O Coliseu Porto Ageas explica hoje em comunicado que Capicua, Carlos Tê e Luís de Freitas Branco, autor do livro, irão conversar sobre “os fenómenos culturais que antecederam a Revolução dos Cravos”, num encontro que terá entrada livre.
No novo livro, Luís de Freitas Branco faz “um levantamento exaustivo sobre o ano de 1971, que mudou a música popular portuguesa”, com a publicação de discos emblemáticos de nomes como José Mário Branco, Sérgio Godinho, Adriano Correia de Oliveira, Carlos Paredes e José Afonso.
O ano de 1971 foi aquele que deu à música portuguesa e à revolução a canção-senha “Grândola, Vila Morena”.
Em entrevista à agência Lusa no passado dia 13, Luís de Freitas Branco defendeu que este ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril de 1974, devia celebrar-se “toda a riqueza musical portuguesa, […] todo um repertório que contribuiu para o derrube da ditadura”.
“Não foi somente o José Afonso, o José Mário Branco e o Sérgio Godinho, que obviamente são nomes incontornáveis que estão no livro”, disse o autor de “A revolução antes da Revolução”. “A celebração do 25 de Abril, a meu ver, deve ser feita também com rock, pop, jazz, música ligeira, que também contribuíram, da mesma forma, para derrubar não só a ditadura, mas também costumes”, disse o crítico musical, consultor de comunicação e mestrando de Ciências Musicais, em entrevista à agência Lusa.
“O regime estava por um fio e o sopro inspirado da música popular portuguesa foi a banda sonora para transformações decisivas”, salienta a apresentação do Coliseu, sobre esta escuta coletiva.
“1971 foi o ano do golpe musical, com protagonismo de publicação de discos emblemáticos de José Mário Branco, Sérgio Godinho, Adriano Correia de Oliveira e Carlos Paredes, mas também de Duo Ouro Negro, Tonicha, Amália Rodrigues ou Marco Paulo, o ano do primeiro Cascais Jazz e do mítico Festival de Vilar de Mouros”, salienta o texto de apresentação, a propósito do livro “A Revolução antes da Revolução”, da editora Zigurate, de Carlos Vaz Marques.
Neste trabalho de investigação, Luís Freitas Branco faz “um levantamento rigoroso, exaustivo e em grande parte surpreendente que documenta o modo como a música popular portuguesa abriu as portas para o clima cultural, social e político que desencadeou o dia ‘inicial inteiro e limpo’ e que mudou Portugal há 50 anos”, sustenta.
Na entrevista à Lusa, Freitas Branco disse ainda acreditar que a ascensão da extrema-direita vai provocar “uma nova geração de canções de protesto”.
“Acredito que a ascensão do Chega, não tenho nenhuma dúvida disto, vai espoletar uma nova geração de canções de protesto de combate, mas também de raiva, de desalento e de tristeza”, disse o autor do livro à agência Lusa, quando questionado sobre a possibilidade de um ressurgimento de música mais interventiva, após os resultados das eleições legislativas.
Luís de Freitas Branco lembrou que tal já é visível, “de há um ou dois anos para cá, nas canções que estão a surgir sobre a crise na Habitação”, na linha de nomes como Gisela João e Capicua, sem esquecer nomes como os de A Garota Não, Luís Varatojo, Eu.Clides, embora o protesto na canção tenha estado sempre presente, como aconteceu nos anos da ‘troika’, com projetos como os Deolinda e a canção “Parva que sou”, que se tornou num hino da época.
No ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril, o Coliseu do Porto, a sala que recebeu Humberto Delgado em 1958, vários comícios opositores à ditadura e ainda o último concerto da carreira de José Afonso, associa-se às celebrações da Revolução dos Cravos com várias iniciativas ao longo do ano.
O dia 23 de abril será dedicado a discutir a liberdade no humor dos últimos 50 anos até à atualidade e a 28 de abril, os Concertos Promenade convidam as famílias a ouvirem “Canções da Liberdade”, com a Orquestra de Jazz de Espinho e as vozes de Marta Ren e JP Simões a cantarem títulos de José Afonso, Sérgio Godinho, Nina Simone ou Sam Cooke.
A entrada é livre, mediante levantamento prévio de bilhete, a partir de dia 27 de março, às 13h00, na bilheteira do Coliseu, até à hora do debate, estando a lotação sujeita à limitação do espaço.
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