"A maior parte dos autores em Portugal são masculinos, mas não há homens a escrever sobre mulheres, e faz falta falar de mulheres", afirmou à agência Lusa, poucos dias antes da apresentação do livro na embaixada de Portugal no Reino Unido, a 14 de março, com o apoio da Anglo-Portuguese Society.

A escritora considera que a personalidade da inglesa Ginnie Dennistoun, que adotou o nome artístico de Virginia Montsol, contribuiu muito para o sucesso do livro.

Editado pela primeira vez em julho de ano passado e, esgotados os primeiros 3.000 exemplares, teve uma reedição de mais 1.000 cópias dois meses mais tarde, em setembro.

"A mulher é um tema forte, e este livro é sobre uma mulher que sai de Inglaterra para Portugal, que sai da sua cultura para se integrar noutra, e de certa forma identifico-me com ela, porque fiz o percurso inverso", contou Clara Macedo Cabral, que vive em Londres há 14 anos.

"A Inglesa e o Marialva" conta a história de Ginnie Dennistoun, que partiu para Portugal em 1962, com 21 anos, com o objetivo de aprender a tourear, aproveitando a experiência que adquiriu ainda em Inglaterra na família de criadores de cavalos.

O livro conta também a relação amorosa com o professor de equitação Alberto Lopes, vinte anos mais velho, e a qual manteve mais ou menos escondida devido aos costumes conservadores da época.

A narrativa, baseada em factos verídicos contados pela família e por conhecidos, foi completada com elementos ficcionais e com detalhes históricos do Portugal da ditadura do Estado Novo e da cultura tauromáquica do Ribatejo.

A alusão ao Liceu Sá da Bandeira, atual Escola Secundária Sá da Bandeira, mereceu a escolha do livro para o Plano Nacional de Leitura do estabelecimento, que celebra 175 anos e já tinha sido mencionado nas "Viagens na Minha Terra", de Almeida Garrett.

As referências a figuras históricas da tauromaquia e da região, conhecida pela tradição equina, levaram a convites para a apresentação do livro, no ano passado, durante a Feira do Cavalo e de São Martinho, na Golegã, e no próximo dia 20 de abril, num evento no Convento de Santo António, na Chamusca, que terá também uma exibição equestre.

A escritora mantém no entanto a esperança de conseguir editar a obra em língua inglesa, o que considera fazer sentido no contexto da saída do Reino Unido da União Europeia a 29 de março.

"Escrevi este livro quando saiu o resultado do referendo do 'Brexit' [em 2016], e interessou-me a personagem por ser representante de uma maneira de ser inglesa que não se deixa ficar na ilha, mas que que gosta de ir à aventura e de estabelecer relações com o mundo", explicou.

Clara Macedo Cabral é autora também das coletâneas de crónicas "Há Raposas no Parque" (2009) e "O Inverno das Raposas" (2011) e do livro infantil bilingue "Lisbon Story" (2013).