A peça resulta de uma adaptação teatral do romance da escritora francesa Christine Angot, feita pela própria autora, e Maria de Medeiros vai contracenar com Bulle Ogier, que considera “uma atriz mítica do cinema francês e não só”, como afirmou à Lusa, referindo-se à protagonista de “Mon Cas” (1986) e “Belle Toujours” (2006), de Manoel de Oliveira.

“Um Amor Impossível” aborda a difícil história de amor entre uma mãe, Rachel, e uma filha, Christine, que, reunidas após anos de conflito, evocam um passado que as separou, “uma tragédia moderna”, tendo como pano de fundo os abusos do pai à filha.

“Há várias interpretações, obviamente. Será o amor entre a mãe e a filha que é difícil de recompor depois de que a verdade vem à tona, quando a mãe se dá conta do horror que a filha viveu? Como recuperar esse amor que é absolutamente imenso?”, descreveu Maria de Medeiros.

O título faz também referência ao “amor impossível” entre Christine e o pai, assim como à relação entre Rachel e o companheiro, oriundos de classes sociais diferentes e que vivem também “um amor impossível”, explicou a atriz que vai interpretar o papel da filha, a própria escritora Christine Angot.

“Fazer o papel de uma pessoa que está não só viva, mas vivíssima, é muito complexo. Uma pessoa que se autodescreve nos seus livros. E encarnar essa pessoa já é complicado, mas depois eu faço o papel dos oito anos aos 50. Sempre adorei interpretar as crianças, mas devo dizer que fazer uma criança de oito anos é cansativo porque é muita correria, muitos saltos, já começa a ser uma coisa assim atlética”, contou a atriz à Lusa, entre sorrisos.

A atriz vai regressar ao palco onde atuou em 1992, com a peça “La vie est un songe” (“A Vida É Sonho”), de Calderon de la Barca, encenada por José Luis Gomez, e mostrou-se “muito feliz por voltar ao teatro em Paris mesmo”, depois de três anos em que passou “muito tempo no Brasil”, com a digressão da peça “Aos Nossos Filhos”, de Laura Castro, que vai transformar em filme, assim que terminar a temporada em Paris.

“Tem a ver com novas formas familiares, as crianças nos casais gay, porque a Laura tem três filhos com a companheira dela e cada uma fez uma inseminação com um doador anónimo e adotaram a terceira criança. Então foi extremamente interessante, tanto que escrevemos um guião de cinema e, quando acabar aqui a peça, em princípio, vou para o Brasil para arrancar com o filme”, avançou.

No ano passado, Maria de Medeiros esteve em cartaz no Festival de Avignon com a peça “Les Bêtes”, de Charif Ghattas, passou por Paris, na 4.ª Noite da Literatura, para ler excertos do livro “O meu amante de domingo”, de Alexandra Lucas Coelho, e esteve no México a rodar o filme “Dos Fridas”, da cineasta Ishtar Yasin Gutiérrez, no qual interpreta o papel de Judith Ferreto, a enfermeira que cuidou de Frida Khalo nos últimos anos da sua vida.

“É sobre a enfermeira da Frida Kahlo que também foi enfermeira do Diego Rivera e, curiosamente, era uma enfermeira muito especial porque só tratava de génios, assim de grandes artistas. Ela própria tinha um universo cheio de fantasia, era uma pessoa que escrevia muito bem e – quase como todas as pessoas que conviveram com Frida – teve um fascínio total pela Frida”, descreveu a protagonista do filme que deverá estrear este ano.

Apesar das ameaças de terrorismo que pesam sobre França, a atriz não receia subir ao palco em Paris, porque “a cultura não se pode calar”: “Acho que, como todos os parisienses pensam, que a cultura não se pode calar, pelo contrário. A cultura é a melhor forma de resistirmos a toda a opressão. Neste momento todos os teatros têm regras de segurança. Confio na segurança e acho que é preciso continuar.”

A atriz, que entrou em “Pulp Fiction”, de Quentin Tarantino, e “Henry and June”, de Philip Kaufman, vive entre Paris e Barcelona, e tem “muitas saudades de Portugal”, mas considera que os portugueses sabem “conviver com a saudade” e fazer dela uma “art de vivre”.

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