Lisboa, 23 out 2023 (Lusa) –

“A Barata/Fnac foi sujeita a uma nova avaliação por parte dos serviços competentes da CML [Câmara Municipal de Lisboa], que concluíram continuar a reunir as características que lhe são distintivas”, segundo uma nota do município liderado por Carlos Moedas.

A livraria da Avenida de Roma passou em agosto a ser gerida integralmente pela cadeia francesa Fnac e “a sua principal atividade permanece assente na venda de livros, jornais, revistas e papelaria, complementada por um espaço polivalente na cave, destinado ao lançamento de livros e também para pequenos concertos”, lê-se no comunicado.

A autarquia considerou que “esta diversidade de atividades contribui para a vitalidade e atratividade da livraria, o que a torna um importante e incontornável espaço cultural e social” da cidade.

Além disso, “os elementos decorativos tradicionais, como o pavimento em calçada portuguesa, foram preservados, mantendo a autenticidade e o charme” do local.

“A Livraria Barata foi criada para ser um espaço de difusão cultural e liberdade de pensamento, incutindo nos seus frequentadores a vontade e a curiosidade pela busca do conhecimento. Com o passar dos anos, esta livraria foi-se adaptando aos tempos, para nunca perder a eficiência e a qualidade do serviço prestado aos seus clientes, nunca esquecendo, contudo, a génese que lhe é tão característica”, salientou Diogo Moura, citado na nota.

O vereador da Cultura, Economia e Inovação da Câmara de Lisboa acrescentou que o novo capítulo da agora Barata/Fnac “vem dar continuidade a esse caminho, o que, para o município de Lisboa, muito apraz que se mantenha uma Loja com História, prosseguindo” a “estratégia de revitalização do comércio de Lisboa, impactado pela pandemia da covid-19 e pela inflação”.

“Acreditamos que essa revitalização tem, naturalmente, de passar pela manutenção dos negócios identitários e tradicionais da nossa cidade, esperando, por isso, aumentar o número de negócios com a distinção de Loja com História”, referiu o autarca, estando em curso a revisão do regulamento do programa.

A histórica Livraria Barata passou em agosto a ser gerida integralmente pela Fnac, que, em comunicado, se comprometeu a “preservar e honrar a herança histórica desta Loja com História como uma instituição cultural de relevo na cidade de Lisboa”.

Desde 2020 que a Livraria Barata mantinha uma parceria com a cadeia francesa e a autarquia lisboeta, com o objetivo de tentar ultrapassar a crise que atravessava, agravada pelas restrições e confinamento impostos pela pandemia de covid-19, que a conduziu a uma perda de vendas entre 80% e 90%.

Com esta parceria tripartida, através do programa Lojas com História, pretendeu-se “preservar o património cultural e de cidadania desta livraria” e dinamizar o espaço através de uma maior oferta de produto.

Deste modo, a Fnac entrou na Livraria Barata com novos produtos que tradicionalmente o espaço não vendia tais como vinis, jogos e brinquedos, instrumentos musicais, ‘merchandising’, equipamentos de som e de telecomunicações, e outros como materiais de papelaria, numa amplitude que anos antes também tinha tido presença constante na loja.

Tratava-se de uma parceria estritamente comercial, sem que a cadeia de lojas francesa tivesse comprado qualquer parte da Barata, que manteve o nome original, acrescido da frase “powered by Fnac”.

A livraria, com o novo acordo, assumiu “a marca Fnac”, afirmou a empresa, realçando que todos os colaboradores da Fnac Avenida de Roma se vão manter.

“A digitalização e a globalização do mercado representam desafios significativos e difíceis de acompanhar. Neste sentido e, como para a Fnac estas livrarias fazem parte do património cultural, decidimos investir na Livraria Barata, assumindo a sua gestão, implementando as ferramentas informáticas e a proposta de canais digitais que disponibilizamos em todas as Fnac, mas garantindo a manutenção do seu ADN de forma a perpetuar a sua história num futuro cada vez mais exigente”, explicou Nuno Luz, diretor-geral da Fnac Portugal.

A Barata é uma empresa familiar, criada por António Barata, em 1957, com um percurso fortemente ligado à história de Lisboa, e chegou a ter uma cadeia de uma dúzia de livrarias espalhadas pela cidade, como no Instituto Superior Técnico e em Campo de Ourique.

Tudo começou na Avenida de Roma, numa pequena loja de livros, papelaria e tabacaria, e que em 1986 sofreu uma transformação arquitetónica que a tornou no espaço atual, com o seu piso em calçada portuguesa e estantes de inspiração modernista.

A livraria classificada Loja com História nasceu “nas brumas da ditadura”, e foi-se tornando um espaço de comunhão literária, mas também de resistência, de busca e partilha de conhecimento e informação, segundo a descrição da própria livraria.

Esse posicionamento valeu ao seu fundador a perseguição da polícia política da ditadura, PIDE, mas nem assim fechou as portas, alimentando sempre um espaço de cultura e de pensamento livre.

Criada à imagem das “grandes livrarias independentes, herdeiras da Europa das Luzes, precursoras da alfabetização e da promoção do conhecimento, numa lógica plural, humanista e universalista”, a Barata evoluiu em dimensão e oferta, apostando no ensino técnico e na vertente infantojuvenil.