Com encenação do historiador, diretor e dramaturgo Alex Cassal, “Ex-zombies: uma conferência” incorpora textos ou excertos de textos de vários autores, e centra-se na “necessidade imperiosa de a humanidade regressar ao humanismo”, disse o encenador à agência Lusa.

“O que pode afastar-nos da extinção” é, segundo o encenador e também autor do texto, ”o tipo de perspetiva que este espetáculo procura”.

A extinção da humanidade só pode evitar-se com “o regresso ao humanismo e com o regresso à relação com o outro”, defende o encenador, "admitindo que o outro é diferente, que o outro é incómodo”, frisou.

E ainda que isso acarrete dificuldades, como admite Alex Cassal, é imperioso que se desperte para esta questão. Porque “não há paraíso, um oásis em que todos vamos dar as mãos e vamos dançar de roda, e o sol vai pôr-se”, sustentou.

É antes “admitir que sim, que a relação com o outro, com o muçulmano, com o fascista de direita, com os radicais de qualquer lugar é difícil”, acentuou.

“Mas a alternativa não pode ser vamos colocá-los do lado de lá de um muro, do muro do Trump, ou vamos mandá-lo de volta para os seus países. A alternativa é difícil, mas vamos ter de achar uma”, sustentou o encenador.

Quatro atores vestem a pele de especialistas para, na Sala de Cenografia do Nacional D. Maria II, darem uma conferência de imprensa numa Lisboa à beira do abismo, já que a capital se encontra sitiada por zombies.

Zombies como metáfora do outro, do diferente. Zombies, porque Alex Cassal é apaixonado por ficção científica e já encenara este texto no Brasil, com o grupo Foguetes maravilha.

E enquanto são engolidos pelo caos, discutem temas como xenofobia, tortura, o mal e questionam por que motivo os seres humanos mantêm medos inatos.

João Grosso, Lúcia Maria e Manuel Coelho são os atores seniores do D. Maria II que protagonizam a peça, com os estagiários João Estima e Sara Inês Gigante, que vão alternado a personagem.

Integrada no ciclo “Portugal em vias de extinção”, este texto foi criado a partir de uma residência em Montemor-o-Novo e a conceção do espaço cénico e o guarda-roupa são da responsabilidade do encenador.

Zeca Afonso, Hanna Arendt, Simone de Beauvoir, Chico Buarque, Luís de Camões, Adolfo Luxúria Canibal, George Orwell e Gertrude Stein são alguns dos autores a partir dos quais foi elaborado o texto do espetáculo.

“Ex-zombies: uma conferência” vai estar em cena até 27 de março, com espetáculos à quarta-feira, às 21:30, e, de quinta a sábado, às 19:00.