adiantados mais pormenores sobre o projeto.
As atuações mais recentes de Caetano Veloso em Portugal, por onde passa com regularidade, foram nos meses de abril e maio no Coliseu do Porto e no Casino Estoril, no âmbito da digressão “Caetano apresenta Teresa”, com a cantora Teresa Cristina.
O espetáculo que apresentou em Portugal este ano, no formato voz e violão, foi semelhante ao apresentado em setembro do ano passado, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, embora o seu repertório possa mudar nos diferentes concertos.
“Eu estou sozinho com o meu violão e posso cantar qualquer música”, disse o cantor.
A digressão mundial finalizou a 19 de maio e passou por cidades como Barcelona, Madrid e Corunha (Espanha), Pádua e Roma (Itália), Antuérpia (Bélgica), Luxemburgo e Amesterdão (Holanda), entre outras.
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